sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

ANTENADOS


Quer escrever? Escreve!

Bárbara de Azevedo Costa


Muitas pessoas já chegaram até mim e disseram que queriam escrever, mas não conseguiam. Essas pessoas todas tinham uma coisa em comum: não sabiam escrever exatamente porque não se propunham a começar.
Escrever talvez seja o ofício que melhor expresse a verdade por trás dos "talentos naturais". Algumas pessoas podem ter, de fato, predisposição a certas atividades. Mas essa história de talento inato é mito, na maioria das vezes. Ninguém precisa nascer com a pena na mão para querer ser um escritor e para ser um escritor. É preciso apenas... Escrever. E, escrevendo, aprimorar-se.
Aprendi na faculdade que escritor só é aquele que tem livros publicados por editoras, que foi lido por um número considerável de pessoas, que está incluso no sistema literário. Discordo! Tenho aprendido e aceitado que ser um escritor está muito além, muito acima de ter livros publicados. Ao mesmo tempo em que é maior do que isto, também é muito mais simples. Em palavras básicas: escritor é quem escreve.
Tenho buscado escrever cada vez com mais fome, com mais gana. E hoje, se me perguntarem: "O que você acha que eu preciso para ser um escritor?", digo, sem dúvidas: "Escreve!". Lygia Fagundes Telles em algum momento disse que essencial à espiração da escrita era que o indivíduo lesse bastasse, e lesse os clássicos. Não nego. Mas complemento: em alguma hora, é necessário começar a escrever.
A leitura, de fato, ajuda a desvendar um mundo diante dos olhos. Na verdade, é a própria leitura que desperta o desejo da escrita, na maioria dos casos. Mas sempre chega o momento em que você já leu o suficiente para, pelo menos, começar a se aventurar pelo verbo. 
Meu conselho então é que você comece de vez. No início, pode ser bastante difícil. Dentre outras pedras no caminho, quando começamos é complicado encontrar pessoas que queiram nos ler, nos criticar produtivamente. Não é que as pessoas ao nosso redor não acreditem em nós ou em nosso potencial. Elas apenas não prestam atenção porque nunca nos viram escrever nada, nunca souberam que havia esse desejo dentro da gente.
Inclusive nós mesmos, muitas vezes, não queremos ler as próprias coisas que escrevemos. Tudo parece soar ruim, torto. Você sente vontade de chorar ao ver todas as vírgulas que esqueceu ou ao lidar com os "exelentes" e as "esseções". Mas isso é apenas o começo. Sua mão está atrofiada, e pode doer um pouco, porque nunca foi usada tanto assim. 
Ademais, outra grande frustração é pensar as coisas mais maravilhosas e não conseguir traduzir em palavras no papel. Isso acontece porque a velocidade com que pensamos é muito maior do que a habilidade que nossa mão tem para escrever. Se você tem mais habilidade com o teclado, mais rapidez no computador do que com o lápis, não se envergonhe de não escrever no papel e se lance à tela sem medo.
Apesar dos pesares, esse processo inicial da escrita é bom, porque funciona como autoconhecimento. Você descobre os temas que mais lhe agradam, aqueles sobre os quais escreve com mais facilidade, maior fluidez. Começa a desenvolver seu estilo, e é aí que as leituras que você fez irão mostrar toda a pujança. 
Sua escrita reflete as coisas boas com as quais você se alimentou, então coma o que é bom! Porcarias fazem bem também, à medida que você saiba aproveitar aspectos produtivos. Depois, quando começar a escrever com mais vigor e frequência, tudo vai se tornar natural. E então você será, mais cedo ou mais tarde, o grande escritor da família. Apenas comece. Agora. Já.

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