ÁGUA
Desperdício coloca Macapá em último lugar no ranking nacional
Especial TA
O desperdício de água em Macapá chega a um
percentual inacreditável, considerando a média de outras capitais do País. São
jogados fora, aqui, nada menos que 74% do que vai para as torneiras, enquanto
no resto do Brasil, esta média não chega a 37%. A informação divulgada durante
as programações da Semana da Água, veio do Instituto Trata Brasil, sediado em
São Paulo e especializado em estudos sobre qualidade de água, saneamento e
problemas trazidos pela falta destes dois benefícios necessários à saúde da
população.
Presidente da CAESA Ruy Smith |
Ruy Smith, ex-deputado estadual pelo PSB, que
assumiu a Companhia de Água e Esgoto do Amapá em 2011 atribui o fato às
ligações clandestinas espalhadas pelos 60 bairros da cidade. Os “gatos”,
desvios feitos na rede de abastecimento, existem em duas situações; para
driblar o registro de consumo dos medidores ou garantir o abastecimento de
forma clandestina, quando a tubulação é ligada de um ponto onde existe o
produto a outro que não tem. Nos dois casos, o prejuízo para a Caesa é certo,
tanto financeiro quanto no consumo sem controle.
Smith considera que tais ligações são mais comuns
nas áreas de ressaca localizadas na periferia, mas não descarta “gatos” em
áreas nobres. Segundo ele, junto ao consumo clandestino, os vazamentos no
sistema de tubulações são o segundo maior problema enfrentado pela companhia.
Ele reafirma o que disse o ITB, de que para cada três ligações feitas de forma
legal, por uma das equipes da Caesa, existe uma clandestina. Para completar a
cadeia de problemas que envolvem o desperdício, a falta de consciência de
grande parte dos consumidores não conhece limites. Muitos pagam uma taxa mínima
de R$13, mas desperdiçam o triplo ou o quádruplo disso. A utilização da água
vai para tarefas como lavar calçadas, veículos, fachadas de residências e até
deixar mangueiras no meio da rua ligadas para amenizar a poeira. “São situações
absurdas que podem ser presenciadas simplesmente dando um passeio pela cidade.
A maioria das pessoas não tem consciência da correta utilização da água potável
e isso é lamentável”, disse o diretor.
Por várias vezes, o investimento em publicidade com
campanhas locais tratando do desperdício e suas consequências foi uma tentativa
de corrigir ou ao menos amenizar o problema, mas o resultado não chegou ao
esperado. O amapaense preferiu continuar jogando água fora até o estudo mais
recente feito pelo ITB.
Cercada por ressacas hoje destruídas pelo
crescimento desordenado de sua população, Macapá tem vários bairros com
deficiência crônica no abastecimento de água. É nestes locais citados pela
direção da Caesa, que estão os vilões do desperdício e da deficiência na
arrecadação da empresa, os “gatos”. As casas localizadas nestas áreas alagadas
geralmente não pagam o consumo do produto, outras se encaixam na condição de
consumidores de taxa mínima. Juntando o desperdício à imensa quantidade de
palafitas abastecidas com desvios, chega-se a outro problema crônico, a falta
de arrecadação que tem colocado a companhia no vermelho por longos anos. Os
investimentos com recursos próprios não existem e o abastecimento ofertado é
deficiente. Os 72 mil metros cúbicos por minuto produzidos pela Caesa ficam
muito aquém do consumo de uma população que só na capital chega a pouco mais de
400 mil habitantes, de acordo com o IBGE/2012.
Sem
faturamento - Diante deste quadro, o Amapá também foi colocado no ranking de perdas
no faturamento e novamente com um percentual negativo surpreendente de 73%,
entre 100 outros estados. Do que arrecada, apenas 25% é receita. Por mês, as
despesas da Caesa representam R$3,2 milhoes, enquanto sua arrecadação é de R$ 2
milhões. O prejuízo é de R$1,2 milhoes, repetido durante os 12 meses do ano. Para
se ter uma ideia, de cada três consumidores da capital, apenas dois têm
inscrição no cadastro de faturas e só a metade disso paga a conta mensal, o que
coloca o número de inadimplentes maior que o de clandestinos. Os dados são do
Setor Comercial da Caesa, que também fez um mapa que indica onde estão os
maiores índices de inadimplência.
