A dança dos números no Amapá
Aqui já comentei como é
difícil a interpretação das informações sobre os vários cenários do Amapá pela
ausência de um órgão oficial, gerador de informações, que tenha sobre si a responsabilidade da produção e coordenação
de pesquisas e estudos fundamentados em metodologia científica. Nesta ocasião
em que escrevi sobre este tema não me insurgi ao viés da rebeldia.
Enquanto
este órgão não surgir, vamos continuar sendo contaminados pelas notícias
midiáticas, transformadas em dados estatísticos. Veremos estudos, contratados
junto a empresas de consultoria, para suprir o poder público estadual das
informações necessárias ao seu planejamento, e também os que são produzidos por
outras instituições de caráter geral,
fazendo uma verdadeira confusão na cabeça da população menos
esclarecida. Dados torturados confessam. Portanto, temos um verdadeiro “samba
do crioulo doido”, com todo respeito que
o crioulo merece.
Os
diversos estudos realizados, abordando temas socioeconômicos e outros indicadores que nos chegam ao
conhecimento, elaborados em períodos de referências distintas, não produzem uma
série histórica, o que inviabiliza qualquer análise em termos de
comparabilidade, e suas divulgações tornam-se apenas informações e dados para
aquela ocasião. Uma análise de dados estatísticos é mais complexa do que
parece, e a possível comparação entre dados é o mínimo que se exige na maioria
dos casos.
Quando
fiz referência aos dados divulgados sobre a redução em 34,48% no índice de
homicídios em Macapá, fomos mal interpretados. Apenas tomei por base esta
informação específica para generalizar as informações estatísticas geradas.
Poderia ser outro indicador, já que a escolha foi ao acaso. Entretanto, naquela
ocasião tão somente questionei como o
Governo do Estado havia chegado a estes números, se a violência continua
crescente a olhos vistos em nossa capital.
Agora,
está diante de nós um estudo denominado “Altos Estudos Sobre a Criminalidade no
Estado do Amapá”, realizado pelos alunos do Curso de Direito da Universidade
Federal do Amapá – UNIFAP, nos revelando que de 2003 à 2012, o número de
homicídios em Macapá aumentou 1000%. Está evidente que a periodicidade é muito
mais ampla, mas o estudo aponta que no decorrer dos nove anos, o número de
assassinatos de um ano para o outro crescem, em geral, de 50% a 100%. Com estes
dados fica evidente os nossos questionamentos sobre a informação midiática de
redução da violência.
Na
obra “Indicadores Sociais do Brasil”, de Paulo Martino Jannuzzi, o autor relata
em sua introdução: “Cada vez mais se observam jornalistas, lideranças
populares, políticos e a população em geral se utilizando de indicadores
sociais para avaliar os avanços ou retrocessos nas condições de vida da
população, apontar a eficácia ou ineficiência das políticas públicas ou
defender suas posições quanto às prioridades sociais a atender”. Quando defendo
a criação de uma instituição produtora de informações no âmbito estadual do
Amapá é justamente para que o Estado possa ter uma fonte própria, oficial e
científica, com pessoal capacitado, onde a transparência dos dados leve à
população a fazer uma leitura do avanço ou não praticado pela execução das
políticas públicas. Esta instituição deveria servir de apoio às prefeituras, já
que estas não contam com recursos financeiros e pessoal qualificado para
realizar a produção de pesquisas.
Ainda
com relação a obra citada, gostaria de transcrever um trecho do prefácio,
redigido por Ruben Cesar Keinert (FGV e UMESP): “Foi-se o tempo em que os políticos
e administradores públicos podiam alardear suas realizações sem que se pudesse
aferir o impacto que haviam causado às coletividades que governavam. A situação
vem mudando e hoje é quase obrigatório a referência a indicadores de situação
de desempenho e de resultados para poder propagandear qualquer programa ou
atividade pública efetivada. O público mais qualificado e os analistas querem saber, cada vez mais, quais os efeitos
da gestão sob múltiplos enfoques e abordagens, mais além da mera comparação com
o que foi feito antes”.
Lançar-se
como um observador do cotidiano e analisar os fatos é um exercício de cidadania
e ao mesmo tempo uma contribuição ao debate para uma sociedade melhor para
todos. Portanto, para que isso aconteça, é necessário ferramentas de boa
qualidade, de primeira linha, para que se possa produzir resultados de
excelência, senão, ficaremos no meio do caminho sem saber a que rumo seguir.
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