sexta-feira, 29 de março de 2013

















ÁGUA 
Desperdício coloca Macapá em último lugar no ranking nacional

José Marques Jardim
Especial TA

O desperdício de água em Macapá chega a um percentual inacreditável, considerando a média de outras capitais do País. São jogados fora, aqui, nada menos que 74% do que vai para as torneiras, enquanto no resto do Brasil, esta média não chega a 37%. A informação divulgada durante as programações da Semana da Água, veio do Instituto Trata Brasil, sediado em São Paulo e especializado em estudos sobre qualidade de água, saneamento e problemas trazidos pela falta destes dois benefícios necessários à saúde da população.
Presidente da CAESA Ruy Smith

Ruy Smith, ex-deputado estadual pelo PSB, que assumiu a Companhia de Água e Esgoto do Amapá em 2011 atribui o fato às ligações clandestinas espalhadas pelos 60 bairros da cidade. Os “gatos”, desvios feitos na rede de abastecimento, existem em duas situações; para driblar o registro de consumo dos medidores ou garantir o abastecimento de forma clandestina, quando a tubulação é ligada de um ponto onde existe o produto a outro que não tem. Nos dois casos, o prejuízo para a Caesa é certo, tanto financeiro quanto no consumo sem controle.

Smith considera que tais ligações são mais comuns nas áreas de ressaca localizadas na periferia, mas não descarta “gatos” em áreas nobres. Segundo ele, junto ao consumo clandestino, os vazamentos no sistema de tubulações são o segundo maior problema enfrentado pela companhia. Ele reafirma o que disse o ITB, de que para cada três ligações feitas de forma legal, por uma das equipes da Caesa, existe uma clandestina. Para completar a cadeia de problemas que envolvem o desperdício, a falta de consciência de grande parte dos consumidores não conhece limites. Muitos pagam uma taxa mínima de R$13, mas desperdiçam o triplo ou o quádruplo disso. A utilização da água vai para tarefas como lavar calçadas, veículos, fachadas de residências e até deixar mangueiras no meio da rua ligadas para amenizar a poeira. “São situações absurdas que podem ser presenciadas simplesmente dando um passeio pela cidade. A maioria das pessoas não tem consciência da correta utilização da água potável e isso é lamentável”, disse o diretor.

Por várias vezes, o investimento em publicidade com campanhas locais tratando do desperdício e suas consequências foi uma tentativa de corrigir ou ao menos amenizar o problema, mas o resultado não chegou ao esperado. O amapaense preferiu continuar jogando água fora até o estudo mais recente feito pelo ITB.


Cercada por ressacas hoje destruídas pelo crescimento desordenado de sua população, Macapá tem vários bairros com deficiência crônica no abastecimento de água. É nestes locais citados pela direção da Caesa, que estão os vilões do desperdício e da deficiência na arrecadação da empresa, os “gatos”. As casas localizadas nestas áreas alagadas geralmente não pagam o consumo do produto, outras se encaixam na condição de consumidores de taxa mínima. Juntando o desperdício à imensa quantidade de palafitas abastecidas com desvios, chega-se a outro problema crônico, a falta de arrecadação que tem colocado a companhia no vermelho por longos anos. Os investimentos com recursos próprios não existem e o abastecimento ofertado é deficiente. Os 72 mil metros cúbicos por minuto produzidos pela Caesa ficam muito aquém do consumo de uma população que só na capital chega a pouco mais de 400 mil habitantes, de acordo com o IBGE/2012.

Sem faturamento - Diante deste quadro, o Amapá também foi colocado no ranking de perdas no faturamento e novamente com um percentual negativo surpreendente de 73%, entre 100 outros estados. Do que arrecada, apenas 25% é receita. Por mês, as despesas da Caesa representam R$3,2 milhoes, enquanto sua arrecadação é de R$ 2 milhões. O prejuízo é de R$1,2 milhoes, repetido durante os 12 meses do ano. Para se ter uma ideia, de cada três consumidores da capital, apenas dois têm inscrição no cadastro de faturas e só a metade disso paga a conta mensal, o que coloca o número de inadimplentes maior que o de clandestinos. Os dados são do Setor Comercial da Caesa, que também fez um mapa que indica onde estão os maiores índices de inadimplência.

