Redes sociais, tolerância e um mundo
melhor
ARLEY COSTA
Redes sociais são espaços fantásticos
para expressão e observação do comportamento humano. Muitos de nós expomo-nos
no mundo virtual como não o fazemos em nenhum outro espaço de nossas vidas.
Disponibilizamos fotos com familiares e amigos, relatamos sentimentos, onde
vamos, do que gostamos, de quem gostamos e outras coisas mais. Estamos, também,
cada dia mais propensos a expressar nossas opiniões. E essas não precisam ser
fundamentadas, escrevemos o que achamos e… pronto! No máximo uma palavra ou
frase que sirva como justificativa. E a frase nem precisa ser nossa. Podemos
pegar uma das milhares de frases de diversos autores disponíveis na rede, se
estiver associada a uma imagem melhor (porque só lemos os textos apensos às
imagens), lascamos abaixo de nossa afirmação e... está justificado! E que
venham os comentários, pois sem comentários não há razões para que nos
desnudemos de nossas salvaguardas e nos expressemos nas redes. Mas é nesse
momento que a coisa muitas vezes se complica!
Embora ocupemos determinados nichos e
guetos nas redes sociais, da mesma forma como ocorre em nossa vida física, o
que postamos fica perpetuado na esfera virtual. E as relações entre amigos,
amigos dos amigos, amigos dos amigos dos amigos e assim sucessivamente em um
entrelaçamento praticamente infindável de pontos de contato fazem com que
pessoas divergentes de nós possam ver o que escrevemos e posicionar-se com
relação àquela afirmação. Uma pessoa pode elogiar o autor ou o texto escrito e
ficamos embevecidos com a referência positiva, de forma que talvez respondamos
com outro comentário, seja de agradecimento ou de elogio recíproco,
felicitando-o por defender ideias e posicionamentos tão corretos e perfeitos.
Afinal, ele defende exatamente o mesmo que nós! E nós, quase sempre, julgamo-nos
perfeitos!
O problema é que, em razão da
intrincada teia de contatos sociais, a pessoa que visualiza nosso texto pode
ter concepções absolutamente distintas das nossas e posicionar-se
criticando-nos ou as nossas postagens. Em raras exceções, o debate e o diálogo
mantém-se em um nível de respeito e tolerância mútua. Mas, via de regra, os
comentários e posições divergentes são seguidos de desqualificação do outro e
de suas ideias. A rapidez dessa digressão rumo às afrontas e desacatos, muitas
vezes, beira à velocidade da luz. Nossa intolerância com o diferente emerge e
fica estampada no mundo virtual para quem quiser ver. E como não há mecanismos
de enfrentamento outro que não o da própria afronta, muitos chegam a ficar
satisfeitos por terem feito o outro calar-se com as agressões. Afinal,
indiferente às ofensas exaradas, enxergam-se como responsáveis por ter
proferido a última palavra. Mesmo que a última palavra seja um sonoro e nada
construtivo palavrão.
Alguns teóricos separam claramente os
termos notícia e informação, cuja diferença pode ser resumidamente
sistematizada na seguinte sentença: notícia é o que chama a atenção e
informação o que leva à compreensão, ao conhecimento. A comunicação social em
rede que ora vivenciamos é marcada pela efemeridade do conteúdo e pouco
aprofundamento, seguindo a lógica “fast-food”. A pessoa posta um selfie, lê uma
nota sobre um assalto no centro, rola a página para baixo, curte a foto de seus
amigos, rola novamente, passa os olhos sobre um assassinato na periferia e
solta um comentário sobre segurança pública. Óbvio que todos têm direito aos
seus comentários, mas debates lastreados em muita notícia e pouca informação,
como estamos nos acostumando a fazer cada dia mais, são o estopim de muitos
embates e insultos desnecessários.
Os debates na rede com a leitura apenas da manchete da postagem sem acessar a completude do texto acabam por gerar a falsa sensação de informação pelo excesso de notícia. Quando apegamo-nos as nossas ideias sem permitir que sejam confrontadas com aquelas que dela divergem, rompemos com qualquer chance de realizar a dialética rumo ao conhecimento. Em tempo de eleições, onde interesses e posicionamentos ficam mais aflorados, os embates ocorrem com recorrência ainda maior. Defendamos nossas ideias e nossos candidatos, mas cabe a nós fazer um exercício em busca de mais tolerância, informação e conhecimento. Tal esforço, dentro e fora do período eleitoral pode ser significativo em produzir um mundo melhor, seja virtual ou real.
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