sexta-feira, 21 de março de 2014

ANTENADO

Bárbara de Azevedo Costa

Um ombro precisa de outro


Existem algumas pessoas na minha vida que estão sempre alegres, sempre sorrindo... Gente toda hora disposta a dar um bom conselho, ofertar uma palavra amiga, um ombro sobre o qual se escorar. É gente que brinca, que ri, que faz piada, que futrica... 
 Sim, futrica. Futricar é... Ficar de implicância, sabe? É irritante mas é gostoso. Esse é o tipo de gente que inventa músicas sem sentido, mas divertidas, que cria frases, que tem sempre uma graça para tirar da manga e encantar a audiência... Do tipo de gente que, quando você é criança, te diz com delicadeza que você tem mais queixo que cara! Hahahaha... Que bom que existe gente assim!
 Mas, sabe... Há um lado doloroso também... Porque essas pessoas que nunca estão tristes... Na verdade, elas podem estar tristes sempre, e você é que não percebe, você é que nunca vai saber! Porque também é do feitio delas não querer incomodar, não querer mostrar tristeza, não querer aborrecer nem preocupar quem as cerca. 
 Ah, que príncipes e que princesas essas pessoas são! Entretanto, como devem sofrer! São sempre elas os ombros sobre os quais a gente chora. Contudo, quando querem chorar, não sabem pedir o ombro alheio. Não aprenderam a se deixar precisar. Estão sempre dando. Quase nunca recebem.
 Isto... Não é precisamente ruim. Claro que não! Quem ganha o colo dessas pessoas generosas estará sempre seguro, sempre aquecido, será sempre amado. Mas a vida pode ser terrível para esses que não se deixam confortar! Identificar essas almas generosas, porém tão perfeitamente trancadas, é um pouco difícil. Afinal, estão sempre cintilantes e risonhas!...
 Mas um dia você vai encontrar essa pessoa na cozinha, no jardim, na sala, sozinha. Então de repente estarão apenas vocês dois, e você a ouvirá soltar um daqueles longos e profundos suspiros... Ah! Cansaço... A pessoa está cansada da vida, cansada da morte... É tudo tão apavorante, tão brutal!... 
 Quando você ouvir esse suspiro desamparado brotar da garganta de um alguém sempre tão radiante, daí saberá que se encontra diante de uma alma também necessitada. Dê seu ombro, seu abraço, seu afeto, seu amor. 
 Neste momento, queria eu estar perto das pessoas da minha vida que são assim: tantos sorrisos por fora, mas um bocado de dores por dentro... Estamos longe. Mas esse espaço aqui, neste jornal, é como um imenso e nada conciso telegrama que posso mandar com urgência para os meus que estão longe.
 Queria apenas dizer, com toda a sinceridade, que todos os de alma cansada, por aí, em todo o canto, têm o meu afeto. Que as minhas palavras confortem e também instruam: por um momento, baixe a guarde; se permita... chorar, clamar, ranger... 
 Algumas coisas na vida, a gente não entende mesmo, porque é difícil engolir, porque dói, porque soa cruel. Não tem treino que dê jeito. A gente nunca estará pronto pra partida! Como, por exemplo... Como perder pessoas que a gente ama. Não tem nada que nos prepare para tamanha afronta à felicidade! 
 Isto é mesmo cruel... Mas, quando alguém se vai, há um ombro por perto, não há? Tem de haver... E você pode chorar. Pode chorar muito, inclusive. É preciso vir o choro... Só depois dele é que chega o prometido riso da manhã subsequente. A alegria não vem se, antes, não passar, para uma visita, a dor.
 Não é nada bonito ou satisfatório pedir a alguém que se deixe sofrer. Na melhor das hipóteses, soa tristemente como um livro de autoajuda. Me sinto escrevendo algo que não deveria ser dito assim, mas me faltam muitas palavras... Sinto, então, por deixar tudo assim. Mas, para estes dias, as palavras são essas. Mando, de longe, abraços a todos.

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