sexta-feira, 2 de maio de 2014

ARTIGO DO TOSTES

José  Alberto Tostes - tostes.j@hotmail.com / josealbertotostes.blogspot.com

Debater entre iguais nas diferenças: como me tornei o que sou?

Ocorreu na I Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo realizada na cidade de Fortaleza nos dias 22 a 25 de abril de 2014, a discussão do III tema previsto na programação com o título: Ética e Cidadania. O painel foi composto por dois debatedores, um jornalista e uma Filosofa, a finalidade era refletir o tema sob a ótica de outras áreas. Esta experiência foi importante, é muito comum nos eventos nacionais participarem os profissionais somente da mesma área.
A primeira intervenção foi de uma Filosofa com diversos pontos discutidos, como forma de provocação, a expositora explica a questão da Filosofia como um campo interdisciplinar, enfatizando aspectos conceituais entre ética e moral, apresenta a peculiaridade, quando diz: "o Código de Ética do CAU, é um problema ético, não se pode obrigar ninguém a ser ético", destaca a condição do Estado: "respeitar a Constituição já seria ético".
Outro fator é a postura intima de como exercer a ética, sempre é difícil? Aristóteles e Platão defendiam o conceito de ética como Vida e Felicidade. Os filósofos gregos demonstravam a necessidade de pensar a questão do outro, felicidade, supostamente estaria relacionado à consciência tranquila, ter um sono justo, traduzir o sentimento de sinceridade. Os gregos cultivaram este ponto no seio da cultura da época, no contexto dos costumes e no modo de proceder à reflexão de acordo com a expositora.
Esta exposição transcorria normalmente até a abertura dos debates, a partir do momento em que é aberto para a plateia, há manifestação de um integrante do plenário que afirma o seguinte: " - se sente ofendido com a forma professoral como a expositora tratou a plateia composta na sua essência por mestres e doutores, na sua visão tudo estava errado, discordava integralmente do conteúdo exposto". A expositora pede a palavra e rebate dizendo: "- você foi de uma grosseria". Na visão da expositora seria impossível que o mesmo alcançasse todo o teor apresentado, naquele momento, ele estava tendo um comportamento de performatividade sem considerar aspectos mais estruturais sobre o que foi abordado.
Este episódio me fez refletir profundamente o ocorrido. Em primeiro lugar, por conta da exposição feita pela filosofa, em diversas fases da exposição, a mesma se referiu a questão da Democracia demonstrada pelos gregos, dos efeitos de responsabilidade, da condição espaço e tempo, percebi que após a intervenção do integrante da plateia, houve alteração no humor e comportamento da filosofa, desconcentração e perda parcial do equilíbrio por alguns momentos, tentou enquadrar o sujeito, perguntando se o mesmo era palestrante do evento, supostamente estaria com inveja.
Este fato mostra o quanto às vezes é complexo estabelecer grandes diferenças entre teoria e prática. O integrante da plateia, de fato, agiu de forma grosseira e deselegante com a convidada. A dialética nos ensina que não precisamos convergir para as mesmas ideias, nossos referenciais de mundo, de vida, cultura e formação não são os mesmos, divergir é um principio básico da Democracia, não há necessidade de gerar ofensas e dúvidas sobre o que é apresentado em uma palestra para evidenciarmos a nossa contrariedade com o que é abordado.
Por outro lado, a expositora deixou cair os princípios que estavam sendo avaliados sobre a Democracia, quando submetida a uma situação adversa, reagiu com certa intolerância. Tal episódio coloca o quanto é difícil praticar a ética, e por consequência o exercício da Democracia. Este fato chamou mais atenção nos bastidores do que supostamente o contexto abordado no terceiro painel de debate. É preciso exercer mais a diversidade, e entender a lógica do outro. O outro representa a diferença, permite pensar de forma contrária, torna-se fundamental trabalhar melhor o contexto que vai além do senso comum.
O terceiro dia debate ficou marcado por um fato, às vezes, é comum em eventos, o ego elevado, a arrogância, e a prepotência, a elevação do autoconhecimento superestimado, tudo isso, atrapalha a objetividade de eventos importantes. Os eventos tem como finalidade a construção de referenciais que são cruciais para o desenvolvimento e amadurecimento de um projeto como é o CAU. O Conselho é ainda muito jovem, tem uma larga trajetória para colocar em prática. Diante de tal situação, discutir os propósitos de um tema, nos remete primeiramente a um processo de reeducação, passa pela visão adquirida nos bancos da escola de base.
O próprio teor da palestra proferida pela filosofa evidenciava grande preocupação sobre como pensar ética como prática de vida. A própria expositora definiu que não se pode falar em ética da boca para fora, além disso, definiu três importantes perguntas pelos quais a mesma entendia que deviam ser refletidas: a primeira é como me tornei o que sou? A segunda, o que estamos fazendo uns com os outros? E a terceira pergunta como viver junto? 

Verdadeiramente, a somatória de tudo, me deixou pensativo, seria tudo subjetivo demais? O teor exposto e o conflito decorrente de visões antagônicas de um mesmo problema, mostra como é fundamental exercer o sentimento de ética e cidadania, vai muito além das definições e interpretações de caráter subjetivo. Para concretizar isso, é preciso observar mais as igualdades nas diferenças, neste caso, devemos pensar mais profundamente a proposta da segunda pergunta sugerida pela Filosofa: como me tornei o que sou?

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