Desenvolvimento,
planejamento e governança
Autor: José Alberto Tostes
Este foi o tema
do XV Encontro Nacional de Planejamento Urbano Regional realizado na cidade de
Recife no período de 20 a 24 de maio. Este evento comemorou 30 anos da
associação, motivo de congratulação para os diversos integrantes, associados e
filiados. O evento contou com a participação de um bom número de pesquisadores
e estudiosos das mais diversas instituições de todo o Brasil e do exterior. O
tema principal do evento permeou as discussões sobre o novo momento vivenciado
pelo país denominado de “novo desenvolvimentismo”, momento em que se ressalta a
ampliação do poder do Estado, a retomada do crescimento e a redução da pobreza.
Segundo o próprio caderno da ANPUR entregue aos participantes, este fenômeno,
também é observado em outros países emergentes, tem provocado alterações
significativas na ordem econômica mundial, tanto quanto novas demandas por
mudanças na estrutura do poder global e principalmente as preocupações acerca da
qualidade do ambiente urbano e regional.
Este
evento apresenta os resultados da produção científica nacional no período de
2011 a 2013 através dos mais diversos cursos de pós-graduação na área. Na
trilha do “novo desenvolvimentismo” que vem estabelecendo uma nova ordem urbana
e regional não cancelou de todo o já existente, mas ao contrário, intensificou
os riscos e impactos sociais, econômicos, culturais, políticos e ambientais.
Dentro desta nova ordem, verificam-se duas tendências: de um lado a difusão do
padrão de conflitos entre os interesses especulativos-patrimonialistas e os
direitos de acesso à cidade em padrões sustentáveis capazes de assegurar os
bens patrimoniais e serviços ambientais.
Tal contexto exposto pela discussão proposta do evento
da ANPUR evidencia o questionamento de políticas habitacionais vigentes e seus
consequentes padrões de produção imobiliária sem compromisso com extratos
sociais de menor renda e com a qualidade do espaço público e do espaço
construído. Tal fato exige a necessidade de reformular teorias, abordagens e
práticas do planejamento, de repensar a governança urbana, metropolitana e
regional, de propor alternativas de gestão em bases mais democráticas, valorizando
as dimensões ambientais, históricas e culturais, tais argumentos estão
amplamente explicados no caderno de programação e resumos dos 30 anos da ANPUR.
Sobre a natureza deste evento, devo esclarecer o
intenso debate sobre a temática do evento e a dinâmica de mais de 12 horas
diárias entre tantos trabalhos científicos, conferências e sessões livres. O
que se pode trazer para o debate da questão local do tema: desenvolvimento,
planejamento e governança, é cada vez mais evidente que a discussão sobre a
governança não é algo puramente conceitual e de referência sobre o entendimento
das reais necessidades de agregar os diferentes atores institucionais na
construção e mobilização da sociedade.
Apesar de um quadro interessante sobre a questão do chamado “novo
desenvolvimentismo” é patente entre tantos trabalhos apresentados uma visão
pessimista e negativa sobre a situação do quadro regional brasileiro e das
cidades brasileiras, este contexto reconhecido pelos pesquisadores mais
experientes e criadores da Associação de Planejamento Urbano Regional, reconhecem
que em mais de 30 anos ocorreu um amplo processo de evolução da associação,
facilmente evidenciado pelos 15 encontros produzidos em 30 anos de história,
porém, foi dito que em relação às cidades brasileiras, não se pode medir a
mesma condição. O quadro atual das cidades é caótico, crítico e desesperador,
quando se observa que as chamadas políticas desenvolvimentistas não alcançam a
plenitude em relação às melhores e maiores condições de qualidade de vida.
Entre tantos trabalhos interessantes e com alto valor teórico e prático
na aplicação, está o planejamento como o grande centro de referência, daí a
importância da pesquisadora Tânia Bacelar da Universidade Federal de Pernambuco
que realizou uma conferência sobre as questões regionais e o desenvolvimento
regional, nesta apresentação fica nítido como com todo o processo de
investimento realizado no Brasil e as matrizes existentes ainda reforçam as
enormes desigualdades regionais existentes no país.
Apesar de reconhecer a importância de eventos deste porte para apresentação
e realização de intercâmbios científicos e redes de cooperação, torna-se
necessário à participação efetiva dos agentes institucionais que completam os
estágios da governança e que auxiliam no desenvolvimento e planejamento, neste
rol, estão governos estaduais, municipais, setores não governamentais,
empresários e principalmente setores do governo federal. Esse parece um caminho
aceitável para compreender e explicar a lógica de um país como o Brasil.
Assim como na teoria, a prática precisa ser mais bem internalizada por
todos, o governo federal corta investimentos na área da pesquisa sem razão
prévia, deixando a academia em situação complicada, mas, a própria academia não
muda a postura, realiza eventos somente para a própria comunidade científica, é
preciso mudar a concepção e caminhar em uma direção que permita exercitar de
fato, a governança. Outro fator é a participação dos setores não governamentais
no processo de discussão dos interesses nacionais. É importante a inserção de
temas estratégicos locais para auxiliar os níveis de desenvolvimento municipal.
Neste evento, apresentei um trabalho sobre a inserção do estado do Amapá
através da Ponte binacional no Platô das Guianas. No debate é interessante
observar como a visão de outros pesquisadores do Brasil sobre a Guiana Francesa
é de uma simples colônia da França, porém, é preciso compreender a lógica que
move o mundo global e as culturas locais. Para o Amapá, fica lição de
compreender o que representa a Guiana Francesa em termos de avanço e cooperação
de ambas as regiões multi periféricas para Brasil e França. Precisamos
exercitar a ideia da governança no próprio centro da academia, sob pena de
isolar os atores principais que formam a nossa própria história.
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