quinta-feira, 17 de abril de 2014

ARTIGO DO TOSTES

José  Alberto Tostes
tostes.j@hotmail.com / josealbertotostes.blogspot.com


O futuro das cidades


O futuro das cidades é a obra de autoria do autor português da Universidade do Minho, José Mendes. O livro possibilita uma ampla reflexão sobre o futuro das cidades no mundo, porém, após fazer esta leitura, pensei sobre o estágio atual das cidades. O que vamos fazer? Esperar que aconteça o pior, depois tomar as providências, longe de uma visão apocalíptica sobre o que será uma cidade daqui a 20 ou 30 anos, há coisas que precisam de tomadas de decisão urgente, isso é para ontem.

O livro sobre o futuro das cidades abre uma perspectiva segundo autor sobre a discussão das mega-tendências globais, os desafios que se colocam às cidades e, a partir daí, trabalhar o conceito inovador: a cidade incubadora. Esta afirmação dita pelo autor atiçou-me a curiosidade a respeito do tema, o que seria a cidade incubadora? Na prática, Mendes coloca cinco dimensões importantes para efetivar a ideia de cidade incubadora: a cidade intelectual, a cidade inovadora, a cidade sustentável, a cidade autêntica e cidade conectada.

Efetivamente pensar a cidade sob este prisma, resulta em verificar a capacidade de aguçar o nosso olhar sobre as transformações globais e locais que vem ocorrendo pelo mundo afora. O próprio autor deixa claro que a obra não é um tratado urbanístico e nem um exercício de desenho futurista. Dedica-se, simplesmente, à tarefa de propor um conceito de futuro para as cidades do presente.

Segundo Mendes (2011, p. 66 e 67), "a cidade intelectual é a geração, atração e retenção daquele que é provavelmente o mais indispensável e crítico dos seus ativos: o talento. Este desígnio é tanto mais conseguido quanto melhor for o sistema de educação que lhe é infraestrutural e, na perspectiva dos resultados, quanto mais relevante e criativo for o conhecimento gerado na cidade. Na cidade intelectual é um dado adquirido que todos cumprem a escolaridade secundária, quase todos completam graduação superior e muitos avançam para a pós-graduação. Os requisitos de qualidade centram-se nos atributos do ensino".

A cidade inovadora, à primeira vista, existe a concentração de talento, conhecimento e mercado, faz da cidade um espaço de inovação único. Todavia, a transformação deste potencial em valor não é um processo simples, nem de sucesso garantido. Mesmo à escala das megaconcentrações de talento, é possível encontrar cidades onde a organização para a inovação teima em não alcançar os níveis de eficácia que se esperaria. (MENDES, 2011, p.72)
A cidade conectada é uma cidade-ilha, fechada na sua identidade, nos seus valores e no seu mercado, não sobrevive às exigências decorrentes das tendências globais. Não é competitiva, nem mesmo viável. Pelo contrário, a cidade do futuro, aquela que incuba o sucesso, é, por definição, conectada e permeável. A facilidade, qualidade e intensidade da interação dentro da cidade e desta com o mundo exterior são fatores críticos de sucesso incontornáveis. A dimensão da conectividade se expressa de maneira local e globalmente, sendo que ambas as escalas se complementam. (MENDES, 2011, p.80).

A cidade sustentável, o conceito é aplicado praticamente em todos os contextos, o que significa que o seu emprego carece de alguma precisão. Na sua versão mais popular, se refere à sustentabilidade humana no planeta Terra, deu origem a mais citada das definições de desenvolvimento sustentável, expressa pela Comissão Brundtland em 1987: "desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades". Sendo um pouco mais especifico e tomando três esferas de relevância - econômica social e ambiental- podem-se definir determinados cruzamentos que configuram diferentes opções de desenvolvimento.

Na cidade autêntica as características são únicas de um lugar, a mais segura origem da sua vantagem competitiva. A cidade que assume e explora as suas particularidades, sobretudo as que são irrepetíveis, adquire o estatuto de autêntica e posiciona-se no grupo das candidatas a atrair pessoas criativas e talentosas. Não é fácil estabelecer um quadro comparativo, quando se fala da autenticidade. (MENDES, 2011, p. 93).

A cidade hipotética é reconhecida como uma referência internacional na criação do conhecimento e inovação em setores de base tecnológica adota e pratica uma cultura de portas abertas para aqueles que veem o empreendedorismo como uma opção de vida. A cidade promove a prosperidade de seus cidadãos e é tributária do desenvolvimento global do País, proporcionando simultaneamente um ambiente onde é bom viver, aprender, trabalhar e fazer negócios. (MENDES, 2011, p.105).

Como o próprio autor sugere, o livro cidades do futuro é uma proposta de discussão conceitual e, portanto não pretende ilustrar o desenho urbano ou uma caracterização ideológica ou política do que seja cidade, mas pensar as diferentes interfaces que envolvem o desenvolvimento do presente com implicações escalonadas no futuro, sendo assim, a ideia de futuro é algo relacionado a uma visão sistêmica, construída a partir da nossa formação individual e coletiva, quanto maior o grau de conhecimento e esclarecimento sobre as nossas potencialidades, maior será a possibilidade de êxito no futuro.

Não há formulas para dizer o que vai acontecer no futuro, porém, é certo que a forma de pensar e idealizar a organização e o planejamento de uma cidade passa necessariamente pela provocação de Mendes. Os preceitos sobre as dimensões descritas no livro vão desde a base da importância da formação educacional até os princípios da inserção de criatividade e inovação será de fato algo a ser aplicado, não no futuro, mas certamente com muita convicção no presente. É muito comum termos expectativas de que as teorias, ideias e outros postulados possam explicar e orientar os fenômenos que ocorrem com as cidades, entretanto, pouco se vislumbra a possibilidade de interagir com as múltiplas interfaces que estão à disposição para o desenvolvimento das cidades a partir das questões globais e locais, vale a pena ler o livro.

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