sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014



"Professor é profissão. 
Educador é missão."
Dêisse Gemaque Valente Andrade - Educadora







Reinaldo Coelho

A editoria 'Pioneirismo' desta semana encontrou uma educadora macapaense da 'gema', a professora e escritora Dêisse Gemaque Valente Andrade, que traz em suas raízes a cultura do Igarapé do Lago, em Macapá, onde tem uma casa para curtir a natureza bucólica durante as férias.
Dêisse é filha do funcionário público municipal José Valente dos Santos e de Sebastiana Gemaque dos Santos (em memória), ambos nascidos em Igarapé do Lago. 
Dêisse tem 14 irmãos, dos quais 5 são do primeiro casamento do pai e 9, incluindo ela, do segundo matrimônio. Ainda menina, aproveitou as brincadeiras infantis na Baixada da Maria Mucura, no Centro de Macapá. "Depois fomos morar na Rua São José com a General Osório, no bairro do Laguinho. Tive uma infância maravilhosa, porém, sempre quis ter minha independência e aos oito anos comecei a trabalhar na loja de uma tia, a 'Casa Ajuda Teu Irmão', aonde fiquei até passar no concurso do governo federal para o magistério".

Juventude e família
Ainda jovem, Dêisse Valente adorava festas. Ela conta que dançou muito nos clubes de Macapá, como Amapá Clube, Trem Desportivo Clube e a Piscina Territorial. "Eu amava as festas da Macapá antiga, amava dançar. Eu tinha uma amiga que tinha sido minha professora, Iracema Mendes, e gostávamos de sair juntas para as festas".
Foi na saída das aulas do Instituto de Educação do Amapá (Ieta), ao atravessar a praça Barão do Rio Branco, que Dêisse encontrou o jovem Juarez Andrade, estudante do Ginásio de Macapá. Ali se conheceram e começaram a namorar. "O engraçado desse namoro é que o Juarez não gosta de dançar. Ele é pacato e eu agitada, então deu certo. Eu tinha 20 anos. Estamos casados desde 1974. São 40 anos de vida conjunta, com três filhos: Rômulo, que trabalha com recursos humanos e é acadêmico de direito, Fabiano, que faz administração de empresa, e José Juarez, de sistema de informática. Eles nos deram três netos homens e uma princesa". 

Estudos
Dêisse Valente frequentou os tradicionais colégios amapaenses Barão do Rio Branco e Ieta, onde fez o curso de normalista e em seguida o pedagógico. Também fez o curso de administração no então Colégio Comercial do Amapá (CCA). "Minha mãe dizia que filho de pobre tinha de estudar no Ieta. Foi o que fiz. Saí de lá concursada e pronta para a carreira do magistério".

Trajetória no magistério 
Pequena, mas esperta, Dêisse Valente enfrentou aos 18 anos uma sala de aula, com coragem. "Quando terminei o curso normalista submeti-me ao concurso do governo e fui aprovada em 2º lugar,  e a então diretora de educação, professora Graziela Reis de Souza, me nomeou para a escola José de Anchieta, que tinha sido inaugurada, e a diretora era a professora Rubenita Muniz". 
Dêisse conta que enfrentou muitas dificuldades. A jovem professora cursava pela manhã pedagogia e no período da tarde lecionava. Ela ainda precisava lidar com a distância da casa onde morava, no bairro Laguinho, até a escola, no bairro Santa Rita. À época, não havia coletivo e ela utilizava uma bicicleta para se deslocar. Por causa das dificuldades, ela pediu transferência e foi designada para a escola José do Patrocínio, em Fazendinha, para onde havia transporte do governo. "Foi um grande aprendizado para a minha formação de educadora. Eu era muito nova, era gostoso trabalhar. O administrador do distrito de Fazendinha, Silvio Camilo, me chamava de 'minha menina'. Foi muito proveitoso os quatros anos que ali passei".
A professora também trabalhou em Porto Grande, onde ficou durante um ano. "Vim do Porto direto para a escola Antonio João, que tinha como administradora a professora Maria de Nazareth Braga, uma excelente educadora e grande administradora. Ali aprendi a trabalhar em equipe e ter garantia do exercício do magistério com o apoio da direção da escola. Ela era rigorosa na disciplina dos alunos e com os professores, o que ali aprendi levo até hoje na minha vida".
Dêisse Valente lembra que trabalhou com outras grandes mestras, como Zoraide Coelho do Nascimento, Iranilde Ribeiro, Maria Antonia.
Com a experiência adquirida, Dêisse Valente foi administrar a Escola Paroquial São Benedito, no bairro Laguinho. "Naquela época não existia remuneração para o cargo de diretor de escola, porém, valia como currículo. Logo em seguida fui nomeada para lecionar artes industriais no Ieta, escolhida pela então diretora Dêisse Nascimento, onde fiquei 23 anos. E ali me aposentei".
Mas Dêisse Valente não queria ficar ociosa. Aprovada no concurso público do governo do estado, ela retornou ao trabalho. "Aposentada em um dia e no outro já estava trabalhando. Estou há vinte anos atuando no Estado. Estou há quinze anos no Centro Estadual de Língua e Cultura Francesa Danielle Mitterrand, na Coordenadoria Pedagógica".

Escritora
Em 1997, Dêisse Gemaque Valente se lançou escritora e em conjunto com a colega Maria Vilhena Lopes lançou o livro "Amapá - Cultura, Poesia e Tradição". A obra é um apanhado da história e da cultura do estado, que resgata as crendices populares, costumes, superstições, cantigas de roda, adivinhações e lendas da região. "Foram três anos de pesquisas feitas por nós duas. Percorremos o interior do Amapá e vasculhamos os arquivos das bibliotecas da cidade. Tudo sem apoio". 

 Lazer
Da jovem "sassariqueira" à mulher tranquila. "Isso se deve à situação de Macapá, à violência. Hoje, saio de casa para as reuniões sociais familiares, pois moro no residencial Irmãos Platon. Eu adoro o interior, minhas visitas preferidas à natureza são no Igarapé do Lago, onde curto o silêncio e as mensagens da natureza local. Eu tenho uma residência lá e meu sonho é passar uma temporada lá quando me aposentar".

Lembrando Macapá

"Na época da minha juventude, vínhamos a pé das festas no bairro Trem até o Laguinho, tranquilamente e sem medo. Hoje isso é impossível, a cidade cresceu e com esse crescimento vieram as mazelas do mundo".
Com referência à educação, ela comenta sobre o respeito ao diretor e a relação professor e aluno, atualmente fragilizada. "O professor é agredido pelos alunos, o aluno sofre bullying, os pais são ausentes. Quanto ao ensino ministrado nas escolas, está aquém do necessário. Falta tirar a politicagem da escola. Hoje, os diretores são indicados por ideologia e apadrinhamento, não sendo importante a qualidade técnico-pedagógica. Não todos. Não estou generalizando. Eles não respeitam e não se fazem respeitar. As escolas estão sendo destruídas".

Dêisse ressalta que Jussára Godinho em um artigo fez o seguinte desabafo: "É indiscutível, inegável, fundamental que o professor deve, sim, estar atualizado, ser afetivo, amar o que faz, ter um olhar diferenciado para com os alunos, ser criativo, cuidar da saúde, da autoestima, ter qualidade de vida, ensinar com paixão, alegria, dinamismo. Mas, para que tudo isso seja viável, ele também - e com urgência - precisa ser visto com outros olhos. Com os olhos de quem conhece o valor que tem um educador. De quem sabe que esse educador é, antes de tudo, um ser humano, com todas as necessidades que daí advém". 

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