sexta-feira, 2 de maio de 2014

REINALDO COELHO

Orla de Macapá

O abandono e o descaso com a frente da cidade


Macapá é a única capital brasileira banhada pelo rio Amazonas. Sua orla, cantada em versos por compositores e poetas amapaenses, já esteve tomada pela lama e refugos de árvores trazidos pelo rio. O Trapiche Eliezer Levy era o único ancoradouro para a chegada de  visitantes e ribeirinhos que traziam mercadorias para revender aos macapaenses. A então 'Rua da Praia' ganhou a atenção dos governos, que se empenharam para estruturar a via considerada porta de entrada da capital.
A primeira construção na frente da cidade foi a do Macapá Hotel, seguida pelo Fórum de Macapá e residência governamental, todos voltados para a panorâmica beleza do rio Amazonas. A orla começava no antigo Elesbão, atual bairro Santa Inês, tendo ao fundo a Fortaleza de São José de Macapá.
O arquiteto e urbanista José Tostes descreveu em um artigo jornalístico que durante uma caminhada feita pelos acadêmicos de Urbanismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap), para análise da situação da Beira Rio e do Canal da Mendonça Junior, foi possível observar que "o canal foi abandonado e ficou a indignação. Até onde vão os limites éticos de nossos governantes? No caso da Beira Rio, ficou desconfigurada com a proposta de um padrão único para os bares e restaurantes com a utilização de uma cobertura única. Isso criou uma parede de isolamento entre a cidade e o rio. Citei para os acadêmicos que na década de 1990, na administração do prefeito Papaléo Paes foi urbanizada a área no entorno da fortaleza, como um grande espaço público. A área era parte do uso de integração com a orla do rio Amazonas, o que foi alterada posteriormente".

Evolução e abandono 
Passada a gestão de Papaléo Paes, outros gestores fecharam parcerias para a construção da orla, que iniciava no Igarapé do Jandiá e deveria seguir até a Av. Equatorial, com interligação no complexo turístico Marco Zero, Zerão e Sambódromo. As obras chegaram até o Aturiá, onde há uma vila de palafitas. No local, foram construídos uma praça, quiosques, e pistas de atletismo, espaços hoje deteriorados e inseguros.
Atual situação da orla, que tinha um projeto de investimento de cerca de R$ 30 milhões, para construção do corredor turístico de Macapá, com início no bairro Perpétuo Socorro seguindo até o Monumento Marco Zero.


Complexo de lazer do Jandiá
O complexo do Jandiá está abandonado pela prefeitura. O local está sendo usado por usuários de drogas e assaltantes. A reclamação dos comerciantes é geral. Eles dizem que são vítimas de assaltos constantes, o que afasta fregueses. A jovem estudante Idalina Souza diz que já foi assaltada duas vezes e agora evita frequentar o local, por medo. “O local é lindo, mas o descaso é grande e os marginais é que dominam”, reclama.
Proprietários de quiosques reclamam que precisam arcar com os prejuízos. O comerciante Sebastião França disse à reportagem que as pessoas que frequentavam o espaço para passear com os filhos, não frequentam mais. “Tivemos uma queda nas vendas de mais de 80%, pois os visitantes se ausentaram, por causa dos constantes assaltos no local”.
Além da insegurança, o muro de arrimo e o calçamento estão destruídos pela erosão. A população diz que há muito tempo pede socorro e sofre com o descaso do poder público.


Perpétuo Socorro
A orla de Macapá é rompida pelo Igarapé das Mulheres. Para o urbanista Alberto Tostes, “seria preciso pensar para aquele local uma intervenção com a participação da comunidade no sentido de dar continuidade à faixa litorânea, e sempre valorizando o rio Amazonas”.
No local, também se observa uma estrutura desgastada. Lixos acumulam no espaço, obras estão inacabadas, há muitos buracos e erosão em algumas partes, pouca sinalização e degradação do passeio público. Do lado do rio, um forte processo de assoreamento com muito lixo jogado, em alguns casos, pelos próprios donos de embarcações, que atracam para vender os produtos. Atualmente, reinam no local os esqueletos dos barcos queimados pelo incêndio ocorrido no dia 11 de abril.

Trapiche Eliezar Levy e entorno

O trapiche tinha um papel importante, era o local de embarque e desembarque para os passageiros que vinham das ilhas, e de Belém do Pará, o que foi mudado para a cidade de Santana. Até então, a orla era mais oportunizada com os elos com o rio Amazonas, inclusive daqueles que avistavam a cidade de longe. Na década de 1990, o trapiche foi reformado e passou a de uma estrutura de madeira para concreto, porém, alterou-se o projeto original, inclusive a distância total. A estrutura também passou a ter outra função, muito mais de contemplação, mas há neste lugar algo que não combina e nem funciona, o bondinho, isso reduziu inclusive a área de acesso da extensão.
Pela localização central da orla e pelo grande número de bares e Praça do Coco, o espaço é um dos mais movimentados da cidade. Tem a Casa do Artesão, o Hotel Macapá e reinam os carrinhos de vendas de batata frita e bebidas alcoólicas, comercialização não permita, inclusive.
Empresários de lazer colocam brinquedos para uso das crianças sem as devidas autorizações e nem uma segurança para sua utilização. “Eles não têm alvará de licença de funcionamento e o material demonstra que não tem segurança, além de utilizarem a energia elétrica pública que causa desligamento e queda de energia”, denunciou um frequentador.


