
O decair da
universidade federal segue os mesmos três movimentos empregados no declínio da
escola estadual que foram o aumento do número de alunos atendidos sem a
respectiva ampliação de investimentos e profissionais; o suporte do estado para
fortalecer a educação privada e a desvalorização e desmotivação dos
profissionais via salário e carreira (Ver "Déjà vu?":
http://tribunaamapaense.blogspot.com.br/2013/03/entrelinhas-deja-vu.html).
No caso das
universidades, sob o slogan "educação para todos", o governo
apresentou o REUNI, plano de reestruturação e expansão das universidades
federais. O orçamento destas há muito era insuficiente e, maliciosamente, o
governo apresentou o REUNI como promessa de construção e reforma de prédios e
aumento de 20% nos recursos. Na ânsia pelos recursos, os reitores atropelaram
suas universidades e aprovaram seus projetos, muitas vezes sem discussão, como
ocorreu na UNIFAP. Subitamente as universidades passaram a ter alguns prédios
em construção e o dobro de alunos. Nesta condição e com apenas 20% a mais no
orçamento, as dificuldades se avolumaram. Sucateamento da infraestrutura,
insuficiência de recursos, salas superlotadas, professores sobrecarregados e queda
na qualidade do serviço prestado se tornaram, mais que nunca, a realidade! O
desmonte da universidade federal se estabelece!
O suporte do
Estado às instituições privadas, segundo movimento, veio na forma de políticas
apresentadas sob um discurso progressista. Estas, embora tragam ganhos pontuais
para as poucas pessoas atendidas, de fato, não trazem benefícios à população.
Alegando não conseguir arrecadar os impostos das universidades particulares, o
governo propôs o PROUNI, isenção fiscal para instituições particulares em troca
de vagas para alunos. Em 2013 esta isenção deverá alcançar R$ 1 bilhão, valor
que permitiria manter muito mais alunos na universidade federal do que os
atendidos pelas particulares. Não bastasse abrir mão dos impostos destas instituições
e beneficiá-las com a ocupação de suas vagas ociosas, era preciso injetar
recursos no caixa das mesmas. Então, amplia-se o FIES, financiamento estudantil
em que o aluno assume uma dívida com o governo federal e repassa os recursos às
instituições particulares. O fortalecimento da educação privada se consolida!
O terceiro
movimento, expulsar os bons profissionais e empurrá-los para a esfera privada
se estabelece com baixos salários e desmotivação. Os salários do magistério
superior federal vêm despencando vertiginosamente quando comparados com os de
qualquer carreira da esfera federal. A remuneração só é relativamente
interessante no final da carreira e se o professor tiver doutorado e for
contratado em regime de Dedicação Exclusiva (DE), o que o impede de ter outra
fonte de renda. A nova carreira, aprovada no apagar das luzes de 2012,
dificulta a vida dos docentes e desestimula o ingresso de bons profissionais.
Felizmente, muitas das pretensões draconianas do governo com relação ao
magistério superior foram impedidas com a greve de 2012. Apesar de os docentes
terem arrancado uma recomposição salarial que não viria sem a greve, a carreira
é cada vez menos interessante e o número de professores que se propõe a
complementar renda trabalhando em universidades particulares ou mesmo buscar
novos empregos fora da docência se amplia a cada dia. A desvalorização
profissional se avoluma!
Universidades
federais estão sendo desmontadas com as mesmas estratégias que vitimaram as
escolas estaduais. O prognóstico é evidente, se não formos capazes, enquanto
sociedade organizada, de impedir esta destruição, teremos no futuro uma
universidade que será frágil e apenas para os carentes, enquanto os que têm
recursos migrarão para as particulares, pois estas serão vistas como a
referência de qualidade. Após estas considerações, a pergunta do início do
texto merece ser respondida. A sensação de já termos visto ou vivido, a
situação atual das universidades federais no passado das escolas estaduais só
nos permite uma resposta: Sim, "déjà vu"!
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