sexta-feira, 19 de abril de 2013





E agora José?



No dia 10 de setembro de 2010 os macapaenses viram sua cidade ficar com o céu plúmbeo. A cor de chumbo que encobriu o azul natural dessas paragens chegou coadjuvada pelas estridentes sirenes das viaturas da Polícia federal, que transportavam centenas de policiais, servidores do Estado brasileiro, para em nome de uma operação, de nome sugestivo, Mãos Limpas, expurgar do Poder Executivo as relações espúrias que, segundo acusações, grassavam livres nas repartições públicas do estado do Amapá. 

Com a prerrogativa da coação e da coerção a Polícia Federal foi efetuando sucessivas prisões. Ex-governador, governador, prefeito, empresários e servidores públicos naquele fatídico dia (10/09) foram colocados na vala comum da desmoralização e do linchamento público. Os "réus" foram exibidos para todo o Brasil através dos noticiosos jornalísticos televisivos, radiofônicos, impressos e nas redes sociais, inclusive, utilizados como exemplo para o discurso moralista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Se existe bandido de colarinho branco que rouba o dinheiro público, os colocamos na cadeia, assim como fizemos no Amapá". Disse Lula, para mostrar ao Brasil que seu governo primava pela moralidade, legalidade, eticidade, eficiência e publicidade. Mais tarde o mensalão mostrou quem a verdade era bem outra e os verdadeiros bandidos foram denunciados por terem arquitetado e executado a maior corrupção da política nacional que se tem notícia.

Passado pouco mais de dois anos os "amapaenses", utilizados como instrumento de retórica moralista não foram indiciados pelo Ministro Otávio Noronha que preside o inquérito. Enquanto o estado não consegue encontrar nexo entre as acusações e as provas necessárias para o prosseguimento do processo da "Mãos Limpas", os réus vão conseguindo montar o quebra cabeça que se transformou "a grande" Operação desenvolvida pela Polícia Federal em 10 de setembro de 2010. Se não foram encontradas provas cabais para incriminar, as pessoas envolvidas estão encontrando fartas provas para mostrar que a Operação Mãos Limpas não passou de uma grande orquestração com objetivo definido. Alterar o resultado das eleições no Estado do Amapá. Conseguiram e, confirmaram que foi ela, a Mãos Limpas, a responsável pelo resultado das eleições de 2010 para senado e governo.

O silêncio do Ministro com relação ao inquérito é no mínimo estranho. Só prolonga o calvário daqueles que tiveram suas honras pisoteadas. Eles provocam o presidente do inquérito e pedem que sejam acusados formalmente e sejam chamados a depor, pois querem provar suas inocências e mostrar ao Brasil os reais motivos da mega operação realizada no Amapá em 2010.

O cidadão eleitor que deu crédito aquele episódio e mudou sua opinião em relação sua escolha com relação a eleição para governo e senado, agora deve está se perguntando: "mas qual é o papel do Estado?" Cidadão, entre tantas, o estado tem a obrigação de garantir a segurança, a justiça e o bem-estar econômico e social da sociedade. Pra ir um pouco mais além, tem o dever de organizar os esforços para a manutenção da ordem e aplicar a justiça. Nem é o propósito fazer uma tese sobre as obrigações do Estado, porém se faz importante demonstrar de forma clara que o papel do estado não é servir de instrumento para atender interesses de particulares, enganando a boa fé daquele que nele crer.

E agora José foi um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro de Itabira que brindou a humanidade com este belo poema inquisitorial sobre o existencialismo, que questionava as certezas de José. Então se pergunta: E agora ministro Otávio Noronha? A festa acabou; a luz apagou; o povo sumiu e a noite esfriou e a verdade está a bater sua porta, não existe porta ministro. Morrer aonde? No mar? Secou ministro. Só resta a reposição da verdade para colar os cacos do cristal das honras alheias solapadas pela insaciável sede do poder a qualquer preço. Isso não é papel da Polícia Federal, muito menos da justiça brasileira. 

O amapaense há de acompanhar com a atenção o desfecho dessa operação que alardeou fins moralizadores, mas ao que parece, foi uma grande fraude político eleitoral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...