Laurindo Pereira Trindade, um Chaviense que honra o Amapá.
Talvez, pouca gente saiba quem é Laurindo Pereira Trindade, mas se falarmos em Lolito, pronto! Rápido, o nome é associado à música, mais precisamente aos corinhos e chorões, aos solos do Bandolim. É o Lolito do Bandolim, um dos maiores instrumentista do Brasil. Músico de habilidade refinada, que consegue com rara sensibilidade, extrair notas perfeitas do seu instrumento predileto. O Bandolim entrou na vida do artista por culpa e influência do saudoso, inesquecível, Amilar Brenha.
Mas a história do nosso pioneiro não começa no Amapá. Sua origem é o distrito de Igarapé Açu, no município de Chaves. Portanto, um paraense radicado no Amapá, Lolito é o filho mais velho de uma família de seis irmãos. Seu pai, o português Raul Marques Trindade, aportou no Brasil para comercializar barbatana de Tubarão e grude de Gurijuba. E foi ficando, foi ficado por aqui. Enfim, casou com a cabocla Maria Luiza Pereira Trindade.
Bem! Aos três anos, Lolito mostrava grande interesse pela música e recebeu, então, o incentivo do pai, que lhe presenteou com um violão. Um ano foi o tempo mais que necessário para que Lolito mostrasse aos pais e aos amigos que ele nascera com um talento precoce para a música. Autodidata, o jovem artista dominou com maestria o instrumento. Em seguida, ingressou na escola de música do conterrâneo Oscar Santos, e lá aprendeu a tocar bateria. A partir daí, ainda com seis anos de idade, já integrava a banda do maestro.
Aos 12 anos de idade, Lolito veio para Macapá, morar no bairro encantado e mágico: Igarapé das Mulheres, eternizado em versos mágicos do poetinha do Laguinho Osmar Junior.
Lolito veio para cá acompanhando os pais. Seu Raul havia sido convidado para trabalhar como apontado e fiscal de alfandega. Em seguida, foi convocado pelo Capitão Janary Gentil Nunes a trabalhar no quadro de funcionários do Território.
Como nada acontece por acaso, a vida de Lolito não poderia se desviar do seu dom natural, e não demorou muito para que "a fome e a vontade de comer se encontrassem." O prodígio do bandolim conheceu João Pretinho e dona Raimunda, dois seresteiros de primeira hora e daí, pronto, Lolito passou a integrar o grupo de seresta do Zé Pretinho. Em alguns locais, por ser menor de idade, só tocava com autorização da Polícia. Sempre se destacando, Lolito fazia sucesso, mas sua vida estava preste a tomar um novo rumo. Aos 16 anos, conheceu o amor da sua vida, Maria das Neves Ferreira Trindade. Dois anos depois, Lolito casou e foi levado pelo sogro para trabalhar como pintor na Vila de Terezinha e Serra do Navio. O trabalho obrigava Lolito a rever a família quinzenalmente nas famosas baixadas, quando os funcionários da companhia recebiam folga. Nas montanhas de manganês, Lolito continuou sua trajetória musical e encantava aos serranos com sua técnica refinada, demonstrada nas serestas e bailes de Serra do Navio.
O ano era 1960, apogeu da Bossa Nova, Lolito, então, começou a deixar no Amapá seu legado. Nascera seu primogênito, jornalista e humorista Luiz Trindade. Lolito diz que quando recebeu a notícia do nascimento do primeiro filho, veio para Macapá de trem e na viagem fez a sua primeira composição musical em homenagem ao recém-nascido. Era a peça inaugural de uma extensa obra musical.
Lolito e Maria das Neves tiveram seis filhos. Luiz e Leonardo, jornalistas; Lindomar e Laércio (falecido), policiais; a professora Laurinéia e Leila, cabeleireira. Leila nasceu em Serra do Navio, assim como Izabel, que faleceu após um mês de vida.
Lolito pautou sua vida na ética, responsabilidade e amor à sua família. É um pai amado pelos filhos e um artista reverenciado por amapaenses que gostam da boa música. A trajetória artística de Lolito é digna de um astro. Tocou com Jair Rodrigues, Paulinho da Viola, Altamiro Carrilho e Sebastião Tapajós, além de parceiros como o mago do violão e maestro Nonato Leal e Sebastião Mont'Alverne. Fez parte do grupo SEONO, composto por Sena Bastos, Oneide, Zé Crioulo, Leonardo, Carlinho e Orivaldo. Depois integrou o Grupo Café com Leite formado por Leonardo, Noé, Sena Bastos, Sobral, Oneide, Carlinhos e Orivaldo. Um grupo quase composto por familiares do grande Lolito é o Matéria Prima. Além dele, lógico, tocam o filho Leonardo, o sobrinho Dílson, o neto Gillan e o amigo Ruy. Lolito também montou outro grupo chamado Lolito & Banda, com Beto, Lindomar (filho), Leonardo (filho) e Cesar (neto).
O Bandolim mágico de Lolito atravessou as fronteiras amapaenses. Ele mostrou sua arte em Santarém, Belém, Brasília, Natal, Fortaleza. Seus solos também foram eternizados em dois CD's coletivos em homenagem a Macapá, além de DVD sobre o mesmo tema.
Como todo brasileiro, Lolito é um apaixonado por futebol. Seu time de coração não poderia ser outro, senão o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, no qual brilhou a "Estrela Solitária" de Garrincha, o "Anjo das Pernas Tortas". E mesmo com brilho próprio no cenário da música amapaense, muitas vezes, Lolito sentiu na pele a insensibilidade daqueles que colocam a arte a reboque da política. Assim, Lolito e seu bandolim foram preteridos pela gestão de Clécio Luis, não sendo convidados a presentar os macapaenses na comemoração dos 256 anos da capital amapaense. Ces't la vie, Lolito, quem poderia imaginar que a Márcia Corrêa, uma neófita dos instrumentos musicais, iria ignorar sua arte.
Laurindo Pereira Trindade, 80. Aniversário: 05 de agosto de 1934. Igarapé Açu. Município de Chaves.
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