Fim do político
profissional
Os
gregos, na antiguidade, chamavam de idiotés quem não participava da
política, ou seja, quem egoistamente ficava isolado em sua casa, obcecado em
suas mesquinharias, sem oferecer nenhuma contribuição para a comunidade, para apolis
(cidade) (veja Savater, Política para meu filho). Desse idiotés
no sentido grego deriva nosso idiota atual, que você sabe bem de quem se trata.
Somos contra o político que faz da política seu único meio de vida, abandonando
sua profissão. Ao mesmo tempo, temos que ser contra, sobretudo quando se trata
de um jovem, quem não se interessa absolutamente nada pela política, nem sequer
par criticá-la (que é a tarefa mais fácil de se realizar).
Lançamos
uma campanha denominada fim do político profissional (veja www.fimdopoliticoprofissional.com.br ). Por político profissional
entendemos o que abandona sua profissão para ocupar cargos eletivos
eternamente, como no caso de José Sarney. Lutamos, dentre outras, por três
coisas: 1ª) nenhum político pode deixar de exercer a sua profissão particular,
compatibilizando-a com suas obrigações públicas; 2ª) nenhum político pode ser
reeleito para o mesmo cargo executivo (salvo depois de uma longa quarentena) e
3ª) nenhum político pode exercer mais que dois mandatos consecutivos nos cargos
legislativos (só podendo voltar depois de uma longa quarentena). José Sarney
não teria exercido (nefastamente, diga-se de passagem) mais de 60 anos de vida
pública se essa regra já estivesse valendo.
Mas por
que acabar com o político profissional? Porque essa é uma das maiores fontes da
endêmica corrupção no nosso país, sobretudo entre o político e o mundo
empresarial e financeiro (os três formam uma troyka maligna quando atuam
pensando exclusivamente nos seus interesses, em detrimento do povo). Para se
entender quais são esses “interesses” basta parafrasear um influente (e
desqualificado) político norte-americano (citado por Cristóbal Montes, 2014:
130), que dizia: “O que os homens de negócios [especuladores] não compreendem é
que eu opero com os votos exatamente o que eles fazem com as especulações e os
lucros ilícitos”.
O Brasil
não necessita apenas dos movimentos horizontais (povo nas ruas exigindo ética
na política, melhores serviços públicos etc.), sim, sobretudo, dos verticais,
para extirpar da nossa cultura seus aspectos nefastos, incluindo seus
fundamentos personalistas (herança ibérica) e aristocráticos (que conduzem a
privilégios e mordomias, violando-se flagrantemente a igualdade entre todos).
Nunca o Brasil será um país confiável se os velhos costumes, as crenças
arcaicas e as ideologias desgastadas não forem dissolvidos, de uma vez por
todas (a começar pelo voto). Nunca atualizaremos o país, de acordo com o mundo
globalizado e técnico que vivemos, se a velha ordem colonial e patriarcal, dos
senhores de engenho escravagistas, dos políticos corruptos clientelistas, não
for revogada terminantemente (veja S. B. De Holanda 1995: 180).
Um
político ficha-suja não deveria jamais poder concorrer a novas eleições (por um
longuíssimo período). Faz muito mal para o Brasil a existência do político
profissional (o que faz da política um meio de vida, reelegendo-se
eternamente). O aprimoramento das nossas instituições passa pela proibição das
seguidas reeleições. O velho sistema político está morto (e deslegitimado).
Ocorre que o novo ainda não nasceu. É hora de lutar por profundas mudanças nos
nossos costumes e tradições. Temos que promover uma lei de iniciativa popular
para limitar a possibilidade de os políticos fazerem carreiras eternas na política.
Lutar
pelo fim do político profissional (o que se perpetua nos cargos eletivos)
significa lutar contra a corrupção, que tem nele uma das maiores fontes de
irradiação. O político profissional (o que abandona sua profissão de origem
para ocupar eternamente cargos eletivos, com todos os privilégios e mordomias)
tem imperiosa necessidade de reeleição e essa necessidade de reeleição está
para ele como a ganância desmedida está para o empresário e o banqueiro
inescrupulosos e parasitários. Junta-se a fome com a vontade de comer. O
político, no nosso sistema cultural, “naturalmente padece do vício de dar
primazia às conveniências particulares em detrimento dos interesses de ordem
coletiva. Isso já significa fazer predominar o emotivo sobre o racional. Por mais
que se julgue achar o contrário, a verdadeira solidariedade só se pode
sustentar realmente nos círculos restritos e a nossa predileção, confessada ou
não, pelas pessoas e interesses concretos não encontra alimento muito
substancial nos ideais teóricos ou mesmo nos interesses econômicos em que se há
de apoiar um grande partido. Assim, a ausência de verdadeiros partidos não é
entre nós, como há quem o suponha singelamente, a causa de nossa inadaptação a
um regime legitimamente democrático, mas antes um sintoma dessa inadaptação”
(Sérgio Buarque de Holanda 1995: 182-183).
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