sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Aeroportinho" é uma "abstração"?

É do conhecimento de todos que o Aeroporto de Macapá teve problemas em relação ao processo licitatório e superfaturamento dos preços. As consequências foram as piores possíveis, a obra ficou paralisada mais de quatro anos, é visível às condições de abandono do que já havia sido construído. Para surpresa de muitos, foi construído em frente do terminal atual, um "puxado", a justificativa é para oferecer maior conforto aos usuários. Na prática, este é um péssimo exemplo em detrimento da obra existente, parece não ter como ser destravado o problema anterior em relação à execução da obra.
Na tentativa de punir os infratores deste tipo de situação como os empreiteiros, negociantes, maus políticos, dirigentes corruptos e os velhos esquemas de sempre, quem paga muito caro por isso é a população que não tem o usufruto esperado. Todos reconhecem os relevantes serviços prestados pela justiça brasileira e a firme atuação dos Tribunais de Contas em todo o Brasil, porém, é preciso enfatizar que o pragmatismo de determinadas ações acabam causando muito mais danos à sociedade do que propriamente aos responsáveis pelas irregularidades. É preciso que as obras irregulares passem por auditorias, sejam identificados os culpados, mas a vida segue pior deste cenário, é perder tudo que foi investido.
Em 2009, escrevi um artigo para o Jornal do Dia denominado: Aeroporto Internacional de Macapá, o objetivo era chamar atenção para o problema existente, de lá para cá, pouca coisa mudou em relação a esta obra. Os nossos representantes de acordo com a imprensa local realizaram algumas tentativas para retomar a obra, porém, sem sucesso. A situação do Aeroporto de Macapá contrasta com os números de acordo com a Infraero, o número de passageiros viajando em todo o país nos últimos cinco anos praticamente dobrou. No caso de Macapá, a situação é ainda mais grave, trata-se de um Estado onde o acesso ou é fluvial ou aéreo, não temos ligação rodoviária para nenhum outro Estado da federação.
Para surpresa dos amapaenses, a Infraero inaugurou a obra na frente do Terminal atual voltado para a pista de pouso. Na prática, é o famoso "puxado", a justificativa é para dar mais conforto aos usuários, no entanto, tal prática configura-se como a falência do Estado brasileiro em conduzir adequadamente situações de obras irregulares como a construção do Aeroporto de Macapá. Neste processo não há nenhum "santo", todos são responsáveis, inclusive o próprio Tribunal de Contas que acredita ter uma única metodologia para todo o Brasil sem levar em conta as especificidades regionais.
O "aeroportinho" é a imagem fiel do Brasil, um país onde não há critérios, múltiplas obras paralisadas pelos motivos mais óbvios possíveis: irregularidades de projetos, de licitação, da empresa que vai executar; do envolvimento de dirigentes; de maus políticos, enfim, é uma engrenagem extremamente perversa. O exemplo do "aeroportinho" retrata a nossa imagem, do improviso, é preferível construir um "puxado" que de fato, retomar as obras do aeroporto. A quem cabe reclamar, a Infraero? A Justiça? Ao Tribunal de Contas? 
O que irá ocorrer não precisa ser futurólogo para saber que esta instalação provisória em breve será definitiva por anos, a estrutura existente do aeroporto paralisada, dita anteriormente será mais uma estatística para cálculos intermináveis dos "justiceiros" dos números.  Não é atoa que em nosso país, vive-se sob a síndrome da desconfiança de tudo. O recente episódio lamentável ocorrido em Santa Maria no Rio Grande do Sul mostra que o nosso problema é de natureza ética e moral, tudo se dá um jeito para burlar algum tipo de sistema oficial.
Então, o "aeroportinho" não seria diferente, acaba sendo fiel a este sistema de improvisação. No Brasil não faltam leis, tem até demais, nem instituições para controlar, fiscalizar, monitorar e outros tipos mais. O nosso problema é estrutural, está relacionado ao sentimento de Nação. No Amapá, não faltam exemplos de como não se deve fazer com a coisa pública. É importante dizer: isso gera atraso, descontinuidades, prejuízos, danos ao erário, e o pior, problemas de longo prazo. Os entraves com o aeroporto emperra o desenvolvimento do turismo.
Assim como em 2009, este artigo tem a finalidade de sensibilizar a sociedade amapaense para compreender a gravidade deste tema. Eleger políticos comprometidos é cada vez mais importante, em nosso país, maus políticos se tornaram profissionais, vivem disso, criam esquemas cada vez mais sofisticados. O que leva um candidato a vereador investir mais de 1 milhão em uma campanha, se em um período de 48 meses, ou quatro anos não irá receber isso?
O "aeroportinho" é a imagem do Amapá! Por aqui, briga-se por tudo, de concurso de beleza a presidência de instituições, mas não se vislumbra a discussão por questões cruciais para o nosso desenvolvimento. No Brasil, tudo é "festa", quando se realiza uma crítica construtiva, vêm logo àqueles sujeitos de plantão criando outros argumentos para desqualificar aquilo que parece irremediável. 

A imagem do Amapá como disse um jornalista de Goiás em anos anteriores é uma "abstração". Este citado jornalista recebeu mais de 4 mil e-mails de protesto por esta matéria. Quantos e-mails receberam os nossos representantes em Brasília, a Infraero e o Tribunal de Contas sobre a paralisação da obra do aeroporto, e agora, do "aeroportinho"? Este tema não é para ser engraçado, é para refletir sobre a mancha que nos envergonha. Pense nisso! Então, deve-se logo pensar que a ideia do "aeroportinho" é uma "abstração"?

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