O Amapá está na ladeira
A revista semanal VEJA, na sua edição 2.364, de 12 de março, traz na matéria de capa um assunto que preocupa o Brasil da margem direita do Rio Amazonas para dentro. "As ameaças à Copa (Black Blocs, greves, tumultos, terrorismo e crime organizado)".
Isso não nos preocupa. Estamos fora da rota da Copa. A sede mais próxima do Amapá é o Amazonas, portanto, não corremos o menor risco de sermos pelo menos sede de um selecionado que irá disputar o maior e mais importante torneio de futebol do planeta. Então, deve-se concluir que não temos preocupação? Claro que temos, e muitas. A principal delas é dar um norte ao estado do Amapá para que esta Unidade da Federação incremente sua economia fomentando os setores primário e secundário. Ambos representam 11,4% de um universo de 100%. O setor terciário representa 88,65% na participação do valor adicionado bruto, por setor econômico do Amapá 2008/2011, segundo um estudo conjunto da Secretaria de Planejamento do Estado e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Essa anomalia que se verifica no setor produtivo do Amapá é a responsável por sermos um estado estatal em demasia, um estado pobre do ponto de vista monetário, com os setores da educação, saúde e segurança precários e um insuperável déficit habitacional. Essa inanição econômica dá ao estado do Amapá o incômodo status de exportador de capital e de matéria prima. Não produzimos o que comemos e muito menos o que usamos.
Aqui não temos os vândalos dos Black Blocs, mas também não temos a cultura de irmos às ruas protestar contra um monte de coisas que estão erradas no Amapá. O povo amapaense não passou no teste dos movimentos que a sociedade brasileira organizou nas grandes capitais. Aqui, as coisas foram tímidas, sem sal.
O Amapá atravessa, ao meu sentir, uma crise sem precedentes de desmoralização das instituições. O Ministério Público, o Poder Judiciário e a Assembleia Legislativa me passam uma angustiante sensação de subserviência ao Poder Executivo. E esse comportamento de nossas autoridades, cuja responsabilidade (MPE e ALAP) é fiscalizar a execução do orçamento, me transmite a sensação de que as mudanças que devem ocorrer por essas bandas estão muito longe de acontecer.
Por falta de políticas públicas para os jovens, emprego, esporte, lazer e um estado vocacionado a servir ao cidadão nas suas necessidades mais básicas é que hoje o Amapá vive um estado de pânico. A criminalidade grassa nas ruas e avenidas das principais cidades do Amapá: Macapá, Santana e Laranjal do Jari. Aliás, o interior do Amapá é um enorme vazio demográfico. O governo estadual simplesmente virou as costas para o interior e a precariedade dos municípios é a razão para se constatar por que 74,5% da população do Estado do Amapá mora em Macapá e Santana.
Os governos estadual e municipal fazem gestões temerárias, ações ilegais e imorais e, para a surpresa de todos, não são molestados pelo Ministério Público. E quando os que se julgam vilipendiados nos seus direitos recorrem à justiça, perdem as ações. Que o diga o empresário Erik Lucena, dono da Amapá Serviço, que viu uma licitação da Sesa invalidada pelo Tribunal de Contas do Estado por estar, segundo o pleno daquela corte de contas, eivada de vícios, ser convalidada no TJAP.
As empresas prestadoras de serviço contratadas com o Estado são obrigadas a fazer movimentos de greves para que seus funcionários recebam seus salários, pois o Estado, sem a mínima preocupação, atrasa contumazmente o pagamento dessas empresas e nada acontece. O governo assina termo de ajustamento de conduta e descumpre, e fica por isso mesmo.
Para finalizar, se tivéssemos que fazer uma manchete copiando a da revista VEJA, o título seria: "O desgoverno ameaça o futuro do Amapá".
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