segunda-feira, 11 de março de 2013

Pioneirismo - Raimundo Figueira, o Vovô

“Hoje a minha vida é tranquila, apesar de não poder andar, estou com meus filhos empregados, o que eu podia deixar pra eles era isso; eu fui um homem pobre na minha vida, assim como meu pai que também era, mais trabalhadores”

 por Iranilde Lobato

"Era um tempo bom. Dá saudade", suspira o senhor de 73 anos, testemunha e personagem fundamental de toda a história do futebol amapaense do amadorismo ao profissionalismo, concretizando com a fundação do Clube Atlético Cristal. Esta é prefacio de uma grande historia de pioneirismo no Amapá, esta semana  estaremos  homenageando a veterano Raimundo da Silva Figueira, o Vovô, como é conhecido no meio esportivo.

Raimundo da Silva Figueira chegou à Macapá em 1940,  com os pais Julieta da Silva Figueira e Manoel da Costa Figueira Junior, vinda do interior do Pará, município de Afuá, com dois anos de idade, hoje com 73 anos relembra que naquela época se dormia com as janelas abertas. "Sou amapaense, um amante dos esportes, porem, minha paixão é o futebol". Ele conta que sempre foi um homem ativo que passeava em sua bicicleta, e caminhava todos os dias até o aeroporto. Gostava de dançar, pescava e tomar açaí, comer biju de tapioca e se deliciar com  um prato de feijão com mocotó. É amado por sua família, admirado pelos amigos, com um passado notável, e uma família acolhedora e educada. 

Como todos, nos primórdios da historia politica amapaense, quando da criação do Território Federal do Amapá,  era necessário recrutar mão de obras especializadas em outras unidades da federação, o então governador Janary Nunes convidou os pais de Figueira - que eram empresários do ramo madeireiro - para atuar nas obras da capital.

O Vovô Figueira relembrar que seus estudos começaram na pioneira escola Barão do Rio Branco e na Escola Industrial, hoje EE Antônio Cordeiro Pontes. A bucólica Macapá vem na narrativa desse pioneiro. "Quando cheguei aqui só tinha duas ruas, a Candido Mendes e Avenida FAB. Éramos sete irmãos. Fui para o Exercito, (antigo Tiro de Guerra), e depois pertenci aos quadros  da Guarda Territorial, quando o Amapá foi transformado em Estado ingressei aos quadros da Policia militar. Aposentei-me em 1987".

 Ainda militar, com 25 anos, Raimundo Figueira foi destacado para Jarilândia, hoje município do Laranjal do Jarí, em novembro de 1964. A chegada de um guarda novato em uma cidade pequena, com seus belos olhos verde causou uma grande impressão nas jovens do local, mas ele se encantou por Maria Iracy Lima, e não quis perder tempo, seis meses depois estavam casados. Em 10 de maio de 1965.'' Ele foi ver uma peça no colégio, e delegacia era perto. Nos conhecemos nesse dia'', conta Maria.  Dessa união nasceram: Manoel de Jesus, Maria Julieta, José Romeu e Rosa Maria Lima Figueira. Estão Casados há 48 anos, tem 4 filhos e 8 netos.

"Ele sempre foi uma pessoa séria, as brincadeiras só mesmo com os amigos do futebol, sempre  popular no esporte, ele só fala o necessário, é muito trabalhador e responsável, mesmo doente ia trabalhar, nem que os colegas o trouxessem de volta, mas ele ia, nunca faltou no serviço'', comenta sua esposa.

Sua vida na policia
Raimundo Figueira no exército “Tiro de Guerra”
Na sua época de policial, trabalhou mais de 10 anos na Divisão de Investigação e Captura (DIC). Ele conta que Macapá era um paraíso, briga só de vizinhos e roubo só de galinha. "Quando trabalhava na policia, a cidade era tranquila, na Civil tirava plantão, fazia patrulha na Policia Militar, mas, não tínhamos a violência que temos hoje. A cidade cresceu do dia pra noite, era uma cidade bacana", relembra. 

