sexta-feira, 26 de abril de 2013


Câncer no Amapá
Os gargalos na saúde do estado e as dificuldades dos pacientes em busca da cura


Thais Pucci
Da Reportagem



Na quinta-feira, dia 18de abril, o deputado Eider Pena (PSD) ministrou uma Audiência Pública, que discutiu a precariedade do tratamento do câncer na rede pública do Estado. A situação de sofrimento pela qual passam pacientes acometidos pelo câncer, não apenas pelo diagnóstico em si, mas devido à frágil condição de tratamento oferecido no sistema público de saúde do Amapá, foram colocados em questão. 

O câncer abrange um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado e maligno de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se, através da metástase para outras regiões do corpo, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas). Suas causas são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas, que representam 80% a 90% dos casos atuais, relacionam-se ao meio ambiente, hábitos e costumes próprios de um ambiente social e cultural. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Já as causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. 

Durante quatro horas, autoridades e pacientes realizaram um amplo debate sobre a doença e suas dificuldades. Várias autoridades participaram da audiência e expuseram seus conhecimentos e juntos prometeram buscar soluções para o problema de saúde publica no Estado do Amapá. Foram ouvidos vários especialistas como o Cirurgião Oncológico Roberto Marcel, diretor da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON/AP), que esclareceu sobre a doença e a situação de atendimento no Estado.

A Unidade de Oncologia do Estado oferece apenas 8 leitos para atender a todos os pacientes, e devido essa quantidade mínima, muitos doentes em estado grave estão recebendo alta do hospital pois não tem como receber o tratamento adequado. Pacientes que dependem do TFD - Tratamento Fora de Domicílio não estão recebendo passagens nem ajuda de custo e, por este motivo, não têm como dar continuidade aos cuidados necessários. É o caso do tratamento de oncologia pediátrica e radioterapia, por exemplo, que não são ofertados pelo Estado, e fazem com que as pessoas que necessitam destes cuidados tenham que se deslocar em busca de solução.

O fornecimento regular e contínuo de medicamentos gratuitamente pelo Estado é um dos mais relevantes passos para o tratamento do câncer, porém faltam drogas para realização da quimioterapia, e diversos tipos de medicamento, desde remédio para enjoo até coletor de urina. Com isso os familiares precisam custear estes remédios, que chegam a custar até R$ 7 mil, e deveriam estar sendo ofertados pela rede pública de saúde. Entretanto a maioria não tem condição de prosseguir com o tratamento, sendo que a suspensão ou interrupção do mesmo pode provocar danos irreparáveis à saúde do paciente e, inclusive, provocar-lhe óbito. Muito ainda precisa ser feito, e segundo Roberto, algumas mudanças estão em andamento para que os pacientes recebam o tratamento adequado.

"Hoje 70% dos diagnósticos do câncer no Estado do Amapá, são feitos numa fase avançada da doença. Quando o paciente começa a apresentar sintomas, o primeiro é a dor", alertou Benjamim Barbosa, Clínico do Instituto de Oncologia e Mastologia (IOM). Segundo ele a prevenção e a detecção precoce da doença é o primeiro passo para que uma pessoa alcance a cura. 

Esse é um dos principais objetivos do Instituto do Câncer Joel Magalhães (IJOMA), fundado em 2010 com o intuito de servir de casa de apoio aos pacientes além de divulgar informações, prevenir e diagnosticar precocemente o câncer.  O presidente do IJOMA, Padre Paulo Roberto também esteve presente no encontro, e comentou sobre a vivência do Instituto e a sobrecarga de demanda pela ineficiência do Estado e a enorme carência do sistema público de saúde.

 A demanda da Instituição é de aproximadamente 335 pacientes cadastrados, e apesar de possuir 12 leitos (mais do que o estado oferece em seu hospital), eles não são suficientes para suprir a grande demanda dos que não conseguem se tratar através do sistema de saúde oferecido pelo estado. Ele contou ainda que junto a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa fez uma visita à cidade de Barretos em São Paulo, no início de abril, com o objetivo de conhecer o trabalho realizado por eles, mantido apenas por doações de artistas.  O objetivo é a trazer uma unidade avançada do hospital para Macapá, aproveitando o trabalho e infraestrutura do IJOMA, para firmar esse convênio. 

Pacientes que sofrem diariamente com a doença estiveram presentes e emocionaram a tribuna e o público presente com seu discurso. "É a terceira vez que ocupo uma tribuna parlamentar para expor minhas impressões sobre a assistência médico hospitalar dispensado a pacientes de câncer no Amapá. Essas três oportunidades me foram dadas não apenas porque também sou um doente de câncer, mas muito mais porque desde que adoeci quis ser, e tenho sido uma voz voluntária a favor dos doentes, meus companheiros. Na memorável campanha pró IJOMA indicaram-me o "Embaixador do Câncer no Amapá": aceitei a indicação e o desafio", comentou o jornalista Cézar Bernardo, que já comentou sobre o tema em 2011 na Tribuna da Câmara dos Vereadores de Macapá, e em 2012 por duas vezes: na Tribuna da Assembleia Legislativa do estado, e na Justiça Federal. Infelizmente ele lembrou aos presentes que neste retorno a tribuna legislativa, as reivindicações e carências continuam as mesmas. "Em 2012, pedíamos socorro porque, outra vez, faltavam remédios através do SUS/UNACON para todos" finalizou o jornalista agradecendo a Assembleia Legislativa por ter dado voz a luta.

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