sexta-feira, 29 de março de 2013


“O futebol amapaense da época era muito bom, hoje nem vou mais ao estádio”

Joaquim Ramos da Silva, o Munjoca

Thais Pucci
Da Reportagem


Criado no Laguinho, Joaquim Ramos da Silva, o Munjoca, como era conhecido desde a infância foi um grande volante, também chamado cabeça de área, do Amapá Clube nos anos 70. Nosso atleta do passado desta semana, que diz ter sido morador do bairro do samba e do amor, tem 59 anos muito bem vividos entre a vida pública e o futebol amapaense.

Começou a brincar de bola com 12 anos na Igreja de São Benedito. Segundo ele, um dos padres da Igreja gostava muito de futebol e as crianças do bairro começaram a praticar o esporte no clube da paróquia, chamado, São Benedito Esporte Clube. “Lá o sistema era rigoroso. Para que as crianças praticassem o esporte elas deveriam assistir a reunião que o padre fazia todo o sábado à noite, e após a missa dominical, estavam liberados para jogar” contou Munjoca, que na época participou de vários torneios e jogos contra outros clubes como o Curiaú, o Clube da Igreja do Perpétuo Socorro e o Clube da Igreja de São Pedro, no Beirol. De acordo com Munjoca, vários jogadores muito bons da época surgiram em times do Trem e do Laguinho, como Bira e Aldo. “O futebol amapaense da época era muito bom, hoje nem vou mais ao estádio. Costumava ir quando ainda era preciso molhar as chuteiras antes de usar, e eu fazia isso para os jogadores. Era o futebol mais lindo que o Amapá já teve. Quando eu me profissionalizei já era um pouco pior”.


Quando tinha 18 anos, Dico, que criou o clube no bairro Jesus de Nazaré o convidou para jogar no Nacional, onde atuou por 3 anos. Pouco tempo depois foi descoberto por Sr. Marcimino, olheiro dos garotos que jogavam no subúrbio, e responsável pela convocação dos juniores do Esporte Clube Macapá, e começou a fazer parte do time para o qual ele e toda a família torciam e onde jogou por toda a década de 70. Em 1972, quando o Amapá Clube estava fora do campeonato, Munjoca conquistou seu primeiro título de campeão pelo Esporte Clube Macapá. “O campeonato da época era amador, e ainda sim considero melhor que o profissional da atualidade” contou.



 Alguns amigos que gostariam de ver o Amapá Clube voltar a disputar o campeonato amapaense, dentre eles Jarbas Ferreira Gato (presidente do clube) e Olinto Porciano (vice-presidente), convocaram alguns jogadores juniores e do subúrbio, para formar uma equipe para disputar o campeonato amapaense em 73. “Foram buscar o Urivaldo no Curiaú, Sena do Esporte Clube Macapá, Cutia, Pennafort, Macaco, Marambaia, Gelequinha e eu, e com essa equipe formaram o time do Amapá Clube que foi campeão de 1973, em jogo contra o Esporte Clube Macapá”.

Sua rotina não era fácil: De manhã cedo Munjoca trabalhava com o tio na roça, onde fazia farinha e colhia mandioca, por volta de 15 horas voltava para casa de bicicleta, tomava banho e corria para o treino ou para a preparação física, que eram bem puxados, pois os jogos do campeonato costumavam ser domingo à tarde, hora mais quente do dia, e todos os jogadores deveriam estar preparados para o calor e para o sol. Depois disso, ainda tinha que ter fôlego para os estudos que aconteciam na parte da noite.
Apesar de ter recebido uma proposta para jogar no Remo, não pensou em ser jogador profissional. “Antes de tomar qualquer decisão, procurei meu conselheiro, tio Martinho Santana, que me aconselhou a não largar o emprego como funcionário público federal na Secretaria de Agricultura, onde trabalho há mais de 39 anos”. Esse emprego era uma garantia que provavelmente o futebol não daria a ele. Segundo Martinho, nem sempre o jogador de futebol tem sorte, às vezes ele pode sofrer uma contusão e ter que parar de jogar. Parece que o tio previa o que ia acontecer adiante.
Após perder o campeonato de 1974 e vencer o de 1975 novamente, ele ficou 5 anos parado. Quando retornou ao futebol, já como veterano, a convite do Dr. Amorim, sua passagem pelo Oratório foi rápida. No dia 1 de agosto de 1982, no primeiro jogo do campeonato, Munjoca quebrou a perna. Apesar de ter se recuperado bem, desde então não jogou mais futebol. “Agora só uma peladinha no final de semana”.

O que mais gosta é de assistir a uma boa partida de futebol, bem disputada, mas hoje ele considera que não existem mais jogos nem jogadores com antes: “O futebol amapaense está falido. Não se veem jogadores de expressão, e os que estão jogando não tem mais o treinamento físico e a preparação que existia antigamente. Hoje, com 15 minutos de jogo, durante o segundo tempo, os jogadores estão mortos de cansaço”, ele contou ainda que antigamente, muitos jogadores daqui iam jogar em Belém e agora é o contrário. “Faltam os dirigentes dos clubes amapaenses pesquisarem no interior do estado e oferecer a oportunidade para meninos que jogam muita bola, mas não estão sendo vistos. Eles formariam uma equipe melhor do que a que joga hoje, na equipe profissional” conclui.



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