Muito tiro, porrada e bomba por nada
Já é notícia velha a história da cantora Valesca Popozuda citada como "grande pensadora" em prova de filosofia numa escola do Distrito Federal. Como sabemos, polêmicas irrelevantes não duram mais do que uma semana (que alívio!), embora logo depois outra bomba insignificante exploda no nosso colo e nos force a gastar massa cinzenta em vão. Mas mesmo com o prazo de validade vencido, só agora bateu a vontade de comentar o assunto, passado o frisson da coisa.
A questão na prova de filosofia dividiu opiniões. Alguns se escandalizaram com o nome de Valesca ao lado de grandes pensadores da humanidade, linchando o pobre professor (tudo on-line, é claro). Por outro lado, houve quem se irritou com o nome de Valesca escrito errado no enunciado, com "W", pois fã que é fã, além de reconhecer a genialidade da Popozuda, também quer que o respeito esteja impresso em cada letra.
Assim, alguns cidadãos, "just trying to be cool", enaltecem a grande Valesca schopenhaueriana. Outros, só pelo prazer da chatice, vêm dizer que "é por isso que a educação brasileira não anda!". E essa enfadonha batalha se estende na obscura Internet. Na vida que importa ninguém realmente perde tempo com essas coisas (eu espero).
Se é cool ou não citar Valesca numa prova, isso depende do professor, da intenção honesta, do tipo de turma... Ouso dizer que, se fossem alunos legais, o assunto jamais teria chegado ao grande tribunal do "mimimi" brasileiro (Facebook). Porque alunos legais teriam simplesmente rido da ousadia banal do professor e aquilo se tornaria uma agradável piada íntima. Acabaria aí, com todos guardando no coração, silenciosa e eternamente, aquele mestre que fazia as questões mais legais do mundo.
Mas veja, a turma não estava pronta para lidar com tamanha desenvoltura. A coisa foi, então, parar mesmo no Facebook, e deu no que deu. Um monte de tempo e disposição desperdiçados com um estresse inútil. O caso bateu até na Secretaria de Educação!
E para que tanto alarde?!
A própria Valesca comentou: "É bobagem". Não fosse letra de funk - ritmo popular entre vasto público, mas bastante marginalizado pelo esnobismo cult -, se fosse MPB, por exemplo (música que, aliás, já teve também seus dias de marginal), estaria tudo bem. E faz sentido. É a luta de classes musicais.
A única consideração remotamente importante a se fazer sobre o assunto é que sempre caberá a Valesca o reconhecimento por ter surgido com a letra de "Beijinho no ombro" (citada na prova). Embora eu não saiba se foi, de fato, Valesca quem a compôs, ainda assim não devemos deixar de admitir que a canção conseguiu ironizar primorosamente essa geração que só pensa nas "inimigas".
Bem, se não ironizou, pelo menos registrou o fenômeno dessa tal camada que quer acreditar piamente no mundo como um palco para espalhar o recalque, uma vez que a letra de "Beijinho no ombro" só existe porque colhe os dizeres arquetípicos do fenômeno e, numa espécie de colagem de frases-feitas, faz brotar uma canção coesa e divertida. Palmas para Valesca.
A conclusão, meus caros, é que há, nesses últimos dias, muito estardalhaço por nada. A interação cibernética, antes tão divertida e prazerosa, torna-se agora esse pretexto para fazer revolução de tolo. Tudo vira fogueira. E a maioria das discussões em pauta não vale uma faísca de fósforo.
Existe, e sempre existirá, é claro, o trivial digno de nota. Mas estamos agora, na verdade, teimando estagnados nesse papel de comentadores de Internet, trasgos do YouTube, destruidores de reputações, alcoviteiros cibernéticos, seres indignados que buscam fazer "justiça" com o teclado. O comportamento que "Beijinho no Ombro" ironiza é feito da mesma matéria morta de que são compostos também, ironicamente, os que se escandalizam com o fato de Valesca ser citada como pensadora. E assim os próprios escandalizados confirmam que a loira estava totalmente certa.
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