sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Por uma iconoclastia sadia


                                                      


Digam o que disserem a respeito  de sua derrota na última luta, Anderson Silva tem razão ao afirmar que os brasileiros "querem derrubar os ídolos". Em uma entrevista para o site Combate, o ex-campeão dos pesos-médios declarou o seguinte: "É um mal cultural dos brasileiros. Eles acreditam muito nos ídolos, mas depositam as frustrações neles. Quando eles não vão bem, querem derrubar os ídolos. Mas o trabalho continua. Vamos tentar trazer o cinturão de volta para o Brasil".


De fato, os brasileiros não sabem lidar com a derrota daqueles que colocaram sobre um pedestal. Sofrem junto, de uma maneira não sadia, e depois de voltam contra os antigos deuses. Esse fenômeno entre os brasileiros é observável em relação a qualquer nome notório que tenha despertado comoção nacional, seja por grande ou insignificante feito, e que, após uma falha, acabou sofrendo rejeição em massa, como é o caso do próprio Anderson Silva.

O mundo virtual é a principal arma dos arautos de ídolos decaídos, muito provavelmente pela abrangência, frivolidade e impunidade do meio. Nas redes sociais e sites com espaço para comentadores, vemos o povo despejar suas mais ferozes manifestações de apreço ou repulsa por suas celebridades. Como explicar tal vigor? Parece que exigimos de nossos ídolos não apenas uma postura que seja digna da admiração que lhe dedicamos, mas também que sejam perfeitos, sobre-humanos - o que é impossível. Com nossas demandas irreais, ferimos aos ídolos e a nós mesmos, fazendo de decepções bobas um motivo de depressão ou ódio.

Apreciadores de luta ou não, fãs de Anderson Silva ou não, o fato é que todos nós pudemos observar a febre da idolatria dedicada ao Aranha enquanto este permanecia invicto, defendendo o cinturão de campeão na categoria Peso-Médio do UFC (Ultimate Fighting Championship). Surgiram então até boatos de que seria invencível e, se duvidar, inclusive imortal. Dizia-se que algo em seu DNA o fazia diferente, que sua flexibilidade e agilidade não eram humanas e, sem mais exageros, que ele poderia ser mesmo o real e único super-herói nacional. Perdeu a última luta, contra o norte-americano Chris Weidman, e o Brasil mergulhou em luto, perdendo seu símbolo.

Mas, logo em seguida, deposta a tristeza, veio a rejeição feroz. Criticando a atuação "brincalhona" de Anderson no octodromo, coisa que antes era tão aplaudida e celebrada - percebam já a contradição -, nós, brasileiros, rapidamente viramos a casaca e passamos a perseguir aquilo que endeusávamos, porque os deuses não corresponderam às expectativas.

O erro, contudo, não está nos notórios nomes que experimentam derrotas ou momentos difíceis nas carreiras. O erro está em nós que enxergamos neles uma espécie de messias e, em suas causas, nosso próprio nirvana. Não é nada disso. Que aprendamos a admirar os que são admiráveis, sem, contudo, exigir que sejam mais do que são: uma reluzente distração.

Anderson Silva nocauteado por Chris Weidman, para desesperado dos idólatras

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