sexta-feira, 25 de abril de 2014

ARTIGO DO TOSTES

José  Alberto Tostes

O terminal no filme de Tom Hanks.


Entre inúmeras viagens que tenho oportunidade de realizar, por diversas ocasiões tive que fazer a escala em Belém no aeroporto Val de Cães, obrigatoriamente quem vem de Macapá, tem que parar em Val de Cães, exceto voos em direção às cidades de Brasília e São Paulo, quase sempre é o mesmo voo. A logística nos aeroportos brasileiros é muito desconfortável não oferece as mínimas condições para quem vai ficar no terminal por diversas horas. Lembro-me de uma viagem de Manaus para Belém, a escala de voo era através da Azul, o horário, pior possível, o voo saiu de Manaus às 3 da manhã e cheguei a Belém por volta de 5 horas.
O voo para Macapá só iria sair às 13 horas, pensei em ir para um hotel, porém, fiquei preocupado em dormir e perder a hora do voo, nos dias atuais, perder um voo custa caro, você chega a pagar o dobro do valor da passagem, quando cheguei ao aeroporto Val de Cães, estava exausto, comprei um jornal e fui para o final do terminal, tirei o cinto, coloquei atravessado na bagagem de mão, me deitei na cadeira e lá dormi, por quase 05 horas, quando despertei, parecia sonso, as costas literalmente "quebradas".
Sempre que passo por tais situações recordo do filme de Tom Hanks: O terminal, o personagem de Tom vem para os Estados Unidos, mas é proibido de entrar por falta de documentos legais, o personagem passa meses morando no aeroporto, consegue fazer várias amizades, torna-se conhecido, graças a isso, consegue uma série coisas a partir da convivência cotidiana com os diversos setores do terminal aeroportuário. O filme é interessante, mostra a faceta, muitos de nós não conhecemos na grande maioria dos aeroportos do mundo inteiro, o cumprimento dos dispositivos legais, causam múltiplos constrangimentos.
Ao longo dos anos realizando trabalho de pesquisa, indo para eventos científicos, ou de férias sempre passei em diversas escalas na cidade de Belém, guardadas as devidas proporções, me senti como o personagem de Tom Hanks, quando você passa constante por um lugar, começa a fazer amizades nos mais diversos setores, é como se você fizesse parte daquele contexto. A vida em um terminal aeroportuário não é fácil, é uma vida dura, são os ruídos dos aviões, barulho permanente, agitações de todo tipo para quem trabalha duro e troca o sono da madrugada pelo dia, cotidianamente.
A vida de "Tom Hanks" é dura para muitos que passam a maior parte de sua vida trabalhando em um terminal de aeroporto. Em diversos países da Europa e dos Estados Unidos, os terminais tem muita qualidade. No Brasil, é uma vergonha, neste período, que antecede a Copa do Mundo e as Olimpíadas virou um tormento. Portanto, esse é um cenário desconhecido para muitos, outro fator importante, é como no Brasil cria-se logísticas de voo inacreditáveis. O sujeito vai para Aracaju, e a rota de voo programada pela companhia aérea vai dar em Campinas, Belo Horizonte ou em São Paulo, algo impensável tendo em vista que tal situação cria mais transtornos em todas as rotas.
A situação deve ser analisada com muita atenção, requer pensar melhor a malha aérea brasileira, evitando desperdícios absurdos, voltando ao terminal, um dos motivos da minha mala de mão conter vários equipamentos eletrônicos, são as adversidades dos terminais aeroportuários. Um bom número de artigos foram escritos para o jornal ou para blogspot dessa forma, sentado em uma cadeira, ou em uma mesa de aeroporto, não foram poucas as reflexões importantes sobre a vida do país, do Amapá, do Brasil e do contexto internacional, quando você está concentrado, consegue produzir muito, o propósito e o objetivo inspira a escrever temas relevantes. Quando você espera em um terminal de aeroporto por diversas horas, você aprende a dinâmica do lugar e as particularidades, conversa com pessoas, percebe a individualidade e a complexidade para chegar e sair de um terminal, há casos de pessoas que entre a entrada e saída do trabalho levam cerca de 14 horas.
Como sugere o filme de Tom Hanks, a vida no aeroporto é um aprendizado, adaptação completa diante de tantas adversidades que o personagem tinha que enfrentar. Todos nós brasileiros enfrentamos a maratona dos aeroportos diariamente. Para quem viaja constantemente, como é o meu caso, aproveito para aprender permanentemente. Escrever é uma arte, quem sabe escrever, sabe o que digo, existe um enredo para tudo, até para adversidade da qual o sujeito está submetido, neste caso, o aeroporto, o terminal, aonde a cada minuto chega e saí gente de todo o lugar, talvez, seja o cenário mais apropriado para se manifestar as inquietações das pessoas. No meu caso, busco na adversidade, um aliado.


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