De acordo com o detalhamento, os bairros localizados na zona Norte da cidade, e que somam mais de 20, são os que mais devem. Chegando ao interior do Estado, o quadro é ainda pior. O percentual de consumidores inadimplentes chega a 92%. É o caso do município de Amapá. Os custos da companhia saltaram de R$ 8 mil para algo em torno de R$ 25 mil ao mês. Mais uma vez, gastos bem acima da arrecadação. A saída encontrada foi curiosa, apelar para a boa vontade de quem tem água na torneira. A comunidade já adiantou que não pretende pagar qualquer fatura alegando a má qualidade do produto que vem saindo das torneiras.
A solução parece estar bem longe de ser alcançada. Outro levantamento revela que em muitas comunidades, a condição financeira dos consumidores impossibilita o pagamento das faturas. Nestes casos, os técnicos sugerem o subsídio vindo por parte do município em questão ou do governo.
Difícil de resolver, a inadimplência da Companhia de Água e Esgoto do Amapá é uma das mais tolerantes do país. Antes da gestão de Ruy Smith, planos de parcelamento sempre foram organizados e colocados em prática. O atrativo para o consumidor se interessar em quitar a dívida era o número de parcelas. A fórmula está sendo reeditada. Quem procurar o Setor Financeiro para pagar o que deve, vai poder parcelar o valor em até 50 meses. Do ano passado, até os primeiros três meses deste ano, o número de consumidores que procurou a companhia foi bem abaixo do esperado. A última cartada será um “tratamento de choque”, onde o corte no abastecimento é anunciado a quem não pagar suas dívidas.
Previsões otimistas - Apesar de tantos problemas, as projeções futuras são otimistas. De acordo com Smith, o Estado tem planos de investir mais de R$132.9 milhões para ampliar o sistema de abastecimento em Macapá. O dinheiro vem da segunda edição do Plano de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, o PAC II. O objetivo é tornar duas vezes mais forte a captação, tratamento e distribuição na capital. Em uma rápida avaliação do que é o sistema de água encontrado hoje em Macapá, pode-se concluir que em muitos bairros o produto não chega e em outros o abastecimento é deficiente e passa por reparos.
A direção da Caesa aposta na construção de uma nova estação de tratamento e recuperação de duas que já haviam. Os reservatórios, depois de prontos irão ampliar a capacidade dos atuais 8,5 mil litros, para 34,5 mil. O balanço da companhia ainda revela a aquisição de bombas novas e 67 Km de rede para distribuição. Por enquanto, as apostas são somente para o futuro. No presente, a Caesa é uma companhia com recursos apenas para comprar produtos químicos que tratam a água que chega às torneiras do amapaense, pagar a folha de funcionários, tentar resolver sua inadimplência que a mantém no vermelho. E fechem suas torneiras, que jorrando sem controle colocaram o Amapá como o estado brasileiro líder no desperdício.

Município é o último colocado em rede de esgoto

O mesmo instituto que revelou o Amapá com o percentual de 74% de desperdício de água, classificando o estado como um dos últimos colocados no ranking nacional quando o assunto é economia, já havia abordado o tema saneamento. Desta vez, a posição da capital, Macapá, ficou ainda mais longe, precisamente a última. O Trata Brasil pesquisou cem municípios de estados de Norte a Sul do País. Vinte e seis itens foram considerados e vão de Indicador de Atendimento Total de Água, a Novas ligações de Esgoto.
Macapá aparece em 100º lugar, atrás de todas as cidades dos Estados da Região Norte. Os percentuais são insignificantes. No item Investimento, que considera milhões de reais ao ano, a cidade aparece com percentual de 0,12, enquanto Porto Velho, o 99º colocado aparece com 1,40. Quando se trata de receita anual, o percentual de Macapá chega a 18,44, contra 32,86 de Porto Velho. No tópico Novas Ligações de Esgoto, Macapá aparece com 49, e Porto Velho tem 457.
O estudo focou exclusivamente o detalhamento da coleta de esgotos, com base na população que se utiliza da água tratada. As operadoras ficaram responsáveis de repassar as informações, a exemplo da destinação do esgoto. Em todo o país, 77 milhões de pessoas que residem nas 100 cidades pesquisadas fizeram parte do trabalho.

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