sábado, 16 de março de 2013

Análise - O voo de galinha: os números do Amapá


Onde posso me debruçar sobre os números que retratam os vários cenários do Amapá? Certamente, fica difícil alguém me recomendar um local, um centro de estudos ou até mesmo um endereço virtual. Simplesmente porque os números do Amapá são invisíveis, esta lacuna está vaga, ainda está por fazer. Não é possível ver esta fotografia. Para   dispormos dela, será necessário começarmos um grande quebra-cabeças, montando peça por peça, e ainda assim não vamos ter um fotografia com a qualidade que queremos.

Sabem por que?
Porque os números que retratam os vários cenários do Amapá, são lançados na imprensa apenas de forma midiática, sem o devido tratamento e estudo metodológico, fundamentado na pesquisa, para que possa se transformar em diagnósticos e relatórios, com o objetivo de se tornar uma ferramenta para implementação de políticas públicas.

A produção de informações é fundamental para que a sociedade possa acompanhar as ações desenvolvidas pelos gestores nas diversas áreas de atuação, em especial no  serviço público, e que elas sejam elaboradas de forma transparente. A transparência não é somente apresentar os dados finais, mas sim mostrar como eles foram construídos a cada etapa. É preciso ter validade científica, e, portanto, um registro oficial.

Atualmente, nos deparamos, aqui no Amapá, com fontes de informações das mais diversas, mostrando a evolução de números nos diversos cenários envolvendo a nossa população, muitos deles produzidos pela máquina oficial, outras por estudiosos, jornalistas que vivem o cotidiano local e a imprensa de forma geral. Porém, tudo acaba se transformando em um nada, pois não há por parte do Estado um aproveitamento do que é produzido ou debatido, visando transformar o quadro atual.

Resta-nos, ao final, mostrar as informações que dispomos e que retratam a realidade de gestores pouco comprometidos, com planejamentos imediatistas, nanicos, idênticos a um voo de galinha. Então, nos transformamos nos que pregam a desgraça do "quanto pior melhor". Mas quando se trata de alguém que não é daqui das terras tucujus, apresentando   um trabalho de qualquer área, mesmo que seja copiado e mal adequado às necessidades locais, este é visto de outra forma e ganha robustez.

Leio hoje nos jornais, e escuto também os debates pelo rádio, sobre a redução em 34,48% no índice de homicídios em Macapá. Não se sabe como o Governo do Estado chega a estes números, também não sabemos como os dados são levantados e analisados, mas temos a certeza de que a nossa capital, Macapá, está ficando cada vez mais violenta. São assaltos, assassinatos e já se fala em crime por encomenda, coisa incomum anteriormente.

Analisando os dados contidos no Mapa da Violência 2012 (www.mapadaviolencia.org.br), as informações lá contidas indicam que o último ano estudado foi 2010. Os dados foram os únicos que encontrei disponíveis, abordando a violência no Amapá. O objetivo é bem claro: confundir a população e provocar manchetes nas primeiras páginas.

Com relação a este tema, a obra "Introdução à Estatística" de Thomas H. Wannacott e Ronald J. Wannacott, é iniciada com a seguinte frase  de Andrew Lang: "Use a Estatística do mesmo modo que um bêbado usa os postes - mais pelo apoio do que propriamente pela iluminação".
O estado do Amapá deve ser o único a não possuir um órgão produtor de informações estatísticas, porém, na década de 1980 existia a Divisão de Geografia Estatística - DGE, vinculado a Secretaria de Planejamento, que depois foi engolido por gestor com pouca visão para o futuro.

Há necessidade que o Governo do Estado do Amapá, avoque para si a responsabilidade pela produção e coordenação de informações estatísticas, associadas à cartografia e ao geoprocessamento, com profissionais treinados e capacitados, com investimento em tecnologias e com convênio de cooperação técnica com instituições de  excelência. Estaria com isso, dando um grande salto ao desenvolvimento ao invés de patinar e não sair do lugar.

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