sexta-feira, 12 de setembro de 2014

ANTENADOS

BARBARA COSTA




Escolhelástica

O vestibular. Ele vem todo cheio daquelas questões de múltipla-escolha. E sempre me questionei por que a gente não pode marcar múltiplas respostas quando está em dúvida diante da pergunta. 
Por que é que existe "a" resposta certa, a única? Por que uma resposta mais certa que a outra, se ambas satisfazem a demanda agradavelmente? 
E se existe uma gradação entre respostas mais certas e menos certas, sendo todas cabíveis, por que não nos dão pontuação mais generosa, quando não marcamos a resposta certa, mas a que estava quase lá? 
Não... Tem que ser 100% ou 0. Parece até que morreremos se a primeira tentativa não der certo. Escolhas... 
Quando chegou a minha vez de fazer vestibular, lá atrás, em 2012, eu pretendia cursar Jornalismo. Ao mesmo tempo, tinha o sonho de começar os estudos em outra cidade, sair do Amapá por um tempo, amadurecer longe dos meus pueris confortos. 
Aconteceu que, quando foi chegada a hora de ver o resultado, fui aprovada em Jornalismo em casa, mas, em Fortaleza, para onde eu pretendia me mudar, só passei na segunda opção, que era Letras, por conta da concorrência muito mais pesada...
E me vi diante da necessidade da escolha pós-escolha: o curso que eu primeiramente optara, mas na cidade de sempre, ou a segunda opção, na nova cidade?  Optei pelo desconhecido. Aceitei a segunda opção, que marquei no gabarito não sem antes titubear: Letras no Ceará.
O primeiro semestre da faculdade foi um pesadelo. Não pelo curso, mas pelo sistema, a máquina, a burocracia, a dinâmica antipática. Era um universo novo, a universidade. Tudo parecia impenetrável, distante e implacável. 
Eu não me arrependia da escolha, mas tinha medo, e sofria um pouco, porque crescer dói. Entretanto, parece que a gente cresce, e supera... 
Não é facilmente que as escolhas se assentam, sejam quais forem. Entretanto, quando olho para trás, sei que a minha foi a certa. Depois surgiu a oportunidade de mudar de curso, aqui mesmo, na Universidade do Ceará, fazer Jornalismo. Não quis. 
Muito embora Letras não tenha sido a primeira opção, ela na verdade se tornou a única, a certa, a verdade. Porque descobri que só mesmo fazendo Letras eu poderia encontrar aquilo que de maneira alguma eu encontraria tão lindamente no Jornalismo: a Literatura.
E foi a Literatura o que sempre me interessou, desde o princípio, antes mesmo de eu saber o que era um vestibular ou o que eram múltiplas escolhas, quando pequena eu lia Mario Quintana e Ana Maria Machado, maravilhada. Tudo o que eu quis sempre foi arte, ficção.
É o que meu avô sempre diz: a gente escolhe as coisas conforme as oportunidades na vida vão se mostrando. Sem estresse, sem arrancar os cabelos. Se não der certo na primeira, paciência. As segundas estão aí para isso... Mas é tão bom quando a gente escolhe a perfeita segunda alternativa já na primeira tentativa! 
Compreendo hoje que aquela minha opção inicial pelo Jornalismo refletia muito os interesses alheios. Não me animava realmente, mas existiam as demandas do mundo... Conselhos que as pessoas cospem sobre carreira, salário, frustração profissional... "Letras não dá futuro!". 
Até hoje, muitos ainda me perguntam o que eu vou cursar depois que terminar a faculdade, como se as Letras em que estou agora não fossem a sério. Eu apenas sorrio. Muitos conselheiros, com sua fala angustiada e nervosa, ainda procuram o que nem sabem, tateando o ar... Os que sorriem já estão feitos. 
As pessoas querem exigir da gente que sejamos os próximos empreendedores da década, trilhando ousado caminho, dando jeitinhos, fazendo da palavra "proatividade" uma espécie de Bíblia. Ou então querem que façamos o já estabelecido como sucesso, o indiscutível: medicina, direito... 
Mas não quero empreender nada, quero compreender. Quero saber, sentir, ser feliz. E sou feliz com a minha opção, a segunda opção. E se não tivesse dado tão certo de primeira, eu tentaria de novo. 
A vida é essa prova de múltipla escolha que não permite mais de uma resposta ao mesmo tempo - mas você pode fazer o vestibular quantas vezes quiser, até acertar. E me alegro porque não há por aí pelo mundo mais uma Jornalista frustrada, se perguntando agora o que poderia ter sido de sua vida, se o caminho fosse outro...

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