sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ARTIGO DO TOSTES

JOSÉ TOSTES


A visão metodológica do Planejamento urbano


O planejamento constitui um processo que visa analisar os conflitos inerentes as diversas questões urbanas de ordem social, espacial, cultural, econômica e ambiental. Não é um processo finalizado por onde a cidade deve traçar seus passos para alcançar uma proposta de desenvolvimento, é, sobretudo, um trajeto dialético, e como tal, deve estar de acordo com os interesses de várias coletividades, e deve, também, ser periodicamente revisado, para que os conflitos entre gerações distintas sejam pesados durante a construção da cidade (HARVEY, 2006.).
É inegável que todo o conjunto da problemática urbana tem a sua maior referência na revolução industrial, é no advento do processo de industrialização, que o capitalismo é alçado como o motor das transformações urbanas contemporâneas. A industrialização decorre de todo processo de fortalecimento do interior da vida urbana e gerador do estágio atual das cidades aos moldes atuais definidos para atender a necessidade de mobilidade para reprodução do capital e do próprio espaço urbano.
A sociedade se tornou induzida por este processo, tanto o espaço quanto a própria sociedade, de alguma forma houve a parcela de adaptabilidade às mudanças do meio urbano (LEFEBVRE, 2010). Sempre que se quebra algum paradigma, buscam-se novos efeitos através outras comparações históricas. Tais comparações permitem perceber os ciclos históricos entre as relações que determinam e avaliam o comportamento urbano, seja nas cidades medievais ou nas cidades modernas, com  relação aos meios de produção e de trabalho, no período medieval ou moderno são significativas. Se na sociedade medieval o trabalho foi caracterizado pela opressão, na contemporânea é substituída pela exploração; se a produção medieval era caracterizada pela criação artesanal, na moderna é banalizada  (LEFEBVRE,2010).
LEFEBVRE (2010) discute, os conflitos urbanos modernos ocorreram pela  substituição dos valores de troca pelos valores de uso. A cidade é uma obra, e esta característica contrasta com a orientação irreversível na direção do dinheiro, na direção do comércio, na direção das trocas, na direção dos produtos. Com efeito, a obra é valor de uso e o produto é valor de troca. O uso principal da cidade, isto é, das ruas e das praças, dos edifícios e dos monumentos, é a Festa (que consome improdutivamente, sem nenhuma outra vantagem além do prazer e do prestígio, enormes riquezas em objetos e dinheiro. (LEFEBVRE, 2010, p. 12)
O valor de uso e troca na cidade é determinado principalmente pela intensidade provocada pela dinâmica entre os agentes sociais que interagem sobre o espaço. O valor de troca e a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, a subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embrião de uma virtual predominância e uma revalorização do uso.  (LEFEBVRE, 2010, p. 14). A afirmação evidencia a questão a partir deste momento da forte influência do produto industrial e da marca definitiva na troca das relações simbólicas da influência e poder do capital.
 Importante trabalho foi desenvolvido por Amado (2009)  sobre o planejamento urbano sustentável, o autor destaca vários métodos de planejamento elaborados no último século, para avaliá-los frente a proposta de desenvolvimento urbano sustentável revisitados nesta monografia. Sua abordagem ao planejamento quanto processo trouxe a seguinte definição. De acordo com este autor, o método constitui um processo racional de tomada de decisão onde se identificam os objetivos, se desenham propostas de execução, se conjugam meios operativos, se programam ações e se reveem resultados face aos objetivos iniciais (FIDELIS apud AMADO, 2009, p. 28).
 Amado destaca ainda que entre os modelos desenvolvidos estão: O planejamento racional: que volta seu foco para o desenho e a paisagem urbana; Os modelos compreensivos e incrementalista: que são entendidos como uma evolução do racional, e acrescentam mais elementos de análise ao planejamento racional; O modelo advocativo (ou advocatório como apresenta também o mesmo autor): centra o foco no componente social e político para as tomadas de decisão.
E o modelo participativo: difere-se dos outros por seu amplo espectro de elementos de estudo, de valores associados e principalmente pela participação de diversos grupos de interesses. Além dos métodos inicialmente apresentados, coloca outros dois que foram desenvolvidos e adaptados ao planejamento: o método científico e o método do desenho urbano adaptado ao método científico. Os métodos científicos compõem-se por cinco etapas chaves: teoria, hipóteses, observações, generalizações empíricas e decisões, destinadas a atender os critérios do método científico. Outras etapas podem ser inseridas durante o processo de investigação para auxiliar na operacionalidade do método (AMADO, 2009).
Para (TOSTES, 2011), a visão metodológica do Planejamento Urbano passa essencialmente pela compreensão dos aportes históricos, sociológicos, filosóficos, culturais, técnicos e mais recentemente os aspectos de caráter tecnológicos e conceituais. Entender esta configuração visa ampliar o repertório de análise e avaliação da realidade urbana local, regional, nacional e internacional, e ter melhores condições de propor, sugerir, controlar e monitorar as reais condições sobre os avanços da qualidade de vida urbana e a eficácia dos diferentes níveis de planejamento urbano.

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