Invasões de áreas proliferam em Macapá
Para os sem
teto, programas habitacionais não atendem
aos que precisam.
Reinaldo Coelho
Da Reportagem
As invasões de
terras no estado do Amapá são frequentes, mas sempre que se aproxima a ano
eleitoral esse fenômeno ganha proporções preocupantes. Em Macapá, a maioria das
áreas ocupadas pertence à prefeitura e ao governo do Estado. Poucas são
particulares.
Uma área privada
localizada no Vitoria do Renascer, de propriedade desconhecida, foi invadida na
sexta-feira (16) por mais de 200 famílias que montaram acampamentos no local e
demarcaram com fios os lotes com média de 8 x 10 metros. Quase 800 pessoas, a
maioria jovens, que estão se assentando precariamente no local, em busca de um
pedacinho de chão para morar.
A dona de casa
Cleonice Santos, 35 anos, que tem duas filhas e ainda cuida de dois sobrinhos,
é uma das líderes da ocupação no Vitoria do Renascer. Ela destaca que todos estão
ali por necessidade. “Estamos ocupando porque precisamos ter uma residência.
Tanto que não queremos terreno grande, mas apenas o suficiente para construir
uma casa digna para vivermos decentemente”, explica.
Para justificar a
iniciativa dos sem teto, Cleonice reforça que a maioria dos invasores não tem
como bancar o aluguel. "É uma tristeza. A gente não quer pegar o que não é
nosso. Mas não temos mais como pagar aluguel. E tem tanta área sobrando",
frisa.
A expectativa dos acampados,
segundo Cleonice, é de que os proprietários da área apresentem a documentação
da mesma. “O senhor que aqui reside, e alega ser o proprietário, nos apresentou
um recibo de compra e venda. Ele argumenta que não tem condições para a
manutenção do local e pediu que não invadíssemos toda a área”, afirma.
Um dos argumentos
dos ocupantes da área é de que os programas habitacionais em execução não estão
beneficiando quem realmente necessita. Entre os programas habitacionais,
Cleonice cita o ‘Minha Casa, Minha Vida’ do Governo Federal, executado pelo
Estado e pela Prefeitura de Macapá.
“Já tentei me
inscrever nesses projetos e não consigo. Moro há sete anos pagando aluguel, não
ganho Bolsa Família, não temos participação em nenhum programa social federal
ou estadual. Esse povo está aqui lutando por um pedacinho de chão para morar
com seus filhos”, resume.
Outro ocupante,
Maurício Costa diz que o grande erro está na distribuição do programa ‘Minha
Casa. Minha Vida’. "Assim como eu, há muitas pessoas inscritas neste
programa há anos, desde 2008 e 2009. Mas até agora não vimos nada de concreto.
A preferência é para quem não precisa. Isso é complicado", denuncia.
Maria de Lourdes
Almeida da Silva ressalta que quem demarcou um lote é porque está precisando e
não simplesmente por ganância. "Acho muito errado quem pega para vender.
Mas se entrar para morar por necessidade, acho que é válido", enfatiza.
Jorge Vieira, que
está com a mulher e uma filha, já conseguiu até instalar luz. “O pior é que não temos para onde ir. A casa
onde morava era alugada, e eu não tinha mais como pagar. Pedimos ao prefeito
que venha aqui e nos ajude”, suplica.
Déficit
Em Macapá o
déficit habitacional é de pouco mais de 25 mil moradias, segundo o Censo de
2010 do IBGE. Deste total, 13.800 domicílios estão sob a situação de risco ou
não apresentam condições de moradia dignas na capital. A capital é o município
com o maior volume de invasões. Este ano já aconteceram quatro.
Mas de acordo com
os dados da Secretaria Nacional de Habitação, Macapá apresentava um déficit
habitacional de 12.472 moradias e possuía 13.863 domicílios em assentamentos
precários, perfazendo uma carência habitacional De 26.333 residências. De
acordo com o Urbanista José Tostes é preciso levar em conta que a carência
habitacional não se refere apenas à falta de moradia, mas também às precárias condições
de habitabilidade.
Apesar de vários
projetos colocados em prática nos últimos cinco anos - alguns em andamento -, é
preciso considerar o fato de que Macapá e Santana concentram mais de 80% da
população do estado do Amapá.
As obras
finalizadas, em andamento ou projetadas totalizam quase 10 mil residências, ou
seja, 50% das necessidades reais dos que precisam de moradia. Mas o crescimento
demográfico não é estanque, de modo que o poder público tem que tocar o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) no Estado.
Segundo a previsão
das autoridades, serão entregues 2.148 unidades do Conjunto Macapaba. No Conjunto
Habitacional São José serão construídos 1440 apartamentos; no Residencial
Mestre Oscar foram 528 casas e no Conjunto Mucajá outras 592 unidades, o que
totaliza 4.708 residências. Isso significa apenas 18% do projetado.
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