DONA ANA MARIA EM SUA RESIDENCIA EM UMA RESSACA |
DESCASO COM A SAÚDE ALHEIA: “A GLOBALIZAÇÃO DA INDIFERENÇA”
Jamille Nascimento
Redação
A saúde dos amapaenses
está sofrendo com o descaso do poder público. E o maior prejudicado é o povo
carente, que não tem condições de frequentar consultórios particulares para um tratamento
digno, e acabam esperando em filas intermináveis no Hospital Alberto Lima, o único a atender as diversas
especialidades clinicas no Amapá.
Outro “gargalo” da
saúde Estadual é o tratamento de câncer, o Estado do Amapá não tem condições de
receber pacientes com esse diagnóstico, por falta de espaço físico e de
equipamentos. O Sistema Único de Saúde (SUS) está longe de conseguir suprir a
metade da demanda da população. Os poucos que conseguem de alguma forma serem
minimamente atendidos, as desculpas para a não realização de tratamento são várias:
precariedade de médicos e de profissionais da saúde,
demora nas autorizações para consultas com especialistas, falta de medicamentos
na farmácia do Estado e uma série de outros problemas que poderiam ser
resolvidos se os gestores responsáveis por este setor tivessem mais compromisso
com a população.
Denúncia
PADRE PAULO ROBERTO FEZ A DENUNCIA |
Um exemplo
do descaso com a saúde do povo é o da doméstica Ana Maria Ramos
da Silva, 53 anos, domiciliada em Macapá, portadora de câncer de mama. A doença
foi diagnosticada em 2011 e desde então ela aguarda tratamento na rede pública para
dar início ao procedimento de quimioterapia e radioterapia. “Fiz a cirurgia
para a retirada de um nódulo na mama em abril de 2013 e aguardo o resultado de
uma segunda biópsia para iniciar as sessões. Não faço nenhum tratamento, nem
acompanhamento médico desde então. Tomo só remédios para dor” disse a paciente.
Suspeita-se que o câncer generalizou para a coluna.
Drama
Em novembro de 2012 Ana
Maria foi encaminhada para o HCAL (Hospital de Clínicas Alberto Lima) onde foram
solicitados exames especializados, ao qual o Estado não tinha como realizar
levando a doente a contar com solidariedade de amigos e familiares para custear
esses exames na rede particular. Ao retornar ao Hospital Alberto Lima já com os
exames em mãos encontrou o consultório vazio,
e foi informada que a médica Leda Farias, estava viajando por motivo
particulares.
Ana Maria aguardou
alguns meses, retornou ao consultório e foi surpreendida novamente, desta vez
com um diagnóstico um pouco confuso. “A médica me disse que o resultado da
minha biópsia tinha dado negativo, que eu não tinha nada com que me preocupar”
relata Maria.
Mas as dores
continuavam e Ana Maria resolveu refazer a biópsia. Em abril de 2013 a paciente
voltou ao Hospital de Clínicas do Estado e procurou a Drª. Leda que vendo o seu
estado resolveu submetê-la a um procedimento cirúrgico onde na ocasião foi retirada
uma mama. “Diante da gravidade do meu caso ela resolveu me operar, já se
passaram quatro meses e ainda não houve contato para realização de nenhum
procedimento, pelo o que eu sinto a doença já se espalhou, ela retirou meu seio
e nunca me passou um remédio, a Dr. Leda Farias afirma que meu tratamento não
foi iniciado por que ainda tenho que fazer mais duas biópsias. Tenho lutado
contra tudo, pois acredito que ainda tenho cura” diz Maria.
Procurada pela
reportagem a médica Leda Farias, não foi encontrado na UNACON/HCAL, localizamos
seu consultório particular na PróVida e lá fomos informados de que ela se encontrava
enferma, mas nos atendeu via celular e disse que conhecia o caso e a paciente,
porém que a denúncia não correspondia à verdade. “Os exames apresentado foram
realizados por Laboratório Particular e de acordo com eles era negativo o
resultado. Comunicamos à paciente que retornou se queixando do crescimento da
mama e foram realizados outros exames, no Laboratório Albuquerque, foi quando
optamos pela cirurgia. Acompanhamos o pós-cirúrgico e pedimos novos exames para
podermos utilizar a quimioterapia ou radioterapia e a paciente não retornou.
Quero salientar que não entrei de férias e nem viajei, se prestaram essas
informações foi incorreta. Estamos aguardando o retorno de Dona Ana Maria Ramos
da Silva com os resultados dos exames e daremos prosseguimento ao seu
tratamento” disse a médica.
Negligência
Os relatos são
dramáticos e infindáveis, todos os dias crescem o número de casos de câncer no
Amapá, o descaso e a incompetência por parte do poder público estão no mesmo ritmo.
A maioria das vezes os pacientes buscam ajuda no vizinho estado do Pará, já que
o Amapá não faz o seu dever de casa.
Obrigatoriedade
de atendimento
A
lei 12.732 (que obriga o SUS a oferecer tratamento a pessoas com câncer em um
prazo máximo de 60 dias) é uma lei carregada de boas intenções. Mas o mesmo
Parlamento que aprovou essa lei é aquele que nega ao SUS recursos para que ela
seja cumprida. Dezenas de doentes já se enquadram na nova Lei, porém, o drama
continua o mesmo. O que se vê, é o Governo ignorando todas as sentenças
emanadas da Justiça. Para todos os cidadãos do Amapá, a Justiça só resolve
casos de compra de “dipirona”. Para que todos os pacientes diagnosticados com
câncer tenham o seu tratamento iniciado imediatamente, seria preciso dobrar ou
triplicar a capacidade instalada, o número de leitos e centros de tratamento.
IJOMA
DONA ANA AMARIA FOI RECEBIDA PELO IJOMA |
Padre Paulo
Roberto da Conceição Matias de Souza, Presidente e Fundador do IJOMA, afirma:
“Depois de tudo o que passamos, ao ouvir uma notícia de alguém com diagnóstico
de câncer, sempre me recordo da nossa história. Falar que o SUS é ineficiente e
cruel, é mais que comum e alivia a consciência dos gestores estaduais. Aliás,
não apenas falar, mas qualquer um que fizer uma visita a uma emergência de
hospital público, pode constatar esse fato. No mínimo, com o máximo de boa
vontade, irá se deparar com uma longa espera para o pronto atendimento.
Sei que existem exceções, mas no geral, é o quadro que se vê. Vivo isso e ouço
vários relatos que colaboram com essa agonia do SUS” relatou Paulo.
Ele conclui com os
olhos cheios de lágrimas: “O momento é sobre tudo de lembrança e de cobrança. E
as promessas de campanha sobre a saúde? É preciso denunciar, cobrando, fazendo
pressão e desconfiando todo o tempo para não deixar que nada passe sem memória.
Mantendo viva a lembrança de cada promessa não cumprida, com toda atenção e
vigilância para não deixar que o encanto do marketing político nos cegue
eleição após eleição. Não podemos esquecer. Muitos estão morrendo” conclui
Padre Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário