“O futebol amapaense da época era muito bom, hoje nem vou mais ao estádio”
Joaquim Ramos da Silva, o Munjoca
Thais Pucci
Da Reportagem
Da Reportagem
Criado no Laguinho, Joaquim Ramos
da Silva, o Munjoca, como era conhecido desde a infância foi um grande volante,
também chamado cabeça de área, do Amapá Clube nos anos 70. Nosso atleta do
passado desta semana, que diz ter sido morador do bairro do samba e do amor,
tem 59 anos muito bem vividos entre a vida pública e o futebol amapaense.
Começou a brincar de bola com 12
anos na Igreja de São Benedito. Segundo ele, um dos padres da Igreja gostava
muito de futebol e as crianças do bairro começaram a praticar o esporte no clube
da paróquia, chamado, São Benedito Esporte Clube. “Lá o sistema era rigoroso. Para
que as crianças praticassem o esporte elas deveriam assistir a reunião que o
padre fazia todo o sábado à noite, e após a missa dominical, estavam liberados
para jogar” contou Munjoca, que na época participou de vários torneios e jogos
contra outros clubes como o Curiaú, o Clube da Igreja do Perpétuo Socorro e o Clube
da Igreja de São Pedro, no Beirol. De acordo com Munjoca, vários jogadores
muito bons da época surgiram em times do Trem e do Laguinho, como Bira e Aldo.
“O futebol amapaense da época era muito bom, hoje nem vou mais ao estádio. Costumava
ir quando ainda era preciso molhar as chuteiras antes de usar, e eu fazia isso
para os jogadores. Era o futebol mais lindo que o Amapá já teve. Quando eu me
profissionalizei já era um pouco pior”.
Quando tinha 18 anos, Dico, que
criou o clube no bairro Jesus de Nazaré o convidou para jogar no Nacional, onde
atuou por 3 anos. Pouco tempo depois foi descoberto por Sr. Marcimino, olheiro
dos garotos que jogavam no subúrbio, e responsável pela convocação dos juniores
do Esporte Clube Macapá, e começou a fazer parte do time para o qual ele e toda
a família torciam e onde jogou por toda a década de 70. Em 1972, quando o Amapá
Clube estava fora do campeonato, Munjoca conquistou seu primeiro título de
campeão pelo Esporte Clube Macapá. “O campeonato da época era amador, e ainda
sim considero melhor que o profissional da atualidade” contou.
Alguns amigos que gostariam de ver o Amapá
Clube voltar a disputar o campeonato amapaense, dentre eles Jarbas Ferreira
Gato (presidente do clube) e Olinto Porciano (vice-presidente), convocaram alguns
jogadores juniores e do subúrbio, para formar uma equipe para disputar o
campeonato amapaense em 73. “Foram buscar o Urivaldo no Curiaú, Sena do Esporte
Clube Macapá, Cutia, Pennafort, Macaco, Marambaia, Gelequinha e eu, e com essa
equipe formaram o time do Amapá Clube que foi campeão de 1973, em jogo contra o
Esporte Clube Macapá”.
Sua rotina não era fácil: De manhã
cedo Munjoca trabalhava com o tio na roça, onde fazia farinha e colhia
mandioca, por volta de 15 horas voltava para casa de bicicleta, tomava banho e
corria para o treino ou para a preparação física, que eram bem puxados, pois os
jogos do campeonato costumavam ser domingo à tarde, hora mais quente do dia, e
todos os jogadores deveriam estar preparados para o calor e para o sol. Depois
disso, ainda tinha que ter fôlego para os estudos que aconteciam na parte da
noite.
Apesar de ter recebido uma
proposta para jogar no Remo, não pensou em ser jogador profissional. “Antes de
tomar qualquer decisão, procurei meu conselheiro, tio Martinho Santana, que me
aconselhou a não largar o emprego como funcionário público federal na
Secretaria de Agricultura, onde trabalho há mais de 39 anos”. Esse emprego era
uma garantia que provavelmente o futebol não daria a ele. Segundo Martinho, nem
sempre o jogador de futebol tem sorte, às vezes ele pode sofrer uma contusão e
ter que parar de jogar. Parece que o tio previa o que ia acontecer adiante.
Após perder o campeonato de 1974
e vencer o de 1975 novamente, ele ficou 5 anos parado. Quando retornou ao
futebol, já como veterano, a convite do Dr. Amorim, sua passagem pelo Oratório
foi rápida. No dia 1 de agosto de 1982, no primeiro jogo do campeonato, Munjoca
quebrou a perna. Apesar de ter se recuperado bem, desde então não jogou mais
futebol. “Agora só uma peladinha no final de semana”.
O que mais gosta é de assistir a uma
boa partida de futebol, bem disputada, mas hoje ele considera que não existem mais
jogos nem jogadores com antes: “O futebol amapaense está falido. Não se veem
jogadores de expressão, e os que estão jogando não tem mais o treinamento
físico e a preparação que existia antigamente. Hoje, com 15 minutos de jogo,
durante o segundo tempo, os jogadores estão mortos de cansaço”, ele contou
ainda que antigamente, muitos jogadores daqui iam jogar em Belém e agora é o
contrário. “Faltam os dirigentes dos clubes amapaenses pesquisarem no interior do
estado e oferecer a oportunidade para meninos que jogam muita bola, mas não
estão sendo vistos. Eles formariam uma equipe melhor do que a que joga hoje, na
equipe profissional” conclui.
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