Para conseguir criar seus filhos e dar-lhes um maior conforto um passou 20 anos atuando no interior do Amapá. Naquela época o acesso era dificílimo, principalmente nesta época de chuvas. As estradas e ramais só se alcançavam de carro de tração nas quatro roldas e ficávamos isolados, comunicação era via radio. "Viajei há trabalho pelos municípios de Almeirim,  Lourenço, Calçoene, Amapá, Oiapoque. Tudo por ai eu trabalhei e para construir minha casa e dar dignidade a minha família".
Amor pelo time Cristal
Sempre amou o futebol. Ainda em Jarilândia tomou conta de Seleção local de futebol e jogava no Beiradão. Quando retornou a Macapá jogou como goleiro na Sociedade Esportiva e Recreativa São José. Seu irmão Ademir da Silva Figueira, outro amante do futebol tinha  fundado o Clube Atlético Cristal, e lhe convidou para trabalhar como treinador e ele foi campeão. Quando o futebol amapaense passou a ser profissional em 1991, ficou a frente da presidência Cristal. Virou presidente de honra do clube e ajudou todos os presidentes que passaram por lá.  "Época áurea do cristal em que conseguimos disputar dois títulos seguidos, 2007/ 2008 e fomos bicampeões".

Com muita emoção e orgulho conta que em 2007 recebeu da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a Comenda João Havelange, no Rio de Janeiro, no Copacabana Palace. "No Estado do Amapá apenas quatro pessoas já receberam está condecoração".   

Até 2009, como presidente do Cristal, durante os campeonatos que o clube disputava frequentava e trabalhava no Estádio Glicério Marques para dar melhor assistência ao plantel, parou por conta do diabete. Além de presidente muito responsável, tomava conta de tudo, dos uniformes ao lanche, fazia tudo inclusive dava dinheiro. 

O DNA do esporte, principalmente do futebol passou a ser hereditário, chegou um tempo que a família Figueira era o Cristal e vice-versa. Raimundo Figueira na presidência de honra, Manoel Figueira na presidência e Romeu Figueira técnico. "Hoje se tem o nome Cristal como uma marca e isso se deve ao meu pai, foi um dos grandes feitos, um dos mais relevantes do futebol amapaense, era amor pelo Clube ele nunca largou o futebol, desde que começou em Jarilândia como policial, e levou o futebol para os vários municípios que trabalhou. Retornou pra Macapá, depois que se aposentou ficou definitivamente no Cristal", narra o filho Romeu. 

E esse amor e dedicação também teve um suporte essencial Dona Maria Iracy Figueira a matriarca da família, conta Romeu da Silva Figueira: "meu pai foi um cara que sempre batalhou e viajou muito e ate hoje luta pela família  e sempre teve o suporte de minha mãe que sempre cuidou dos filhos enquanto ele trabalhava. Ele ia tranquilo pois estávamos em boas mãos", narra.

Raimundo Figueira e seu filho Manoel
Orgulho filial
Seus filhos Manoel e Romeu Figueira sentem muito orgulho e emoção ao falar do pai: "Meu pai sempre foi moderno nunca precisou bater nos filhos, sempre preferiu conversar, direcionar. Encaminhou-me e meu irmão no futebol, uma pessoa muito boa, sempre ajudou as pessoas, inclusive os presos. Ele me levava com ele nas delegacias sempre vi isso, tanto que hoje sou policial civil, concursado. Sempre nos direcionou para o estudo e  futebol, esse é o legado que ele nos deixou que é a educação, nos construímos isso junto com ele e a nossa mãe".

Raimundo Figueira finaliza parte de sua historia, pois se fossemos detalhar esse jornal não teria espaço. "Hoje a minha vida é tranquila apesar de não poder andar, estou com meus filhos empregados, o que eu podia deixar pra eles era isso; eu fui um homem pobre na minha vida, assim como meu pai que também era,  mais trabalhadores. Aquele que puder se formar se forme, eu não pude fui logo me empregar". 

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