sexta-feira, 5 de abril de 2013





A dança dos números no Amapá

            Aqui já comentei como é difícil a interpretação das informações sobre os vários cenários do Amapá pela ausência de um órgão oficial, gerador de informações, que tenha sobre si  a responsabilidade da produção e coordenação de pesquisas e estudos fundamentados em metodologia científica. Nesta ocasião em que escrevi sobre este tema não me insurgi ao viés da rebeldia.
            Enquanto este órgão não surgir, vamos continuar sendo contaminados pelas notícias midiáticas, transformadas em dados estatísticos. Veremos estudos, contratados junto a empresas de consultoria, para suprir o poder público estadual das informações necessárias ao seu planejamento, e também os que são produzidos por outras instituições de caráter geral,  fazendo uma verdadeira confusão na cabeça da população menos esclarecida. Dados torturados confessam. Portanto, temos um verdadeiro “samba do crioulo doido”, com  todo respeito que o crioulo merece.
            Os diversos estudos realizados, abordando temas socioeconômicos  e outros indicadores que nos chegam ao conhecimento, elaborados em períodos de referências distintas, não produzem uma série histórica, o que inviabiliza qualquer análise em termos de comparabilidade, e suas divulgações tornam-se apenas informações e dados para aquela ocasião. Uma análise de dados estatísticos é mais complexa do que parece, e a possível comparação entre dados é o mínimo que se exige na maioria dos casos.
            Quando fiz referência aos dados divulgados sobre a redução em 34,48% no índice de homicídios em Macapá, fomos mal interpretados. Apenas tomei por base esta informação específica para generalizar as informações estatísticas geradas. Poderia ser outro indicador, já que a escolha foi ao acaso. Entretanto, naquela ocasião tão somente questionei como  o Governo do Estado havia chegado a estes números, se a violência continua crescente a olhos vistos em nossa capital.
            Agora, está diante de nós um estudo denominado “Altos Estudos Sobre a Criminalidade no Estado do Amapá”, realizado pelos alunos do Curso de Direito da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, nos revelando que de 2003 à 2012, o número de homicídios em Macapá aumentou 1000%. Está evidente que a periodicidade é muito mais ampla, mas o estudo aponta que no decorrer dos nove anos, o número de assassinatos de um ano para o outro crescem, em geral, de 50% a 100%. Com estes dados fica evidente os nossos questionamentos sobre a informação midiática de redução da violência.
            Na obra “Indicadores Sociais do Brasil”, de Paulo Martino Jannuzzi, o autor relata em sua introdução: “Cada vez mais se observam jornalistas, lideranças populares, políticos e a população em geral se utilizando de indicadores sociais para avaliar os avanços ou retrocessos nas condições de vida da população, apontar a eficácia ou ineficiência das políticas públicas ou defender suas posições quanto às prioridades sociais a atender”. Quando defendo a criação de uma instituição produtora de informações no âmbito estadual do Amapá é justamente para que o Estado possa ter uma fonte própria, oficial e científica, com pessoal capacitado, onde a transparência dos dados leve à população a fazer uma leitura do avanço ou não praticado pela execução das políticas públicas. Esta instituição deveria servir de apoio às prefeituras, já que estas não contam com recursos financeiros e pessoal qualificado para realizar a produção de pesquisas.  
            Ainda com relação a obra citada, gostaria de transcrever um trecho do prefácio, redigido por Ruben Cesar Keinert (FGV e UMESP): “Foi-se o tempo em que os políticos e administradores públicos podiam alardear suas realizações sem que se pudesse aferir o impacto que haviam causado às coletividades que governavam. A situação vem mudando e hoje é quase obrigatório a referência a indicadores de situação de desempenho e de resultados para poder propagandear qualquer programa ou atividade pública efetivada. O público mais qualificado e os analistas  querem saber, cada vez mais, quais os efeitos da gestão sob múltiplos enfoques e abordagens, mais além da mera comparação com o que foi feito antes”.
            Lançar-se como um observador do cotidiano e analisar os fatos é um exercício de cidadania e ao mesmo tempo uma contribuição ao debate para uma sociedade melhor para todos. Portanto, para que isso aconteça, é necessário ferramentas de boa qualidade, de primeira linha, para que se possa produzir resultados de excelência, senão, ficaremos no meio do caminho sem saber a que rumo seguir.


           



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