sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Como lidar com a depressão no tratamento contra o câncer – Parte I


Poucas coisas na vida são mais arrasadoras do que um diagnóstico de câncer.

Mas a tristeza natural pode dar lugar a um verdadeiro sabotador do tratamento: a depressão. Especialistas alertam que é preciso monitorar de perto o estado mental dos pacientes, pois os recém-diagnosticados estão mais vulneráveis à depressão clínica e é preciso que esse quadro clínico seja diagnosticado o quanto antes.

“Um estudo recente, feito pela Universidade de Pittsburgh e apresentado em um Congresso Americano de Oncologia revelou que a chance de sobrevida de quem não tinha depressão foi muito maior”, explica o oncologista Fernando Maluf, chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Morais, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A psicóloga Lívia Maria Silva, do Hospital do Câncer de Barretos, interior de São Paulo, explica que a depressão pode ser consequência em quem já tem um humor mais deprimido, que são aquelas pessoas naturalmente mais tristes.

“Quando essas pessoas recebem o diagnóstico do câncer o humor deprimido pode se transformar em depressão”, explica. “Uma coisa é a pessoa estar passando por alguma dificuldade, estar com humor deprimido, que é estar triste e desanimada, mas no outro dia tenta se animar. Outra coisa é a depressão, em que os sintomas não passam com facilidade”. Quando a tristeza, apatia e choro persistirem por mais de duas semanas, é necessário buscar ajuda médica.

Lívia ressalta que o atendimento psicológico é fundamental para o paciente obter melhoras. “Às vezes encaminhamos o deprimido para o psiquiatra, para que seja medicado, e o tratamento então é feito em conjunto com a psicologia”, explica.

Outro caso é a depressão naquelas pessoas que estavam vivendo um momento feliz, porém, quando recebem o diagnóstico, o mundo desaba. “Eles pensam que vão morrer. Quando a pessoa entra em contato com a fragilidade da vida, ela se deprime – e isso pode acontecer bruscamente”, explica a especialista. “Pessoas deprimidas têm recursos emocionais precários para lidar com o câncer. A tendência é que eles lidem com a doença de maneira ruim ou até mesmo abandonem o tratamento”.

Segundo Maluf, outro motivo que ainda está sendo investigado, é que a depressão pode gerar uma série de alterações em hormônios e proteínas, que poderia mexer na imunidade e defesas do organismo. “A depressão pode piorar o prognóstico do câncer, e está sendo pesquisado se a depressão pode até mesmo causar o câncer”, explica o oncologista.

Para o oncologista, é importante que o médico pare de prestar atenção somente no câncer, mas que observe mais o doente. “Melhorar a depressão significa melhorar a qualidade de vida”, diz Maluf. “Se a depressão for diagnosticada e controlada, o paciente se sentirá melhor, vai ter motivação e mais aderência ao tratamento contra o câncer. Além disso, o paciente sem depressão tem uma resposta imunológica melhor”.

Lívia conta que às vezes é o próprio paciente que percebe que está deprimido e procura ajuda. “Ele normalmente diz que não era assim antes de receber o diagnóstico do câncer”, explica.



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