Como lidar com a depressão no tratamento contra o câncer – Parte I
Poucas coisas na vida são mais arrasadoras do que um diagnóstico
de câncer.
Mas a tristeza natural pode dar lugar a um verdadeiro sabotador do
tratamento: a depressão. Especialistas alertam que é preciso monitorar de perto
o estado mental dos pacientes, pois os recém-diagnosticados estão mais
vulneráveis à depressão clínica e é preciso que esse quadro clínico seja
diagnosticado o quanto antes.
“Um estudo recente, feito pela Universidade de Pittsburgh e
apresentado em um Congresso Americano de Oncologia revelou que a chance de
sobrevida de quem não tinha depressão foi muito maior”, explica o oncologista
Fernando Maluf, chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Morais, da
Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A psicóloga Lívia Maria Silva, do Hospital do Câncer de Barretos,
interior de São Paulo, explica que a depressão pode ser consequência em quem já
tem um humor mais deprimido, que são aquelas pessoas naturalmente mais tristes.
“Quando essas pessoas recebem o diagnóstico do câncer o humor
deprimido pode se transformar em depressão”, explica. “Uma coisa é a pessoa
estar passando por alguma dificuldade, estar com humor deprimido, que é estar
triste e desanimada, mas no outro dia tenta se animar. Outra coisa é a
depressão, em que os sintomas não passam com facilidade”. Quando a tristeza,
apatia e choro persistirem por mais de duas semanas, é necessário buscar ajuda
médica.
Lívia ressalta que o atendimento psicológico é fundamental para o
paciente obter melhoras. “Às vezes encaminhamos o deprimido para o psiquiatra,
para que seja medicado, e o tratamento então é feito em conjunto com a
psicologia”, explica.
Outro caso é a depressão naquelas pessoas que estavam vivendo um
momento feliz, porém, quando recebem o diagnóstico, o mundo desaba. “Eles
pensam que vão morrer. Quando a pessoa entra em contato com a fragilidade da
vida, ela se deprime – e isso pode acontecer bruscamente”, explica a
especialista. “Pessoas deprimidas têm recursos emocionais precários para lidar
com o câncer. A tendência é que eles lidem com a doença de maneira ruim ou até
mesmo abandonem o tratamento”.
Segundo Maluf, outro motivo que ainda está sendo investigado, é
que a depressão pode gerar uma série de alterações em hormônios e proteínas,
que poderia mexer na imunidade e defesas do organismo. “A depressão pode piorar
o prognóstico do câncer, e está sendo pesquisado se a depressão pode até mesmo
causar o câncer”, explica o oncologista.
Para o oncologista, é importante que o médico pare de prestar
atenção somente no câncer, mas que observe mais o doente. “Melhorar a depressão
significa melhorar a qualidade de vida”, diz Maluf. “Se a depressão for
diagnosticada e controlada, o paciente se sentirá melhor, vai ter motivação e
mais aderência ao tratamento contra o câncer. Além disso, o paciente sem
depressão tem uma resposta imunológica melhor”.
Lívia conta que às vezes é o próprio paciente que percebe que está
deprimido e procura ajuda. “Ele normalmente diz que não era assim antes de
receber o diagnóstico do câncer”, explica.
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