O que vai além da Ponte Binacional entre o
Amapá e a Guiana FrancesaAutor: José Alberto Tostes
A cidade de Oiapoque foi sendo condicionada nas últimas décadas pela
dinâmica da fronteira e pela perspectiva que se formou ao longo dos anos em
relação a construção da ponte binacional. Isso tem implicado em uma diversidade
de situações para a cidade e para o município, tal fato tem evidenciado os
inúmeros problemas em relação a definição fundiária do território e as
limitações expostas pelos entraves em novos investimentos.
Outro fator que se constata, é que o vetor da BR 156 determinou um eixo
longitudinal em relação às margens da rodovia, tal concepção foi decisiva para
o aumento de todo o processo de especulação imobiliária, ocasionando grandes
dificuldades para que o poder público investisse em um planejamento urbano e
atendesse a este novo cenário.
Deve-se ressaltar que nesta década do novo milênio a cidade de Oiapoque
teve inúmeros episódios que influenciaram no redimensionamento do espaço urbano
da sua sede. A expulsão de brasileiros da cidade de Saint Georges, acabou
culminando na formação de Vila Vitória, um aglomerado de habitações, muitas
delas em condições estruturais precárias.
O fato marcante para a cidade de Oiapoque nos últimos anos, sem dúvida,
foi a construção da Ponte Binacional sobre o rio Oiapoque, teoricamente é um
avanço significativo de anos de diálogos e retomadas das propostas de
cooperação transfronteiriça entre o lado brasileiro e guianense, desde a década
de 1990, quando se estabeleceu um amplo processo diplomático entre os países
com foco na fronteira, sobretudo com a promulgação do Acordo-Quadro
franco-brasileiro de 1996.
Porém, é preciso ser trabalhado a ideia da ponte como algo
que supera não somente as barreiras físicas, mas o discurso contrário por parte
das autoridades da Guiana e dos guianenses sobre a guiana e sobre o próprio
Amapá, como algo atrasado em relação ao contexto do Brasil e França. Apesar do
ceticismo, não há como deixar de constatar que o fortalecimento das relações
entre Brasil - França (Amapá e Guiana) passa acima de tudo por uma mudança de
comportamento de ambos os lados, em reconhecerem que possuem pontos em comum,
são realidades periféricas e distantes do centro oficial de decisão, e que,
portanto, a evolução de um ou de outro passa em se assumirem literalmente
através das identidades locais em que estão inseridos.
Sobre a cidade de Oiapoque é fato que os
investimentos estruturantes idealizados sobre o território deste município não
escondem as fragilidades históricas decorrentes da maneira como este lugar tem
sido tratado institucionalmente. A pouca aplicabilidade de gestão sobre o
território, as debilidades sobre as áreas urbanas formando um mosaico no
município inteiramente fragmentado, evidencia as consequências da falta de
investimentos estruturais neste importante município brasileiro.
As implicações em
torno da BR 156 são inúmeras. O atraso ao longo dos anos na conclusão da obra, a fragmentação de
projetos institucionais considerados estratégicos para o país e para o
desenvolvimento regional, as conveniências políticas contribuíram para a percepção
de um sentimento adverso e descrença do lado brasileiro. A ponte e a BR 156
canalizaram nos últimos anos o centro das atenções tanto em relação ao Amapá,
quanto a Guiana Francesa, do lado francês, foram cumpridos os investimentos
previstos, do Amapá restou a "eterna" briga sobre quem é que merece
os créditos.
Segundo Silva & Tostes (2011) para existir
uma cooperação ditada por um conjunto de leis de mercado, é necessário ir além
das questões apenas de ver o contexto atual das redes de conexões e questões
geopolíticas. Há que se trazer para discussão temas relacionados à cultura
local, em vez de se prender as estratégias duvidosas. Defende-se a cooperação
equitativa para integrar os olhares e as representações recíprocas. Do lado
brasileiro, será imprescindível o apoio e a colaboração, visando auxiliar a
Guiana e evitar somente a exploração. Na direção oposta, a relação entre o
Brasil e a Guiana deverá apresentar alterações significativas, caso contrário
continuará desequilibrada e frustrante para ambos os lados.
Os
episódios recentes sobre as condições no entorno da ponte, principalmente do
lado brasileiro, coloca na tela do debate as imensas fragilidades
institucionais e políticas, prevalecendo as discórdias políticas em detrimento
de algo mais consistente que possa acenar com a perspectiva de futuro para
ambas as regiões. O certo é que a ponte está concluída, sem ter sido
equacionado algo elementar para funcionar de fato, a materialidade física das
condições de entorno.
Distante
de uma discussão puramente tupiniquim de quem é quem neste processo,
vislumbra-se com alguma seriedade o seguinte: De acordo com Silva & Tostes(2011),
o elo entre a ponte binacional e a estruturação da Rodovia BR 156 implica em
uma série de configurações no espaço geográfico do norte da América do Sul a
partir do estado do Amapá. Este elo deve ser relacionado a uma série de interesses
em diferentes escalas geográficas. Tais autores destacam os seguintes aspectos:
a instalação de um sistema de engenharia (portos; aeroportos; rodovias;
sistemas de telecomunicação entre outros) facilitando a integração regional a
partir da concepção de fronteira como um sistema
aberto ao contrário da visão geopolítica clássica.
Silva &
Tostes(2011) destacam ainda que os anseios de franceses e brasileiros na
possibilidade de aproximação entre os países com mais acordos comerciais,
transferências tecnológicas e gestão compartilhada de conhecimentos e uso da
biodiversidade tropical é algo crucial nesta cooperação. Outro fator importante
será a conexão rodoviária entre as
capitais Macapá e Cayenne, facilitando a circulação de mercadorias e capitais
entre essa região transfronteiriça e também para mercados mais ampliados.
A configuração
estruturada da rodovia transguianense, via de circulação que compreende uma
rede técnica que vai de Macapá até Boa Vista passando por faixas do território
da Guiana Francesa; Suriname e República Cooperativa da Guiana, bem como a
estruturação das cidades gêmeas de Oiapoque e Saint Georges para receberem
investimentos que contribuam ao desenvolvimento regional e não funcionem apenas
como cidades-passagem. Portanto, é
pífia e pobre a discussão sobre ponte, ficar resumida somente as condições
físicas sobre o seu entorno. Daí a pergunta: O que vai além da Ponte Binacional
entre o Amapá e a Guiana Francesa?
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