Editorial
Faça direito
para fazer errado
O povo de senso
comum e até os analfabetos funcionais devem estar com uma enorme dúvida na
cabeça. É que o Ministério Público promoveu uma incursão policial denominada
“Operação Eclésia”, de forma ilegal, e realizou busca e apreensão na Assembleia
Legislativa e na casa de alguns deputados. A partir daí os parlamentares
estaduais foram execrados perante a sociedade. De forma cruel, aplicando o
aprendizado maquiavélico de que a maldade se faz de uma vez, a Casa de Leis do
Amapá viu seu teto ruir. E, nesse caldeirão, foram todos os parlamentares
achincalhados, como corruptos. Cada qual, um inimigo público número um.
É estranho
que pessoas com sólida formação na ciência jurídica possam usar seus
conhecimentos técnicos para atropelar o estado democrático de direito. Mas a
sociedade, ao analisar as atitudes do Ministério Público, percebe claramente
que tudo não passa de manobra político-eleitoral. No caso da operação Eclésia,
quem pediu a sua deflagração não tinha prerrogativa para o feito, e quem
concedeu muito menos.
Mas o que
importa isso? O fundamental é que os adversários políticos estejam
desmoralizados. Só que a imagem de vestal da moralidade atribuída ao parquet
foi construída sobre areia. Não havia sido firmado em rocha, e tudo o que é
erigido sobre areia a tendência é ser destruído. O Relatório de Auditoria do
Tribunal de Contas do Estado sobre as contas do MPE exercício 2011 revela que o
Ministério Público e seus membros têm pecados, também. Um dos escândalos que
chocou a sociedade é a revelação do pagamento indevido do auxílio moradia, uma
farra com dinheiro público. Uma vergonha.
Para o
cidadão humilde fica a nítida impressão de que promotores e procuradores são
mais culpados que os deputados, pois diferente da ALAP, no MPE todos têm sólida
formação jurídica, conhecem a lei como poucos, portanto sabem o direito.
Já na
Assembleia, sem desmerecer parlamentares, naquela Casa não há obrigatoriedade
de nível superior. Mas a conduta moral de um membro do MP deve ser imaculada. Já
a de um parlamentar, basta que tenha aprovação do povo e não tenha sido
condenado por um colegiado.
Santo
paradoxo. Deputados, incumbidos de legislar e fiscalizar as ações do Executivo,
são julgados a priori e jogados na vala comum dos imprestáveis entre os três
poderes. Do outro lado, entre perfumes, sedas e carmim, envergando ternos e
tailleurs bem cortados, os intocáveis senhores e senhoras da razão,
excelentíssimos promotores de Justiça.
Como
guardiões de leis soberanas, infelizmente, nossos nobres promotores já não
podem sustentar a pose de arautos da moralidade. Cometeram o pecado original ao
assinar o TAC milionário. E continuam imersos entre as penumbras dos
malfeitores, agindo com solércia, abiscoitando a módica quantia de R$ 7,2 mil
mensais para bancar uma ‘condigna’ moradia oficial.
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