Amigo leitor, passei bastante tempo pensando no que escrever para você nesta semana. Pensei, pensei... tentei escrever algo bonito, emocionante, ou talvez até engraçado, mas confesso que não consigo pensar em qualquer coisa que não esteja diretamente ligada ao que tenho vivido nos últimos dias. Para quem não sabe, iniciei recentemente uma jornada que se estenderá por muitos anos da minha existência neste mundo: a minha carreira docente. Sim, agora sou professora de fato e não apenas de formação. Estou lecionando em uma escola da rede estadual, localizada em um bairro muito carente da nossa cidade, e isso está revolucionando a minha vida de uma maneira que nunca imaginei.
Sempre ouvi as pessoas comentarem sobre a péssima realidade do ensino público no nosso país, sobre o desinteresse dos alunos e o descaso dos professores que, diante de todas as dificuldades, muitas vezes cruzam os braços e se acomodam na estabilidade de seus empregos públicos. Além disso, escutei meus mestres da academia fazerem inúmeras reclamações sobre a desvalorização da carreira e a falta de condições adequadas de trabalho, e isso me fez temer ir para a sala de aula mais do que qualquer outra coisa. Passei a olhar a profissão com pessimismo, esperando sempre o pior, e acreditando que meus alunos seriam o pesadelo da minha vida. Foi com tudo isso em mente que fui ao meu primeiro dia de trabalho.
Quando comecei, pude confirmar muitos dos meus temores: de fato, as condições de trabalho não são as melhores, pois, além de fatores como a insuficiência de material didático diversificado e de aparato tecnológico para as aulas, muitas de nossas escolas estão sucateadas e com estruturas físicas antigas que não mais se encaixam nas necessidades do público atendido. Não quero me ater à questão salarial, mas realmente não recebemos de acordo com a importância e complexidade da função que exercemos, o que torna nossa categoria uma das mais desvalorizadas do país (isso se não for a número um).
Entretanto, algumas coisas me surpreenderam por serem melhores do que eu esperava: meus colegas de trabalho, ao contrário do que grande parte da sociedade diz, são profissionais que se esforçam ao máximo para oferecer uma educação de qualidade aos nossos aprendizes e não se acomodam no fato de serem concursados e estáveis, ainda que não sejam tão notados como os professores das instituições do centro da cidade; o corpo técnico trabalha com muito esmero para proporcionar melhorias à escola e não se resigna diante das dificuldades. Mas o que mais me chamou a atenção foram os alunos.
Durante a minha formação universitária eu sempre vi os educandos de maneira abstrata e distante. Todos me falavam que eles eram difíceis, bagunceiros, desrespeitosos e preguiçosos, e como não tive muito contato com eles (só durante os estágios, e mesmo assim por pouco tempo), acabei aceitando essa imagem terrível. No entanto, não havia me dado conta de que eles eram simplesmente... pessoas.
Quando entrei na sala de aula pela primeira vez e vi todos aqueles olhinhos me observando, percebi, enfim, que meu trabalho nada mais é do que lidar com gente. Parece meio louco, mas foi só então que entendi que não bastava dominar certo conteúdo e algumas técnicas de didática e oratória, pois eu teria que me relacionar diariamente com seres humanos imprevisíveis, cada um com suas histórias e necessidades diferentes, e que só me dariam trabalho se eu não soubesse a maneira certa de tratá-los e atendê-los. Bom, isso tornou a situação bem mais complexa do que eu gostaria e nem preciso dizer que me apavorei, não é?
Mas foi aí que comecei a me lembrar do que a Bíblia fala sobre o ministério de Jesus, o Mestre dos mestres, e de como ele tratou cada homem e mulher que cruzou o seu caminho. Ele soube ser amável, sábio, gentil, rígido e disciplinador nas horas certas, sem exageros. Cristo sempre escutava o que cada um tinha a dizer, valorizando a vida e a necessidade de cada indivíduo. Nenhuma de Suas palavras foi proferida em vão e todas tiveram o poder de transformar a vida dos que as ouviram. Pronto, descobri o modelo perfeito para seguir em minha profissão.
É... hoje posso afirmar com toda certeza que a gente só pode dizer que entende determinada realidade quando a vivenciamos, e é por esse choque entre a teoria e a prática da realidade da sala de aula que estou passando. Ser uma professora iniciante é bastante complicado, mas, passados os sustos iniciais, chego à conclusão de que a única coisa que preciso fazer é me tornar cada dia mais parecida com Jesus. Peço a Deus que eu possa fazer a diferença na vida dos meus alunos, dando contribuições positivas e significativas para o desenvolvimento deles como cidadãos e futuros profissionais, e peço ainda que o sistema e seus entraves não venham a me desanimar. Não será fácil, mas eu tenho fé que o Senhor é por mim.
Desculpe-me o desabafo, caro leitor, mas, como já mencionei, não penso em outra coisa a não ser em tudo que tenho vivido e aprendido nesta nova caminhada. A você que pacientemente conseguiu ler até aqui, muito obrigada.
Que Deus nos abençoe e guarde debaixo de sua Graça e Misericórdia.
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