sexta-feira, 9 de maio de 2014

PIONEIRISMO





"Não havia energia elétrica com regularidade e os 
professores levavam trabalho para casa e tinham que 
trabalhar a luz de vela ou lamparina e não havia transporte. Tínhamos que andar a pé sob o sol escaldante ou de bicicleta"  - Professora Eulice de Souza Smith


Mais uma educadora pioneira amapaense é retratada na editoria do pioneirismo do Tribuna Amapaense.Ela é a professora Eulice de Souza Smith, nascido  no dia 02 de março de 1911, na cidade de Bragança (PA), na fazenda Fortaleza, que pertencia ao seus pais , Jorge Inácio de Souza e Joana Ferreira de Souza. Completou 103 anos este ano, porém mantém a jovialidade dos 70 anos.


Mantém-se impecável o dia inteiro. Passas as hora lendo, outras vezes conversando e às vezes lembrando as fases desses 103 anos de vida. Fala mansa e vista aguçada, às vezes é traída pelo ouvido. Mas a lucidez é algo impressionante para uma centenária. Caminha sem ajuda e sabe exatamente o que vem fazer, sem perder a hora nem a noção do tempo.
Teve uma educação rigorosa, como todos de sua época. Estudou na Escola Santa Catarina, um colégio interno de Belém, dos sete aos 18 anos. Foi neste período que ela formou o caráter, cultivou a religião e base moral, ética e espiritual.
A sua vida sempre foi dedicada à leitura, poesia, música e ao estudo gramatical. Ainda hoje, por questão de hábito, lê em torno de 8 a 10 h por dia. Religiosa e católica praticante, não só dos rituais litúrgicos, quanto da vida de doação e amor ao próximo, atributos desenvolvidos junto com o marido.

"Homem bom" - destaca quando fala do marido Ricardo Smith, com muito carinho. Mesmo sendo militar e severo, tinha um coração maior que os quase dois metros de altura, narra a Professora Eulice Smith. "Ele trazia os moleques e mendigos para comer em casa, na Rua São José, 1124, no centro, onde moro até hoje. Mandava tomar banho e arranjava roupas. Ele teve mais de 500 afilhados, tanto em Macapá quanto nos interiores, onde trabalhou", relembra.
Coordena as ações 
Não mais com o vigor de outrora, ainda participa dos trabalhos e atividades paroquiais. Era ela, junto com o marido, que conduzia os rumos da educação dos filhos. Era matriarcal quando o marido agia com a disciplina e o rigor militar. 

Vinda para o Amapá
Chegou a Macapá, acompanhada do marido em 1944, quando ele foi convidado a compor o quadro de pessoal do governador Janary Gentil Nunes, o 1º do então Território Federal do Amapá.

Missão sem trégua 

Quando enviuvou continuou sozinha na missão de educar os filhos, netos e bisnetos. É também a mãezona dos filhos, genros, amigos e das comunidades onde participa das ações. Os cabelos brancos espelham a beleza de uma mulher que aprendeu a viver e a cultivar o amor e mantém-se vaidosa porque aprendeu a se amar. "Ninguém consegue amar o outro se não se ama", ensina.

A família
Ela e Ricardo Cardoso Smith tiveram cinco filhos: Maria Regina, Maria Ivone, Maria das Graças, Raimundo de Souza Smith e Ricardo Cardoso Smith Filho. Têm 14 netos e mais de 15 bisnetos. É a matriarca da família Souza Smith. Temperamento dócil. Aparentemente frágil, mas forte e altiva quando necessário.

Trajetória educacional
Atuou como professora do então ensino primário, técnica em contabilidade e taquígrafa.  Foi contemporânea e amiga das professoras Predicanda Amorim Lopes, Dayse Nascimento e do marido dela, professor Clodoaldo, Nanci Nina da Costa, Deuzuite Sá Farias, Ernestina Neves Sozinho, José Barroso Tostes, Gabriel de Almeida Café e tantos outros pioneiros da educação no Amapá. 
Nesta época, relembra, não havia energia elétrica com regularidade e os professores levavam trabalho para casa e tinham que trabalhar a luz de vela ou lamparina e não havia transporte."Tínhamos que andar a pé sob o sol escaldante ou de bicicleta" narra.

Pioneiríssima 
Teve atuação marcante como a 1ª secretária da extinta Escola Normal, depois Instituto de Educação do Amapá (IETA) e da também da extinta Escola Industrial de Macapá, depois Ginásio de Macapá (GM) e atual Escola Antônio Cordeiro Pontes. Pela competência, organização, disciplina e dedicação, foi guindada a gerenciar a Secretaria de Educação do então Território Federal do Amapá, uma espécie de coringa administrativa.

Quando o marido, Ricardo Smith, militar do Exército foi comandar a guarnição de Clevelândia do Norte, ela teve que ir junto para também ser professora naquela localidade. "Trabalhei muito. Tempos difíceis. Mas nunca desisti de meu trabalho e jamais perdi a esperança no ser humano. E em nenhum momento deixei de agradecer a Deus por tudo que Ele vem me proporcionando", diz com tanta convicção como que revelando os segredos da longevidade e felicidade.
Hoje Eulice Smith vive cercada dos familiares e ainda continua com as ações de mãe, dona de casa e protetora dos que a cercam e a procuram, no mesmo endereço. A prova da formação de caráter, educação e disciplina são demonstradas pelo sucesso dos filhos, netos e bisnetos que formados e empregados, dão continuidade ao respeito e honestidade ensinados pelos sábios genitores. 

 (*) texto original do jornalista Édi Prado -  Matéria publicada, originalmente, em março de 2012 na Revista Olhar Amazônico.

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