Palmas uma cidade jovem
Autor: José Alberto Tostes
Neste dia 20 de maio a cidade de Palmas completa 25 anos de fundação,
portanto, uma cidade relativamente jovem, com uma população muito jovem, o que
dizer sobre uma cidade considerada a última planejada no Brasil no final da
década de 1980. Esta é segunda vez que tenho a oportunidade de visitar a cidade
de Palmas em um período de dois anos, a primeira vez ocorreu em outubro de 2012
em um Congresso de Desenvolvimento Sustentável promovido pela Universidade
Federal do Tocantins, e neste segundo momento com a realização do Fórum de
Presidentes nos dias 19 e 20 de maio. A primeira impressão sobre Palmas é que a
cidade foi projetada exclusivamente para o automóvel, é evidente que a cidade do
século XX e agora XXI tem sido fortemente influenciada pelo transporte
individual.
A
lógica do capital e dos grandes interesses de grupos acabou condicionando
inúmeras limitações de planejamento às cidades brasileiras, planejadas ou não. Na
apresentação da arquiteta e urbanista Sara Rodovalho no Fórum de Presidentes em
suas considerações finais em sua dissertação de mestrado sobre a produção do
espaço urbano da cidade de Palmas descreve: “Entretanto”, cabe a
estudos subsequentes a busca do entendimento profundo e conceitual do que vem a
ser Planejamento Urbano aplicado à realidade social e do que a ser na teoria e na
prática uma Cidade Planejada, pois
a experiência de Palmas demonstra que pouco do
planejado foi efetivado e foram poucas as conquistas realizadas que tange à busca do
desenvolvimento urbano socioespacial, ou seja, melhoria da qualidade de vida da
população e aumento da justiça social, que são, em tese, o objetivo principal de qualquer
Planejamento Urbano.
As
afirmações de Sara Cordovalho evidenciam um contexto onde os principais
problemas urbanos das cidades no Brasil não estão vinculados somente ao fato se
as cidades são planejadas ou não, mas dependem substancialmente como a
realidade política, econômica, cultural e socioambiental é percebida no cenário
nacional, regional e local. O caso de Palmas, talvez, ilustre bem esta situação
sobre como o planejamento não pode ser algo estático, e alheio a realidade que
é provocada principalmente pela intensidade das dinâmicas sociais. Outro fator
relativo a este ponto é a condução das políticas nacionais que nas últimas
décadas foram conduzidas desconsiderando a multidiversidade do país.
Os
problemas relatados no trabalho de Sara atestam ainda: “Em suma, Palmas foi fruto de um Projeto Urbanístico
que além do desenho urbano do macro parcelamento apresentava diretrizes de ocupação e
implantação por etapas
com a finalidade de promover o adensamento da cidade e sua viabilidade econômica. Entretanto além do
desenho urbano básico, pouco desse Planejamento referente ao apresentado foi efetivado pela Gestão
Urbana. A cultura
política dominante no estado do Tocantins e em Palmas promoveu a construção de uma cidade com base em um
projeto, mas não uma cidade planejada”.
Os desafios para cidade de
Palmas que completa 25 anos são compatíveis com as imensas expectativas das
demais cidades brasileiras, aliar a concepção de planejamento aos mecanismos de
gestão que levem em conta também a realidade do lugar, a relação de trocas
simbólicas como diz Pierre Boudiueu, porém, uma cidade com 25 anos ainda tem
uma larga trajetória para ser corrigida, de evitar equívocos históricos que se
perpetuaram no espaço das cidades brasileiras. É preciso pensar de forma
sistêmica o conceito sobre a cidade. Os múltiplos mecanismos pensados para
auxiliar o desenvolvimento das cidades no Brasil, não tem sido suficiente para
contribuir com o debate público da cidade. O Estatuto da Cidade é um estatuto
na sua essência absorve o contexto das metrópoles, entretanto, há princípios
importantes e cruciais para serem avaliados e colocados em prática como o tema
da sustentabilidade e da gestão democrática da cidade.
Nossas cidades padecem de um
maior exercício legitimo de aplicar princípios democráticos, fato desencadeado
com a cruzada dos planos diretores, entretanto, sem a lógica para fazer valer
quais as metas que deveriam ser efetivadas em longo prazo. O cenário atual das
cidades brasileiras também é consequência de uma imensa fragmentação
institucional que se reflete na forma como os planos, programas e projetos são
elaborados e aplicados de acordo com os interesses de cada momento.
Palmas ainda têm um cenário
promissor, se considerarmos como o espaço urbano está constituído com um bom
número de áreas verdes e espaços públicos bem generosos. A cidade planejada não
pode ser apenas o objeto de intenções pontuais como aconteceu nestes 25 anos,
deve ser vista sob a ótica como as novas dinâmicas estão postas, deve-se aliar
o potencial instalado de uma população jovem disposta a trabalhar, nada disso,
terá valor se tudo o que foi pensado para Palmas continuar encontrando entraves
institucionais que só empobrece a perspectiva de planejamento. O planejamento é
importante, mas não é estática e única, a cidade é formada por pessoas, que são
usuárias do espaço urbano. Parabéns para todos os habitantes da cidade de
Palmas pelos 25 anos de fundação, é preciso mudar o enredo desta história para
que não seja mais uma cidade a reproduzir os valores de acordo com os
interesses do capital.
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