Lugar Bonito precisa ser cuidado

O ex-governador do Amapá Waldez Góes e o ex-prefeito da capital Roberto Góes inauguraram a primeira fase do Complexo Beira Rio, formado por praça de alimentação, restaurantes, quiosques e sorveterias. O investimento foi de aproximadamente R$ 5 milhões. Provavelmente, a maior e melhor obra urbana em todo o estado.
O povo não teve dúvida, substituiu o nome Parque do Forte por Lugar Bonito. Porém, a segunda etapa ficou no projeto e o que foi construído está degradado.
Foi abandonada a execução do projeto. Os esqueletos de obras ainda estão pela praça que fica na frente da residência oficial do governador.
Camilo Capiberibe foi cobrado pelo pai, o senador João Capiberibe, em 2011, a melhorar o espaço. Na ocasião, era entregue o Trapiche Eliezer Levi, recuperado.
Não ouviu e foi convencido, em 2012 a realizar a quadra junina no local do anfiteatro do parque, prejudicando a estrutura que há no local e agredindo as finalidades para as quais foram construídos os elementos do parque.
No momento, o Lugar Bonito está passando pelo pior estágio, com todas as luzes do muro de arrimo apagadas e com as luminárias destruídas, buracos no calçamento, como verdadeiras armadilhas para os pedestres. Calçadas destruídas, grama sem manutenção e os chafarizes sem funcionar.
O lugar está sujo, maltratado e, ao que parece, sem ser visto pelos que teriam a responsabilidade de manter o local limpo, agradável, conservado e próprio para uso.
Por enquanto, os descuidos e os desleixos prevalecem e se impõem aos gestores que, completamente alheios ao caso, precisam recuperar o local que é importante para o prazer e a satisfação da população local e dos visitantes.

Orla do Santa Inês
Antigo Matadouro do Elesbão e Praia da Vacaria, o bairro teve seu povoamento através das “invasões”. O proprietário do local, vendo a impossibilidade de conter o avanço dos “invasores”, doou um terreno à igreja católica, que ali construiu a capela de Santa Inês, que passou a ser a denominação do bairro. O então governador Annibal Barcellos foi um dos gestores a transformar a frente da cidade, quando deslocou os moradores das palafitas do Elesbão, onde funcionava o matadouro, para o loteamento denominado Nova Esperança e a desativação do referido matadouro, para a construção da estação de coleta de água da Caesa.
Atualmente, a beleza do bairro é notória e o local se tornou uma área nobre de Macapá e virou encontro das famílias, porém, novamente a ausência do poder público está comprometendo a sobrevivência do logradouro. Os delinquentes juvenis levam carros com potentes caixas de som e bebidas e drogas e os assaltos e prostituição infantil predominam no cenário noturno.

Obras do píer do Santa Inês estão paralisadas 
O projeto de valorização da orla da cidade revitaliza a rampa que se tornará píer do Santa Inês e devolve à população espaços de lazer e de contemplação da natureza, além de ser flutuante de acordo com as marés do rio. O recurso de R$ 8 milhões foi assumido pelo governador Camilo Capiberibe, que garantiu concluir os serviços até a primeira metade de 2014. A obra continua paralisada.

Aturiá
O bairro Aturiá, em 2000 começou com a urbanização da orla de Macapá, que chegou até o Araxá. Muitos que residiam no entorno foram fixando residências neste local e não foram observados alguns critérios de ocupação do espaço geográfico, no que diz respeito à segurança contra a erosão natural naquela área. O local surgiu como um apêndice do Complexo do Araxá, formado em sua maioria por propriedades de bares e boates fechados com a revitalização e organização do local. Criaram na antiga ‘Praia do Amor’ um conjunto de palafitas que passou a atender a uma demanda de clientela.
Tratava-se de um trapiche para lazer e comemorações de programações, como “Macapá Verão”. Desde esta época, o rio vem adentrando gradativamente o bairro e derrubando várias edificações, sejam palafitas ou não.
Foram elaborados dois projetos para beneficiar os morados do local. Um seria a construção de um muro de arrimo para contenção da erosão e valorização da orla da cidade; e o outro seria um conjunto habitacional para receber os moradores do local de risco. 
Os dois estão sendo executados há mais de três anos e a velocidade como são executados não acompanham as necessidades dos moradores do local. As duas obras estão em passos lentos e totalmente desconectadas com o avanço do rio Amazonas.
O prazo de entrega do muro de arrimo orçado em mais de R$ 12 milhões, iniciado em agosto do ano passado, é de doze meses, portanto, ainda encontra-se dentro do prazo, porém, segundo os moradores, as obras estão paradas. Até maio, apenas 400 metros foram concluídos e as chuvas fortes, juntamente com a força do rio Amazonas, continuam colocando vidas em risco.  

Complexo do Araxá

Um dos pontos turísticos mais antigos e conhecidos da orla de Macapá, o Complexo Turístico e de Lazer do Araxá encontra-se esquecido e abandonado pela prefeitura de Macapá.
A local está tomado por mato, lixo e com quase todas as luminárias queimadas. O espaço que foi estruturado para reunir grande número de pessoas para shows, com uma concha acústica e logradouro infantil, assim como para a prática de diversas modalidades esportivas, está tomada pelo mato. No segundo estacionamento existe até um atoleiro. 
 A secretaria de Obras do município informou que as reformas estão previstas para os mais de 100 logradouros da capital, dentro de um cronograma da prefeitura.
Porém, o munícipe está cansado da espera burocrática para cumprimentos de promessas. A situação é tão perigosa no Complexo do Araxá, localizado próximo ao bairro de mesmo nome, onde é grande a incidência de assaltos e assassinatos, que os frequentadores já não têm o local como boa opção para a agenda de lazer.



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