PIONEIRISMO
“Nunca tive pressa pra crescer, ou algum tipo de ambição material; minha
meta sempre foi ter onde morar, ter o que comer diariamente e ser feliz.” - David Cordeiro Santana - Pescador.
Netto Trajano
Para muitos ribeirinhos, é do
roçado que vem o que comer. Como as várzeas – terras periodicamente inundadas
pelos rios – são muito férteis, é comum que a roça ganhe maiores dimensões e o
que seria para subsistência vira também fonte de renda. Para os pescadores é
dos igarapés, rios e lagos que tiram o pescado para alimentação da família e
ganharem um trocado.
Esta semana a editoria do
pioneirismo foi buscar no seio do Bairro Perpetuo Socorro, um pioneiro pescador
e ribeirinho, nascido entre a água doce do Rio Araguari e a salgada do Oceano
Atlântico, no Arquipélago do Bailique. Ele é David Cordeiro Santana, nascido no
dia 29 de Dezembro de 1923, filho de Raimundo Santana Barbosa e Maria Rodrigues
Santana. Natural do Bailique, distrito de Macapá-AP, criado como pescador, que
é uma a profissão passada de pai para filhos.
Cresceu na humildade e alegria com
seus três irmãos, aprendendo os costumes ribeirinhos, legado de sua família.
Então migraram para Macapá na década de 40, enquanto o Amapá ainda era Território
Federal. “Cheguei aqui quando isso tudo ainda era um matagal e no local onde
moro até hoje só havia um igarapé que era por onde tínhamos acesso às casas.”
“Trabalhei com muita garra no ramo da pesca
juntamente com meus pais e irmãos, todos os dias desde que chegamos aqui.
Quando jovem, tinha forças pra dar e vender.
Aproveitei o que Deus me forneceu e interagi na sociedade como ajudante
de pedreiro. Após algum tempo, fui em busca de algo melhor; comecei a trabalhar
como vigilante na prefeitura de Macapá, gostei muito da experiência”, relata o pioneiro.
Família
No decorrer dos anos, casou-se com
Lucila Andrade Santana e teve seis filhos. Sua vida estava progredindo aos
poucos e a David era um cara simplista e humilde. “Nunca tive pressa pra
crescer, ou algum tipo de ambição material; minha meta sempre foi ter onde
morar, ter o que comer diariamente e ser feliz”, diz David com um sorriso
estampado no rosto.
Sempre rígido e pontual, o pioneiro
David dava valor em seu primeiro emprego de carteira assinada. “Após muitos
anos, entrei de cara na política e dei apoio ao Papaléo que estava iniciando
nessa área.”
“Infelizmente, nada e nem ninguém
dura para sempre. Fiquei arrasado com a morte de minha esposa, que veio a
falecer por Enfisema Pulmonar, devido ao cigarro, em novembro de 1988. Foi difícil
reerguer-me, porém todos têm dificuldades na vida, então levantei a cabeça e
segui a diante”, conta emocionado.
Vida nova
Apesar da perda de sua querida
esposa, tudo estava correndo bem, até que um grande incêndio surgiu sem nenhuma
explicação em 2006. “Perdi minha casa e tudo o que lá havia; fiquei
preocupado, pois não tinha onde abrigar minha família. Por sorte recebi uma
‘mãozinha’ do governo da época, João Alberto Capiberibe, que forneceu residências para as
pessoas afetadas pelas chamas e já não tinham mais um teto onde morar. Fomos
alocados no recém-loteado Pantanal na Zona Norte de Macapá”.
De
casa nova, continuou a viver seu cotidiano normalmente, até sua velhice e
iniciou uma nova vida com sua atual companheira, Valdeiza Ramos Brito que vem sendo seu braço direito e
alegria de sua velhice.
Fim de carreira
“Fiz
tudo o que tinha de fazer, me sinto realizado. Sou grato ao ex-senador Papaléo
que não se esqueceu de mim e me ajudou com a aposentadoria por tempo de
trabalho quando eu tinha 73 anos de idade.”
“Hoje,
aos 91 anos, tenho casa própria, tenho o que comer e estou muito contente ao
lado de minha esposa. Infelizmente surgiram alguns problemas na minha audição e
visão, dois dos sentidos que eu mais me orgulhava. Mas já estou com cirurgia
marcada para o mês que vem; se Deus quiser, vai dar tudo certo.”
Visão política
“É
fácil comentar à respeito da política da atualidade. Posso resumir em uma só
palavra: malandragem. Todos querem um pedaço da ‘carne’ e esquecem de quem os
colocou lá dentro. Não 100%, mas a grande maioria está no poder apenas pra
concretizar suas próprias ambições. Contudo, não podemos deixar de ter fé que
um dia tudo vai melhorar, vamos ser positivos”. E com essas palavras, David
Cordeiro Santana finaliza seu papel na redação semanal do pioneirismo
amapaense.
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