De acordo com o detalhamento, os bairros
localizados na zona Norte da cidade, e que somam mais de 20, são os que mais
devem. Chegando ao interior do Estado, o quadro é ainda pior. O percentual de
consumidores inadimplentes chega a 92%. É o caso do município de Amapá. Os
custos da companhia saltaram de R$ 8 mil para algo em torno de R$ 25 mil ao
mês. Mais uma vez, gastos bem acima da arrecadação. A saída encontrada foi
curiosa, apelar para a boa vontade de quem tem água na torneira. A comunidade
já adiantou que não pretende pagar qualquer fatura alegando a má qualidade do produto
que vem saindo das torneiras.
A solução parece estar bem longe de ser alcançada. Outro
levantamento revela que em muitas comunidades, a condição financeira dos
consumidores impossibilita o pagamento das faturas. Nestes casos, os técnicos
sugerem o subsídio vindo por parte do município em questão ou do governo.
Difícil de resolver, a inadimplência da Companhia
de Água e Esgoto do Amapá é uma das mais tolerantes do país. Antes da gestão de
Ruy Smith, planos de parcelamento sempre foram organizados e colocados em
prática. O atrativo para o consumidor se interessar em quitar a dívida era o
número de parcelas. A fórmula está sendo reeditada. Quem procurar o Setor
Financeiro para pagar o que deve, vai poder parcelar o valor em até 50 meses. Do
ano passado, até os primeiros três meses deste ano, o número de consumidores
que procurou a companhia foi bem abaixo do esperado. A última cartada será um
“tratamento de choque”, onde o corte no abastecimento é anunciado a quem não
pagar suas dívidas.
Previsões otimistas - Apesar de tantos problemas, as projeções
futuras são otimistas. De acordo com Smith, o Estado tem planos de investir
mais de R$132.9 milhões para ampliar o sistema de abastecimento em Macapá. O
dinheiro vem da segunda edição do Plano de Aceleração do Crescimento do Governo
Federal, o PAC II. O objetivo é tornar duas vezes mais forte a captação,
tratamento e distribuição na capital. Em uma rápida avaliação do que é o
sistema de água encontrado hoje em Macapá, pode-se concluir que em muitos
bairros o produto não chega e em outros o abastecimento é deficiente e passa
por reparos.
A
direção da Caesa aposta na construção de uma nova estação de tratamento e
recuperação de duas que já haviam. Os reservatórios, depois de prontos irão
ampliar a capacidade dos atuais 8,5 mil litros, para 34,5 mil. O balanço da
companhia ainda revela a aquisição de bombas novas e 67 Km de rede para
distribuição. Por enquanto, as apostas são somente para o futuro. No presente,
a Caesa é uma companhia com recursos apenas para comprar produtos químicos que
tratam a água que chega às torneiras do amapaense, pagar a folha de
funcionários, tentar resolver sua inadimplência que a mantém no vermelho. E
fechem suas torneiras, que jorrando sem controle colocaram o Amapá como o
estado brasileiro líder no desperdício.
Município
é o último colocado em rede de esgoto
O
mesmo instituto que revelou o Amapá com o percentual de 74% de desperdício de
água, classificando o estado como um dos últimos colocados no ranking nacional
quando o assunto é economia, já havia abordado o tema saneamento. Desta vez, a
posição da capital, Macapá, ficou ainda mais longe, precisamente a última. O
Trata Brasil pesquisou cem municípios de estados de Norte a Sul do País. Vinte
e seis itens foram considerados e vão de Indicador de Atendimento Total de
Água, a Novas ligações de Esgoto.
Macapá
aparece em 100º lugar, atrás de todas as cidades dos Estados da Região Norte.
Os percentuais são insignificantes. No item Investimento, que considera milhões
de reais ao ano, a cidade aparece com percentual de 0,12, enquanto Porto Velho,
o 99º colocado aparece com 1,40. Quando se trata de receita anual, o percentual
de Macapá chega a 18,44, contra 32,86 de Porto Velho. No tópico Novas Ligações
de Esgoto, Macapá aparece com 49, e Porto Velho tem 457.
O
estudo focou exclusivamente o detalhamento da coleta de esgotos, com base na
população que se utiliza da água tratada. As operadoras ficaram responsáveis de
repassar as informações, a exemplo da destinação do esgoto. Em todo o país, 77
milhões de pessoas que residem nas 100 cidades pesquisadas fizeram parte do
trabalho.
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