quinta-feira, 31 de julho de 2014

PIONEIRISMO



PIONEIRISMO


“Nunca tive pressa pra crescer, ou algum tipo de ambição material; minha meta sempre foi ter onde morar, ter o que comer diariamente e ser feliz.” - David Cordeiro Santana - Pescador.



 Netto Trajano


Para muitos ribeirinhos, é do roçado que vem o que comer. Como as várzeas – terras periodicamente inundadas pelos rios – são muito férteis, é comum que a roça ganhe maiores dimensões e o que seria para subsistência vira também fonte de renda. Para os pescadores é dos igarapés, rios e lagos que tiram o pescado para alimentação da família e ganharem um trocado.
Esta semana a editoria do pioneirismo foi buscar no seio do Bairro Perpetuo Socorro, um pioneiro pescador e ribeirinho, nascido entre a água doce do Rio Araguari e a salgada do Oceano Atlântico, no Arquipélago do Bailique. Ele é David Cordeiro Santana, nascido no dia 29 de Dezembro de 1923, filho de Raimundo Santana Barbosa e Maria Rodrigues Santana. Natural do Bailique, distrito de Macapá-AP, criado como pescador, que é uma a profissão passada de pai para filhos.
Cresceu na humildade e alegria com seus três irmãos, aprendendo os costumes ribeirinhos, legado de sua família. Então migraram para Macapá na década de 40, enquanto o Amapá ainda era Território Federal. “Cheguei aqui quando isso tudo ainda era um matagal e no local onde moro até hoje só havia um igarapé que era por onde tínhamos acesso às casas.”
 “Trabalhei com muita garra no ramo da pesca juntamente com meus pais e irmãos, todos os dias desde que chegamos aqui. Quando jovem, tinha forças pra dar e vender.  Aproveitei o que Deus me forneceu e interagi na sociedade como ajudante de pedreiro. Após algum tempo, fui em busca de algo melhor; comecei a trabalhar como vigilante na prefeitura de Macapá, gostei muito da experiência”, relata o pioneiro.
Família
No decorrer dos anos, casou-se com Lucila Andrade Santana e teve seis filhos. Sua vida estava progredindo aos poucos e a David era um cara simplista e humilde. “Nunca tive pressa pra crescer, ou algum tipo de ambição material; minha meta sempre foi ter onde morar, ter o que comer diariamente e ser feliz”, diz David com um sorriso estampado no rosto.
Sempre rígido e pontual, o pioneiro David dava valor em seu primeiro emprego de carteira assinada. “Após muitos anos, entrei de cara na política e dei apoio ao Papaléo que estava iniciando nessa área.”
“Infelizmente, nada e nem ninguém dura para sempre. Fiquei arrasado com a morte de minha esposa, que veio a falecer por Enfisema Pulmonar, devido ao cigarro, em novembro de 1988. Foi difícil reerguer-me, porém todos têm dificuldades na vida, então levantei a cabeça e segui a diante”, conta emocionado.
Vida nova
Apesar da perda de sua querida esposa, tudo estava correndo bem, até que um grande incêndio surgiu sem nenhuma explicação em 2006. “Perdi minha casa e tudo o que lá havia; fiquei preocupado, pois não tinha onde abrigar minha família. Por sorte recebi uma ‘mãozinha’ do governo da época, João Alberto Capiberibe, que forneceu residências para as pessoas afetadas pelas chamas e já não tinham mais um teto onde morar. Fomos alocados no recém-loteado Pantanal na Zona Norte de Macapá”.
De casa nova, continuou a viver seu cotidiano normalmente, até sua velhice e iniciou uma nova vida com sua atual companheira, Valdeiza Ramos Brito que vem sendo seu braço direito e alegria de sua velhice.
Fim de carreira
“Fiz tudo o que tinha de fazer, me sinto realizado. Sou grato ao ex-senador Papaléo que não se esqueceu de mim e me ajudou com a aposentadoria por tempo de trabalho quando eu tinha 73 anos de idade.”
“Hoje, aos 91 anos, tenho casa própria, tenho o que comer e estou muito contente ao lado de minha esposa. Infelizmente surgiram alguns problemas na minha audição e visão, dois dos sentidos que eu mais me orgulhava. Mas já estou com cirurgia marcada para o mês que vem; se Deus quiser, vai dar tudo certo.”
Visão política
“É fácil comentar à respeito da política da atualidade. Posso resumir em uma só palavra: malandragem. Todos querem um pedaço da ‘carne’ e esquecem de quem os colocou lá dentro. Não 100%, mas a grande maioria está no poder apenas pra concretizar suas próprias ambições. Contudo, não podemos deixar de ter fé que um dia tudo vai melhorar, vamos ser positivos”. E com essas palavras, David Cordeiro Santana finaliza seu papel na redação semanal do pioneirismo amapaense.

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