Esta semana encontramos um marajoara,nascido em 1936 no município paraense de Breves, mais precisamente no Rio Corum Um. João de Ataíde, 77 anos, filho do seringueiro Emílio Cardoso de Ataíde e da dona Benta Ataíde. Filho único do primeiro casamento, teve de se mudar aos três anos para a localidade Icamarapi, onde ficaram por dois anos e logo em seguida foram para o Rio dos Macacos, sempre trabalhando no seringal e na produção da borracha. "Minha mãe teve problemas mentais e passou a ficar agressiva, depois que queimaram o roçado e pegou fogo na nossa casa ele então surtou. Esse foi o motivo dessa peregrinação do meu pai. Ele conheceu minha madrasta e teve uma filha com ela. Logo em seguida engravidou de novo, porém devido a Febre Amarela ela e a recém nascida vieram a óbito".
Os locais onde trabalhavam era um encontro dos Rios Tamanduá, Angelim, Puxador e Macaquinho. "Fazíamos a ronda por esses locais. Aprendi a cortar a seringueira defumar o látex e fazer a borracha, tanto que no terreno que possuo no Igarapé da Fortaleza tenho 30 pés de seringueiras. Em 1958, com 22 anos, trabalhava como embarcadiço, fui até Manaus (AM), Anajás, Afuá foi quando formaram um viajem para Macapá e de imediato eu embarquei num puque, puque, foram cinco dias de viagem".
O primeiro local que o nosso pioneiro residiu em Macapá, foi na residência do Francisco Inajosa, tradicional comerciante atrás da Igreja São José.
Um dos primeiros empregos de João foi na empresa que construiu as casas da Vila Amazonas, propriedade da Industria e Comercio de Minérios (ICOMI). Logo em seguida foi fazer roçada na cabeceira do Rio Matapi, para plantio de plantas frutíferas. Após quatro meses se empregou com o japonês que era agricultor no Campo Verde localidade na beira da Estrada de Ferro da ICOMI.
Em 1959 João de Ataíde colocou os pés na estrada em direção ao norte do Amapá e chegou até as obras da Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes. "Passei a tirar madeira nas localidades de Capusal e Terra Preta, para a construção dos barracos que deveria receber os operários e engenheiros da usina. Foram dois anos".
Em 1962 chegou a empresa mineira Techint veio para começar a escavação da barragem da futura usina Coaracy Nunes. "Foi ai que começou a melhorar para mim, me empreguei nessa empresa Techint exercendo carpintaria. Foi lá que conheci o Raimundo Moura, o Gatão motorista de caminhão, moramos no mesmo barraco. Trabalhei durante quatro anos nessa empresa".
Quando a empresa encerrou seus trabalhos no Paredão, mantiveram durante um ano seus empregados em Macapá, aguardando a liberação de verbas para continuar as obras, o que não aconteceu. "Fomos dispensados, após um ano comendo a custas da empresa. Infelizmente naquela época não tínhamos direito a indenização".
Em 1966, Veio outra empresa e ECEL dar prosseguimento as obras da barragem e reaproveitaram a mão de obra. "Durante esse intervalo eu comecei a trabalhar com bateria e no novo emprego já fui com eletricista mecânico profissão que até hoje exerço".
Depois de três anos houve interrupção das obras por falta de verbas. "Em 1971 o finado Neguinho, que morava no Quitandinha Bar, voltei ao Paredão, estavam terminando de colocar as turbinas. Em 1973 voltei para Macapá. Foi quando recebi CR$ 3 milhões e eu tinha um baldrame e comprei esse aqui na Cônego Domingo Maltês e mora há 40 anos aqui".
Canteiro de obras da Usina Hidroelétrica Coaracy Nunes |
Relembrando que o local ainda era habitado mais com residências em estilo capoeira, ou seja, em madeira com quintais com plantações e criações de animais, que serviam para a própria alimentação. O espirito desbravador de João continuou ele participou da obra da BR 156, com o engenheiro Walter do Carmo, responsável pela sua construção.
Nunca casou, porém teve muitas mulheres em sua vida, todas sem compromisso têm um filho único Morubixaba Gomes de Ataíde - Motaxista. Ele lembra que para chegar até sua residência vinha através de anhingal. "Atravessamos os igarapés que tinham, e hoje estão aterrados para chegarmos a antiga DOCA, hoje centro comercial. No canal de Mendonça Junior tinha de um lado o antigo comercio do João Brushiwink e do outro lado o Bar Caboclo onde fazíamos a festa com a mulherada.
Com referencia a atual administração do Estado ele se diz decepcionado "pois eles só prometem e ainda dizem que fazem mesmo agente vendo que nada fizeram. Outra coisa é a juventude atual não respeita os adultos, principalmente os idosos. Eles se apoiam na lei que os protege e pronto fazem o que querem. Antes um pai ralhava e mandava hoje, ele apanha se mandar. Eles chegam em casa vão para internet. Antes tinha de ajudar em casa".
João de Ataide e o amigo Barbosa |
Hoje já aposentado ele fica na frente de sua casa revendo e batendo papos com amigos e põe a mão na massa cuidando das baterias dos carros dos antigos clientes, que não o esqueceram.
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