sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DONA ANA MARIA EM SUA RESIDENCIA EM UMA RESSACA

DESCASO COM A SAÚDE ALHEIA: “A GLOBALIZAÇÃO DA INDIFERENÇA”



Jamille Nascimento
Redação

A saúde dos amapaenses está sofrendo com o descaso do poder público. E o maior prejudicado é o povo carente, que não tem condições de frequentar consultórios particulares para um tratamento digno, e acabam esperando em filas intermináveis no Hospital  Alberto Lima, o único a atender as diversas especialidades clinicas no Amapá.

Outro “gargalo” da saúde Estadual é o tratamento de câncer, o Estado do Amapá não tem condições de receber pacientes com esse diagnóstico, por falta de espaço físico e de equipamentos. O Sistema Único de Saúde (SUS) está longe de conseguir suprir a metade da demanda da população. Os poucos que conseguem de alguma forma serem minimamente atendidos, as desculpas para a não realização de tratamento são várias: precariedade de médicos e de profissionais da saúde, demora nas autorizações para consultas com especialistas, falta de medicamentos na farmácia do Estado e uma série de outros problemas que poderiam ser resolvidos se os gestores responsáveis por este setor tivessem mais compromisso com a população.

Denúncia
PADRE PAULO ROBERTO FEZ A DENUNCIA

Um exemplo do descaso com a saúde do povo é o da doméstica Ana Maria Ramos da Silva, 53 anos, domiciliada em Macapá, portadora de câncer de mama. A doença foi diagnosticada em 2011 e desde então ela aguarda tratamento na rede pública para dar início ao procedimento de quimioterapia e radioterapia. “Fiz a cirurgia para a retirada de um nódulo na mama em abril de 2013 e aguardo o resultado de uma segunda biópsia para iniciar as sessões. Não faço nenhum tratamento, nem acompanhamento médico desde então. Tomo só remédios para dor” disse a paciente. Suspeita-se que o câncer generalizou para a coluna.

Drama

Em novembro de 2012 Ana Maria foi encaminhada para o HCAL (Hospital de Clínicas Alberto Lima) onde foram solicitados exames especializados, ao qual o Estado não tinha como realizar levando a doente a contar com solidariedade de amigos e familiares para custear esses exames na rede particular. Ao retornar ao Hospital Alberto Lima já com os exames  em mãos encontrou o consultório vazio, e foi informada que a médica Leda Farias, estava viajando por motivo particulares.

Ana Maria aguardou alguns meses, retornou ao consultório e foi surpreendida novamente, desta vez com um diagnóstico um pouco confuso. “A médica me disse que o resultado da minha biópsia tinha dado negativo, que eu não tinha nada com que me preocupar” relata Maria.

Mas as dores continuavam e Ana Maria resolveu refazer a biópsia. Em abril de 2013 a paciente voltou ao Hospital de Clínicas do Estado e procurou a Drª. Leda que vendo o seu estado resolveu submetê-la a um procedimento cirúrgico onde na ocasião foi retirada uma mama. “Diante da gravidade do meu caso ela resolveu me operar, já se passaram quatro meses e ainda não houve contato para realização de nenhum procedimento, pelo o que eu sinto a doença já se espalhou, ela retirou meu seio e nunca me passou um remédio, a Dr. Leda Farias afirma que meu tratamento não foi iniciado por que ainda tenho que fazer mais duas biópsias. Tenho lutado contra tudo, pois acredito que ainda tenho cura” diz Maria.

Procurada pela reportagem a médica Leda Farias, não foi encontrado na UNACON/HCAL, localizamos seu consultório particular na PróVida e  lá fomos informados de que ela se encontrava enferma, mas nos atendeu via celular e disse que conhecia o caso e a paciente, porém que a denúncia não correspondia à verdade. “Os exames apresentado foram realizados por Laboratório Particular e de acordo com eles era negativo o resultado. Comunicamos à paciente que retornou se queixando do crescimento da mama e foram realizados outros exames, no Laboratório Albuquerque, foi quando optamos pela cirurgia. Acompanhamos o pós-cirúrgico e pedimos novos exames para podermos utilizar a quimioterapia ou radioterapia e a paciente não retornou. Quero salientar que não entrei de férias e nem viajei, se prestaram essas informações foi incorreta. Estamos aguardando o retorno de Dona Ana Maria Ramos da Silva com os resultados dos exames e daremos prosseguimento ao seu tratamento” disse a médica.

Negligência

Os relatos são dramáticos e infindáveis, todos os dias crescem o número de casos de câncer no Amapá, o descaso e a incompetência por parte do poder público estão no mesmo ritmo. A maioria das vezes os pacientes buscam ajuda no vizinho estado do Pará, já que o Amapá não faz o seu dever de casa.

Obrigatoriedade de atendimento

A lei 12.732 (que obriga o SUS a oferecer tratamento a pessoas com câncer em um prazo máximo de 60 dias) é uma lei carregada de boas intenções. Mas o mesmo Parlamento que aprovou essa lei é aquele que nega ao SUS recursos para que ela seja cumprida. Dezenas de doentes já se enquadram na nova Lei, porém, o drama continua o mesmo. O que se vê, é o Governo ignorando todas as sentenças emanadas da Justiça. Para todos os cidadãos do Amapá, a Justiça só resolve casos de compra de “dipirona”. Para que todos os pacientes diagnosticados com câncer tenham o seu tratamento iniciado imediatamente, seria preciso dobrar ou triplicar a capacidade instalada, o número de leitos e centros de tratamento.

IJOMA
DONA ANA AMARIA FOI RECEBIDA PELO IJOMA

Padre Paulo Roberto da Conceição Matias de Souza, Presidente e Fundador do IJOMA, afirma: “Depois de tudo o que passamos, ao ouvir uma notícia de alguém com diagnóstico de câncer, sempre me recordo da nossa história. Falar que o SUS é ineficiente e cruel, é mais que comum e alivia a consciência dos gestores estaduais. Aliás, não apenas falar, mas qualquer um que fizer uma visita a uma emergência de hospital público, pode constatar esse fato. No mínimo, com o máximo de boa vontade,  irá se deparar com uma longa espera para o pronto atendimento. Sei que existem exceções, mas no geral, é o quadro que se vê. Vivo isso e ouço vários relatos  que colaboram com essa agonia do SUS” relatou Paulo.
Ele conclui com os olhos cheios de lágrimas: “O momento é sobre tudo de lembrança e de cobrança. E as promessas de campanha sobre a saúde? É preciso denunciar, cobrando, fazendo pressão e desconfiando todo o tempo para não deixar que nada passe sem memória. Mantendo viva a lembrança de cada promessa não cumprida, com toda atenção e vigilância para não deixar que o encanto do marketing político nos cegue eleição após eleição. Não podemos esquecer. Muitos estão morrendo” conclui Padre Paulo.







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