sexta-feira, 14 de março de 2014

IJOMA

Seguidor de uma rotina regrada, livre de maus hábitos ou excessos, Afonso Celso Haas se confrontou com o veredito de Câncer de Pulmão  em estágio avançado há dois anos. Abatido por perspectivas desalentadoras, submeteu-se a uma quimioterapia convencional pouco antes de ter a oportunidade de se voluntariar para o teste de um novo medicamento. A cada duas semanas, o comerciante de Ijuí comparece à Pontifícia Universidade Católica do Rio  (PUCRS), uma das mais de duas dezenas de instituições participantes de uma pesquisa internacional, para a aplicação de nivolumabe, um dos remédios mais avançados da oncologia atual. Ainda em fase de avaliação, a droga não é comercializada em lugar algum do mundo, mas permite que alguns pacientes desfrutem de excelentes resultados e contribuam com o avanço da ciência.
- Sou um privilegiado. Isso me dá força e vontade de viver. Levo uma vida normal - comemora Haas.

OS PRINCIPAIS
ENTRAVES À PESQUISA
CLÍNICA NO BRASIL
BUROCRACIA
Um estudo clínico precisa passar pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição participante, o que no Brasil costuma levar, em média, de um a dois meses. Depois, é necessário o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Ministério da Saúde, que centraliza todas as aprovações. É nessa etapa que a demora é maior: a avaliação consome até um ano, o que faz do Brasil o país que mais atrasa esses trâmites. Se a pesquisa prevê o uso de medicamentos ou o envio de material biológico dos participantes a uma instituição no Exterior, necessita também do consentimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como avançar: descentralizar a avaliação dos projetos, incrementar as equipes técnicas, para que seja possível diminuir o tempo de análise nos comitês de ética, e tornar a legislação menos restritiva à participação de instituições nacionais em iniciativas estrangeiras.

POUCO INCENTIVO
O Brasil investe pouco em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, apenas cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à inovação. Por aqui, o paciente de um estudo clínico acaba se tornando caro devido à falta de financiamento para exames e procedimentos convencionais que, em outros países, são custeados pelo sistema de saúde, por serem rotineiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, o patrocinador do estudo banca somente os exames e os procedimentos que estão fora do tratamento padrão. Se uma paciente com câncer de mama tivesse de se submeter a uma tomografia de rotina, independentemente de estar integrando o estudo ou não, o sistema de saúde cobriria os custos. No Brasil, esse valor acaba recaindo sobre o patrocinador ou o investigador, onerando e dificultando a pesquisa.
Como avançar: investir mais em pesquisa e desenvolvimento e rediscutir aspectos legais muito restritivos, permitindo o desenvolvimento de estudos nacionais, que atendam a necessidades locais.

DESCONHECIMENTO
DA SOCIEDADE
Pesquisadores ainda esbarram em forte resistência na hora do recrutamento dos participantes. Alguns pacientes temem se tornar cobaias de um experimento que pode, de alguma forma, prejudicá-los.
Como avançar: apostar na educação da população quanto à segurança da participação em um estudo clínico. O processo é benéfico para todos os envolvidos: o paciente recebe um tratamento de ponta, o cientista assume um papel ativo na produção de conhecimento, a instituição recebe recursos e mantêm postos de trabalho, o sistema público de saúde deixa de gastar com esses participantes e o país ganha credibilidade no Exterior.

FALTA DE PESSOAL
Com os empecilhos regulatórios, o número de farmacêuticos, biólogos, enfermeiros e médicos interessados em pesquisa clínica está diminuindo. Empresas farmacêuticas acabam reduzindo os investimentos na área e encolhendo os setores dedicados a estudos.
Como avançar: aprimorar a legislação e corrigir processos que retardam a aprovação de projetos, o que permitiria aumentar o volume de estudos com participação do Brasil, gerar empregos e qualificar recursos humanos.

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