sexta-feira, 14 de março de 2014

atleta de ponta


Reinaldo Coelho


SUPERAÇÃO 
Lucas Vinicius, o patinador de uma perna só






Os deficientes visuais, auditivos, físicos e mentais encontram uma série de barreiras na tentativa de ingressar no esporte. A principal questão é o investimento quase sempre insuficiente realizado pela iniciativa privada e poder público. Se por um lado as empresas não investem porque não há retorno pecuniário, as ações do poder público estão muito aquém da real necessidade desses esportistas, que compensam a falta de apoio financeiro com muita força de vontade. E o amparo da família é fundamental para que os atletas deficientes mantenham a disciplina e a motivação.
Lucas Vinicius, de 16 anos, perdeu a perna esquerda em um atropelamento na BR-210, quando tinha 7 anos. O golpe não diminuiu a força de vontade do garoto, que afirma conviver com a deficiência sem qualquer problema. O jovem conta que estuda, vai a festas, namora e é admirado pelos amigos.
Mas o que mais chama a atenção em Vinicius é a desenvoltura do garoto com os patins. O hobby do jovem é normalmente praticado por quem possui as duas pernas, já que o esporte exige equilíbrio e controle. Vinicius, no entanto, arrasa nas pistas usando um patins e muletas.
O jovem conta que para chegar a ao ponto em que está, de despreocupação e desinibição, não foi fácil. "Eu via meus amigos brincando e não queria que me vissem desse jeito. Eles me olhavam diferente e eu não queria ser diferente", lembra.
Vinicius conta que no início da puberdade, quando deixava de ser criança, veio a superação psicológica e, por que não?, física. "Um dia eu olhei na frente de casa e vi uns meninos patinando, pensei: vou fazer o mesmo, eu consigo", reforça.
A mãe, protetora, não gostou da ideia e o desencorajou dizendo que a atividade era "perigosa". Mesmo assim ele não desistiu. Ganhou depois de muita insistência uns patins de um tio e começou a treinar no pátio de casa. Ele conta que certa vez decidiu sair e se juntar ao grupo. "Quando ele chegou eu fiquei muito surpresa. Eu pensei: ele vai mesmo querer acompanhar a gente?", lembra a amiga Deyzi Alves.

Manobras arriscadas
Para a surpresa de todos, Vinicius pegou o ritmo da turma mais rápido que o esperado. "Quando o Lucas começou a patinar tivemos que ter paciência, mas hoje muitas vezes é ele quem puxa a gente. Vamos para todos os lugares. Outro dia fomos patinando do Jardim I [bairro da Zona Norte] até o novo shopping [na Rodovia JK - Zona Sul]. Ele foi firme, temos muito orgulho dele", elogiou o patinador da mesma equipe, Deyverson Alves.

Com a turma inseparável
Três anos patinando, e o estudante carrega apenas duas marcas de quedas. "Quando comecei a dar saltos levei uma queda e ralei meu braço. Depois, tentando fazer graça, cai de novo, aí tenho essa cicatriz nas costas, mas é normal, hoje já tenho mais cuidado", garante o sorridente patinador.

O encontro de Marcela através da patinação
Por onde ele passa, as pessoas param para observar, muitas ficam impressionadas. A paixão pelo esporte o levou a uma outra paixão: Marcela Lima. "Eu já observava ele na escola. Quando decidi patinar a gente começou a se olhar, aí ficamos. Já estamos há 3 meses namorando, e minha família o admira muito", conta Marcela.
"Ele é uma pessoa normal, tem horas que eu não vejo limitação nenhuma nele", assegura Deyverson.

Medo justificado
Os pais dizem sentir medo do perigo que ele corre nas ruas. "Minha mãe é super preocupada. Se ela pudesse eu não saía de casa", revela Vinicius. Depois da tragédia do patinador Thiago Jardel (morto ao pegar carona na traseira de um caminhão no ano passado), muitos pais proibiram os filhos de praticar o esporte. "Minha mãe não queria me deixar patinar, depois do ocorrido com o Thiago, mas depois de muita insistência ela me liberou", diz Deyzi Alves.
O patinador quer competir, mas agora pensa em treinar. "Eu quero competir, mas preciso treinar mais. Os caras que patinam são muito bons e ainda não estou preparado para competir", admite.

Enquanto a profissionalização não vem, ele se diverte patinando com os amigos, dá uns beijos na namorada, ganha a admiração da família e das pessoas que não deixam de se impressionar com o exemplo de superação. (Com base na matéria de Seles Nafes)

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