sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um último lamento em 2013


Gabriel Rodrigues Fagundes


Eu queria que fosse diferente, porém confesso que é uma tarefa muito pesarosa escrever sobre o que escreverei. 2014 bate à porta e nós precisamos, como sempre, refletir. Pois bem, aqui estou, distante de minha terra. Parece que só daqui eu enxergo as coisas direito, se é que você me entende. As coisas se tornaram mais nítidas. Das coisas que falo, que tornam a escrita, como disse, pesarosa, você vai já saber.

Agora não há mais desculpa, não posso me acovardar. O lamento que guardo no peito nasceu para isso, para ser lamentado.

Tento me animar às vezes e digo em alta voz: pra frente Brasil! Porém, se puder, me responda, querido leitor: como vamos pra frente, do jeito que está? Eu tenho que concordar com você: não vamos! Vamos pra trás. Assim, num constante – e inacreditável, lamentável, indesculpável... – movimento retrógrado. É uma coisa ruim atrás doutra. Ah, Brasil...

O que você me diz, amigo leitor? Há algo que nos possa consolar? Alguma notícia? Algum avanço? Eu mesmo penso que não. Mas talvez eu esteja sendo pessimista. É que, a meu ver, ser pessimista neste nosso país é no mínimo razoável. Porque veja, embora toda nossa exuberância, nossas florestas, nossas águas, nossas mulheres, nossas praias, nosso petróleo, enfim, tudo de bom que temos não nos valem de nada. Tomo como exemplo – e sobre esse exemplo eu posso falar com propriedade (certa propriedade) – a minha querida e amada terra, meu Amapá. Nada aí é nosso, apesar de pensarmos que sim. As nossas áreas preservadas? Há mais gringo as estudando, as explorando do que amapaense aproveitando o que ela pode oferecer.

 Na verdade, o Amapá é e sempre foi coadjuvante nesse filme de áreas preservadas, desde a sua gênese, quando FHC realizou os decretos que as criaram até os dias de hoje. Nosso governo dá mais autorização para os gringos plantarem eucalipto, retirar ferro, manganês, enfim, retirar dinheiro do nosso solo fértil de imensos tesouros do que qualquer outra coisa... E o que ganhamos com isso? Isso mesmo, nada. Eu não sou especialista ou algo do tipo, mas para afirmar que nós não tiramos proveito das nossas riquezas da melhor forma possível, isto é, da forma certa e devida, não é preciso ser. Você não concorda?


Pois é, os ambientalistas, coitadinho deles, vão “cair de pau”. Amigos do Green Peace, WWF e derivados: o que vocês têm a me dizer? Já sei! Certamente dirão triunfantes que nós, o povo amapaense, contribui para a preservação e bem-estar dos seres habitantes do planeta. Estamos salvando o mundo! Só que não. Uma pena. Estamos sim, ah sim, ficando cada dia mais e mais pobres. Aí, no Oiapoque, a prostituição infantil deve continuar desvairada. A emigração ilegal em busca de um lugar ao sol na Guiana, digo, de uma pedrinha de ouro, que resulta na morte de muitos dos nossos, não para. E não para de crescer eucalipto no caminho de Ferreira Gomes. Aliás, estava prevista para março deste ano a banda larga, não é mesmo? Sim, eu lembro. Sem falar das ruas finalmente trafegáveis, sem buracos, asfalto de verdade, os bueiros sem lixo, água da chuva caindo sem constrangimento ou enchente, tudo promessa antiga. E o sonhado aeroporto decente, com vários condicionadores de ar que realmente gelam ou ao menos refrescam? E as escolas reestruturadas, com professores bem pagos, quer dizer, pagos de forma justa? Ah, esqueci de que todos os professores agora tem um notebook. Só não tem dinheiro pra comprar um açaí pelo umas duas vezes por semana... Sinto falta do nosso açaí. Até porque onde estou dizem que vendem açaí, mas mais parece água roxa com gosto de hortelã. É só o bagaço.

Querido leitor, voltando a minha lástima, permita-me culpar a mim mesmo por esse nosso Estado caótico, abandonado, que segue num rumo totalmente obscuro. Eu me culpo. Sinto-me culpado. Sinto-me omisso, despreocupado, descompromissado com o desenvolvimento do nosso Estado. Talvez eu esteja me culpando demais. Ou não? Então pelo menos eu posso afirmar que faço parte disto. Você entende? Desse rumo em que seguimos. Eu não estou mais aí, mas isso não me tira a responsabilidade de um cidadão amapaense. Onde vamos parar? Do jeito que está, vamos ser sinceros, não vamos parar em lugar nenhum, não à nossa frente. Vamos simplesmente ficar parados. Vamos ficar parados onde estamos, de onde nunca saímos, de onde não sei quando sairemos. E olha que já estamos assim há um longo tempo...

Confesso, por fim, que só sinto aperto em meu peito quando penso na minha pobre Macapá. É tanta desgraça em pouco tempo que, veja bem, não dá pra acreditar. Como é lento o seu crescimento, minha preciosa Macapá! E por maior que seja o seu intento em se desenvolver e avançar, a politicagem continua a ser o mandamento. E não adianta denunciar. Eles (vocês sabem de quem falo) voltam das cadeias rapidinho. Assumem de novo, e fazem todas as bostas de novo. E diante disso nós xingamos, fofocamos, até chegamos a ir as ruas, fazer um protesto aqui, outro acolá, mas não passa disso. Voltamos ao nosso aconchegante sofá e pronto. Não fazemos nada além. Nada, nada, nada. Parece que pra sempre morreremos na beira da praia. Finalizarei sem finalizar. Eu só sei que não sei. Não sei se é macumba ou se é mesmo azar. Até quando vamos ficar assim, meu povo macapaense? Até quando vamos prosseguir assim, meu Amapá? Até quando, meu amigo leitor?


Deixo com você as palavras do Gabriel o Pensador: “Até quando vamos ficar levando – Porrada! Porrada! Até quando vamos ser sacos de pancada?”. Joaquim Barbosa está apanhando por fazer justiça (já disseram isso na TV...) mandando os mensaleiros pra prisão. Mas isso é conversa pra outra hora. Que 2014 seja um ano de avanços, sejam eles pequenos ou grandes. Tanto faz, qualquer avanço é lucro, pro Amapá e pro Brasil.


O autor desse artigo foi estagiário do Jornal Tribuna Amapaense e produziu bons trabalhos, principalmente os investigativos. Hoje está atuando fora do Estado do Amapá, porém sem perder o vínculo e a cidadania pelo seu torrão natal.

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