sábado, 16 de março de 2013

Artigo do Tostes - Eterna "queda de braço" entre o governo e a prefeitura


A cada ano a população acompanha atentamente a relação entre governo e prefeitura, historicamente tem sido assim. Em períodos anteriores a criação do estado do Amapá, o governador nomeava o prefeito, supostamente facilitava o processo de implementação de políticas públicas para a área urbana, não havia concorrência política direta e de natureza partidária. O último prefeito de Macapá nomeado foi Murilo Pinheiro, para muitos considerado um bom prefeito, contexto viabilizado em função do apoio da máquina estatal governamental.

O primeiro prefeito eleito da cidade de Macapá foi Raimundo Azevedo Costa, neste período começaram as divergências entre governador e prefeito, o governador do Amapá era Jorge Nova da Costa. Os "famosos" buracos da cidade de Macapá começam a aparecer exatamente na administração de Costa, relatos da época, dão conta que a situação da cidade ficou insustentável, motoristas de taxi cobravam o dobro do valor da corrida se tivessem que passar pela Rua Hamilton Silva. A malha viária da cidade começou a ficar deteriorada exatamente entre 1988 a 1990, logo após a criação do estado do Amapá e da efetivação do primeiro prefeito eleito para a capital.

Neste período, Macapá ainda não estava totalmente influenciada pelos fatores migratórios que foram intensos durante toda a década de 1990, mas, começa um enredo bem conhecido da população nestes 24 anos, a "queda de braço" entre o prefeito e governador, nem sempre eleitos do mesmo partido ou coligação, raros foram os momentos em que o prefeito e governador comungavam dos mesmos interesses. Na época do prefeito João Alberto Capiberibe e do governador Aníbal Barcellos foi o período onde a rivalidade ficou mais acirrada e com efeitos prejudiciais quase sempre para a população da cidade de Macapá, ficou definitivamente configurada a deterioração da malha viária, a cada inverno rigoroso, o sistema viário ia ficando pior.

Na década do novo milênio as coisas se inverteram, o prefeito era Aníbal Barcellos e o governador João Alberto Capiberibe, apenas mudaram de posição institucional e a "queda de braço "se acentuou em função da imensa rivalidade pessoal e política de tempos anteriores. O prefeito eleito João Henrique foi o primeiro a ter oito anos de mandato, portanto, com boas oportunidades de conseguir atenuar os problemas cruciais da cidade e a problemática do sistema viário da cidade. Os dois primeiros anos de mandato coincidiram com o apoio do governo. Após ocorrer a ruptura de João Henrique com PSB, os prejuízos para a cidade de Macapá se acentuaram, com a entrada do governador Waldez Góes, e a aproximação de João Henrique vislumbrava-se dias melhores para o desenvolvimento de Macapá, pouco ocorreu de concreto.

Deve-se ressaltar algo que a população precisa estar atenta para que se faça uma avaliação mais criteriosa sobre este assunto, com excessão do período do Território Federal do Amapá em que o governador nomeava o prefeito, nunca houve uma relação amistosa e de confiança entre governadores e prefeitos. Um dos fatores que contribuíram para isso está no sistema brasileiro que elege mandatários a cada dois anos, criando um sistema viciado, prevalece os interesses pessoais e políticos. João Henrique e Waldez Goes tinham tudo para reorganizar a cidade de Macapá, mas ambos foram envolvidos em vários problemas e acabaram não dando sequência a este processo.
O novo prefeito de Macapá após João Henrique foi Roberto Goes, teve a oportunidade igualmente nos dois primeiros anos de ter um forte aliado, o próprio governador, porém, múltiplos problemas institucionais mais uma vez contribuíram para acelerar o grau de deterioração da cidade de Macapá,maior feito do prefeito foi a construção do Conjunto Mucajá, entretanto, a cidade foi deixada com dificuldades, e sem os recursos necessários para a implementação de políticas públicas duradouras, os dois últimos anos de Goes na prefeitura coincidem com o mandato inicial do governador Camilo Capiberibe, ambos haviam sido adversários na campanha para prefeito da capital. A relação entre ambos foi praticamente nula neste período.

Chegamos então ao estágio atual de 2013, o prefeito eleito de Macapá, agora  é Clesio Luis, eleito com o apoio de vários segmentos institucionais e políticos derrotando o prefeito Goes. Clécio encontra uma prefeitura "arrasada" e sem condições de fazer frente aos problemas crônicos, mais uma vez aparece a "queda de braço"entre prefeito e governador, apesar do apoio do partido do governador nas eleições de 2012,  surge a síndrome da desconfiança em função do quadro eleitoral para 2014. Verifica-se uma série de declarações em relação ao assunto, inclusive de autoridades do partido do governador, cada prefeito que entrou na prefeitura "herdou"os buracos ao longo da história. Na prática, um recado para o prefeito Clécio se virar e tomar as providências necessárias cobradas pela população da cidade de Macapá.

No trajeto de 1988 a 2013, as evidencias mostram um cenário "cruel" para à cidade de Macapá, percebemos neste período, independente de quem era o prefeito ou governador acontecer o seguinte: nenhum plano diretor foi aplicado de fato; a malha viária não ficou deteriorada, ficou destruída; Macapá foi à única capital que não implantou o cadastro técnico multifinalitário;  invasão acentuada de áreas úmidas; crise no transporte público; problemas para regularização da gleba urbana; inexistência de geração de emprego e renda com projetos arrojados previstos em planos diretores anteriores, e por fim, a perda de qualidade de vida urbana.

Os governadores são culpados desta situação? Parcialmente sim, neste período, os governadores não passavam os recursos que eram de direito do município, como parte do IPVA, recursos de convênios, entre outros, além de dificultarem ações institucionais que eram de responsabilidade do município. É preciso dizer que: não cabe apenas afirmação de que os buracos são a herança maldita dos prefeitos, Macapá concentra mais de 60% da população do estado do Amapá, maior parcelas dos problemas estão na capital. Os governadores institucionalmente não cumpriram adequadamente o seu papel, portanto, também são responsáveis  pela deterioração da cidade de Macapá.

Então, qual é o futuro da cidade de Macapá? Não tem funcionado o fato de que prefeito e governador sejam do mesmo partido. O Amapá é o estado onde os municípios não tem nenhum tipo de consorcio municipal, durante muito tempo os prefeitos de Macapá e Santana foram João Henrique e Nogueira, ambos do Partido dos Trabalhadores, mesmo assim, nada aconteceu. No estágio atual, prefeito e governador devem dialogar para verificar os interesses públicos estão por cima dos interesses pessoais e partidários. Macapá é uma cidade privilegiada e bela, mas, os gestores não mudam a postura antidemocrática de penalizar a população por conta de rivalidades ultrapassadas, só mancham a história deste lugar.

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