sexta-feira, 2 de maio de 2014

ANTENADOS

Bárbara de Azevedo Costa


Projeções de um futuro


Durante todo o ensino médio, seus professores dizem que a faculdade será o maior momento da sua vida. Contam as histórias de seu próprio tempo áureo e juram que você encontrará ali os melhores mentores, os melhores amigos, as melhores festas, as melhores aventuras... E, então, tudo na escola se torna uma preparação ansiosa e frenética para esse momento. De repente, não se trata mais de ter um futuro profissional promissor. Já não é só isso. Estar na universidade parece a concretização da quimera que projetamos sobre o que seria a vida adulta perfeita - felicidade plena, liberdade ilimitada! -, quimera que nutrimos tão fervorosamente quando somos crianças e adolescentes... Seria o sonho possível? 
Daí chega o momento de estar na faculdade, finalmente!, e tudo se mostra branco, baque e susto. Você não sabe para onde ir, não sabe se localizar, não entende as siglas, não sabe lidar com a burocracia, nunca fez um relatório na vida, será engolido pelo regime das xeroxes, mal pode suportar o volume de textos e as responsabilidades tão específicas, a seriedade, o silêncio, a desconfiança de calouro, a falta de proximidade com os professores, o desconforto entre outras dúzias de novatos de idades diferentes...
Leva um tempo imenso para se acostumar - isso não te contaram na escola. E como faz para encontrar amigos? Como faz para os professores simpatizarem minimamente com sua cara? Como faz para chegar à biblioteca? Como faz para ir ao restaurante universitário? Como faz para sobreviver? As informações que lhe dão são todas desordenadas, vindas de gente que já está habituada demais ao caos acadêmico, sem falar nos professores que te odeiam com generosa despreocupação.
Mas, calma... Vai melhorar! Você já está lá pelo terceiro ou quarto semestre do curso quando recobra a confiança em si mesmo e começa a ter amigos com quem contar. É nesse período que começa também a conhecer melhor os mestres, e esses professores se tornam outros amigos, padrinhos, pais, guias. Começa a fazer contatos, participar de eventos, ver o lado fervilhante dessa nova fase. A vida recobra o sentido e você está pronto para vivê-la! Chegou enfim a quimera? O sonho da felicidade adulta e plena finalmente realizado?
Ah, amigos... Olha só que graça: quando chega o momento de desfrutar aquilo que seria "the time of your life", você está já preocupado, muito preocupado, com as coisas que virão depois! O coração humano nunca sossega... Agora, você já pensa no estágio, no emprego, no intercâmbio, no mestrado, no doutorado, no salário... E se aperreia, querendo cumprir mais matérias do que pode encaixar num semestre ou desprezando um número muito grande delas para depois se arrepender amargamente, porque são obrigatórias e vai chegar a hora de cursá-las.
Esse momento perfeito nunca chega e aí é que está: é uma questão de fazer o melhor que puder com aquilo que lhe foi dado, e fazer agora, ao invés de esperar pelos dias fáceis. Você dificilmente estará satisfeito por completo em qualquer Era da sua vida. Mas é preciso descobrir a perfeição de todos os momentos, sejam eles duros e árduos ou mansos e tediosos. 
Sempre haverá, em grandes ou pequenas doses, amigos, festas, família, diversão, passatempos, conhecimento, sede de saber, mentores incríveis, viagens, lugares, prêmios, elogios. Junto com isso, vêm também as coisas ruins ou amargamente difíceis... Os prazos, o sentimento de incapacidade, a pressa, o desleixo, a preguiça, a pouca grana, a fome, as greves... O que se pode extrair dessa bagunça toda é o seguinte: você e só você deve fazer com que o momento seja perfeito, produtivo, divertido, inesquecível. No final das contas, era sobre isso que estavam falando os seus professores lá naquela aula do ensino médio agora já tão longínqua... Aproveite e faça o seu melhor.

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