Homenagem Póstuma
Arlindo Oliveira
O Amapá perdeu mais um dos seus pioneiros, Arlindo Oliveira, que morreu aos 83 anos, por falência múltipla dos órgãos. Diferente do que havia desejado, Arlindo estava internado num hospital quando deixou a todos. Ele havia explicitado que gostaria de partir no convívio do seu lar, o que não foi possível. Sua companheira de décadas, Ana Alves de Oliveira, no entanto, cumpriu o último desejo do marido, mesmo após a sua partida. Arlindo Oliveira foi velado na casa onde morava. Ele era considerado um dos melhores e mais perspicazes mecânico de aeronaves do Amapá. O Tribuna Amapaense presta uma homenagem póstuma a este grande homem, marido, pai, avô e vizinho. Descanse em Paz!
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MATÉRIA PUBLICADA EM 2008 por Carlos Lima
"O médico das aeronaves do Amapá"
Assim era apontado o filho da dona Raimunda Silva de Oliveira, "a Mundica", como era conhecida. Arlindo Oliveira, hoje com 77 anos, nasceu em Belém do Pará, onde morou por cinco anos no bairro Santo Antônio. Ainda garoto, se mudou para Macapá e aos poucos se tornou um mestre do serviço aeroviário do Amapá. Foi pioneiro, ou seja, um dos poucos que pode relatar a história da aviação deste estado.
49 anos dedicados
ao Amapá
Seus primeiros passos rumo à aviação aconteceram ainda na adolescência, na antiga garagem territorial, que funcionava na Praça São José. Em julho de 1953, ocorreu o primeiro sobrevoou e pouso em Macapá, causando na população certo receio, pois as pessoas ainda não conheciam o veículo aéreo. "Foi muito engraçado", declarou. "As pessoas ficaram com medo. Foi tão assustador que chegaram a pensar que era o fim dos tempos. Como na época Macapá era uma cidade muito pacata, ninguém tinha conhecimento sobre aviões, afinal era algo extremamente estranho. E a primeira pista de pouso e decolagem não foi a FAB, como muitos pensam, pois o Hospital Geral (hoje, Alberto Lima) estava em processo de construção, o que impossibilitou o acesso. Foram utilizadas as ruas que hoje se chamam Procópio Rola e Raimundo Álvares da Costa para os primeiros movimentos de trânsito aéreo em Macapá", salientou.
Quando Macapá estava em festa pelos 249 anos, Arlindo completava 49 anos de muita dedicação e afinco a esta terra, de território a estado. Passou 14 anos somente como mecânico de aeronaves. Venceu todas as adversidades e obstáculos que a vida lhe revelou. Foi um verdadeiro especialista no campo onde atuou nesses 49 anos de ensino e aprendizagem. "Quanto mais se vive, mais se aprende, na aviação e na vida. E quanto mais se aprende, mais se quer viver", observou. "Para me tornar mecânico de aeronaves, tive que estudar muito. Li muitos livros de máquinas e fiz vários cursos à distância para chegar aonde cheguei. Não foi fácil".
Quando exercia a profissão, Arlindo conta que tinha uma espécie de cumplicidade com a máquina. Não sabia se ela lhe entendia, mas garante que entendia os gemidos dela e cada ronco fora do compasso. "A sua experiência formou" cinco dos grandes pilotos da história do Amapá, "incluindo o inexperiente, mas talentoso Hamilton Silva", como destacou. A lembrança do trágico acidente ainda é viva na memória do aviador. O piloto Hamilton Silva e o então deputado federal Coaracy Nunes morreram num acidente aéreo, na mata do Macacoari, em janeiro de 1958.
Fim de carreira
Arlindo diz que foi forçado a se aposentar, após sofrer um deslocamento de retina que por pouco não lhe deixou totalmente cego. "Na época, me desfiz de alguns pertences para tentar salvar a precária visão que eu ainda tinha, no entanto, como meus pertences não tinham tanto valor, só me restou a esperança. O fim da agonia veio com a ajuda de um amigo, que percebeu meu sofrimento e resolveu ajudar". Até hoje, Arlindo prefere não divulgar o nome de quem lhe estendeu a mão. "A pedido do próprio anjo grandioso", como classifica. Há dois anos fora do Departamento de Transporte Aéreo, ele finaliza dizendo que continua de cabeça erguida e com o sentimento de dever cumprido e orgulhoso por ter um filho piloto, que se chama Floriano Oliveira.
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