quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Uma maluquice só!


Pensando bem, no passado os malucos eram contados na ponta dos dedos. Dois eram mais conhecidos. O Maluco Beleza e o Menino Maluquinho, do Raul Seixas e Ziraldo, respectivamente.
Eram inofensivos, limitavam-se a ser malucos sempre fazendo o bem. Já nos dias atuais, o que se vê são malucos por todos os lados. Inconsequentes, praticam o mal, saqueiam, desafiam as pessoas de bem, estupram, praticam chacinas, ameaçam os pais, e até assassinam. Xingam os professores, brigam no trânsito por qualquer coisa, batem em mulheres e cometem os mais variados desatinos.
É claro, já passamos dos sete bilhões de habitantes no planeta, e em nosso país estamos chegando aos 200 milhões. Seria impossível achar que tantos malucos, de todos os tipos e classes, não passassem a desfilar desenvoltos em todos os espaços.
Desde as manifestações que aconteceram em junho, quando a população foi às ruas por todo país reivindicando melhorias nos serviços públicos, surgiram manifestantes dos mais variados tipos. Tudo estava longe de ser uma novidade no Brasil, mas, pela primeira vez, começou a ganhar protagonismo inédito e o vandalismo ganhou destaque em todas as manifestações públicas.
De repente, centenas de milhares de brasileiros se deram conta de que podiam, de alguma forma, usar as ruas para expressar sua insatisfação a respeito da política brasileira. Em um desses raros momentos da história nacional, o cidadão comum percebeu que a política não é propriedade privada dos políticos, e se deu conta de que ela se faz no dia a dia, na rua, em vários lugares. De vez em quando, até no Congresso.  
Aqui é preciso abrir um pequeno parêntese para falar do Rio de Janeiro e agora São Paulo, lugares em que os protestos de fato continuam com força depois de junho, inclusive causando estragos, e em toda e qualquer manifestação, as atenções são concentradas nos mascarados,  ou seja, nos "black blocs".
Como a imprensa brasileira não usava o termo "black blocs", na cobertura dos protestos no país, a população demorou a identificar estes manifestantes, mas eles já eram bem conhecidos da mídia internacional, principalmente da europeia e da norte-americana. Ganharam ainda mais projeções durante as manifestações contra a reunião do G8 realizada em Gênova, na Itália, em julho de 2001.
Esta manifestação se deu por ocasião do Dia da Ação Global, em 20 de julho de 2001. Foi a maior mobilização do gênero até então e nesse dia as ruas de Gênova foram tomadas por mais de 300 mil pessoas, entre as quais marchou o maior "blak bloc" organizado até então. Gênova marcou um divisor de águas para a tática "black bloc" e para o chamado "movimento antiglobalização" como um todo.
Assim como acontece hoje no Brasil, o debate sobre o uso da violência nas manifestações - mesmo que apenas contra a propriedade privada como bancos, lojas e outros - tem criado uma  divisão entres os ativistas "violentos" e "pacíficos" que contribuiu para desmobilização do movimento como um todo. Mas será que o simples ataque a agências bancárias e concessionárias de carros de luxo faz sentido em uma mobilização que não passam de algumas centenas de pessoas sem uma bandeira clara? A população tende a repudiar esse tipo de ação. Para que serve essa ação?
Isto é o reflexo das organizações tradicionais da esquerda, como os partidos políticos e sindicatos, simplesmente não estão conseguindo se sintonizar com as pessoas que saíram às ruas em junho, justamente por estarem sintonizados apenas em suas agendas, olhando com desconfiança para qualquer um que não seja filiado a uma organização formal.
Ao fazerem isso, reproduzem no nível da rua a mesma lógica de quem está no poder: a ideia de que a política é um assunto para iniciados e especialistas, da qual só podem participar aqueles devidamente credenciados por organizações estabelecidas, sejam elas partidos, sindicatos ou movimentos sociais.
Os gritos de junho foram, acima de tudo, um grito contra o abismo que existe entre a política institucional e o cidadão comum, criado por políticos profissionais (de todos os partidos) que colocam o jogo da politicagem acima da defesa de bandeiras concretas de interesses da população, e não o que os "black blocs" estão praticando.
Em breve, ser maluco vai ser mais regra do que exceção. Aí, então, vai ser uma maluquice só. E você, é regra ou exceção?

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