sexta-feira, 12 de setembro de 2014

ENTRELINHAS



 
Redes sociais, tolerância e um mundo melhor

 ARLEY COSTA



Redes sociais são espaços fantásticos para expressão e observação do comportamento humano. Muitos de nós expomo-nos no mundo virtual como não o fazemos em nenhum outro espaço de nossas vidas. Disponibilizamos fotos com familiares e amigos, relatamos sentimentos, onde vamos, do que gostamos, de quem gostamos e outras coisas mais. Estamos, também, cada dia mais propensos a expressar nossas opiniões. E essas não precisam ser fundamentadas, escrevemos o que achamos e… pronto! No máximo uma palavra ou frase que sirva como justificativa. E a frase nem precisa ser nossa. Podemos pegar uma das milhares de frases de diversos autores disponíveis na rede, se estiver associada a uma imagem melhor (porque só lemos os textos apensos às imagens), lascamos abaixo de nossa afirmação e... está justificado! E que venham os comentários, pois sem comentários não há razões para que nos desnudemos de nossas salvaguardas e nos expressemos nas redes. Mas é nesse momento que a coisa muitas vezes se complica!

Embora ocupemos determinados nichos e guetos nas redes sociais, da mesma forma como ocorre em nossa vida física, o que postamos fica perpetuado na esfera virtual. E as relações entre amigos, amigos dos amigos, amigos dos amigos dos amigos e assim sucessivamente em um entrelaçamento praticamente infindável de pontos de contato fazem com que pessoas divergentes de nós possam ver o que escrevemos e posicionar-se com relação àquela afirmação. Uma pessoa pode elogiar o autor ou o texto escrito e ficamos embevecidos com a referência positiva, de forma que talvez respondamos com outro comentário, seja de agradecimento ou de elogio recíproco, felicitando-o por defender ideias e posicionamentos tão corretos e perfeitos. Afinal, ele defende exatamente o mesmo que nós! E nós, quase sempre, julgamo-nos perfeitos!

O problema é que, em razão da intrincada teia de contatos sociais, a pessoa que visualiza nosso texto pode ter concepções absolutamente distintas das nossas e posicionar-se criticando-nos ou as nossas postagens. Em raras exceções, o debate e o diálogo mantém-se em um nível de respeito e tolerância mútua. Mas, via de regra, os comentários e posições divergentes são seguidos de desqualificação do outro e de suas ideias. A rapidez dessa digressão rumo às afrontas e desacatos, muitas vezes, beira à velocidade da luz. Nossa intolerância com o diferente emerge e fica estampada no mundo virtual para quem quiser ver. E como não há mecanismos de enfrentamento outro que não o da própria afronta, muitos chegam a ficar satisfeitos por terem feito o outro calar-se com as agressões. Afinal, indiferente às ofensas exaradas, enxergam-se como responsáveis por ter proferido a última palavra. Mesmo que a última palavra seja um sonoro e nada construtivo palavrão.

Alguns teóricos separam claramente os termos notícia e informação, cuja diferença pode ser resumidamente sistematizada na seguinte sentença: notícia é o que chama a atenção e informação o que leva à compreensão, ao conhecimento. A comunicação social em rede que ora vivenciamos é marcada pela efemeridade do conteúdo e pouco aprofundamento, seguindo a lógica “fast-food”. A pessoa posta um selfie, lê uma nota sobre um assalto no centro, rola a página para baixo, curte a foto de seus amigos, rola novamente, passa os olhos sobre um assassinato na periferia e solta um comentário sobre segurança pública. Óbvio que todos têm direito aos seus comentários, mas debates lastreados em muita notícia e pouca informação, como estamos nos acostumando a fazer cada dia mais, são o estopim de muitos embates e insultos desnecessários.

Os debates na rede com a leitura apenas da manchete da postagem sem acessar a completude do texto acabam por gerar a falsa sensação de informação pelo excesso de notícia. Quando apegamo-nos as nossas ideias sem permitir que sejam confrontadas com aquelas que dela divergem, rompemos com qualquer chance de realizar a dialética rumo ao conhecimento. Em tempo de eleições, onde interesses e posicionamentos ficam mais aflorados, os embates ocorrem com recorrência ainda maior. Defendamos nossas ideias e nossos candidatos, mas cabe a nós fazer um exercício em busca de mais tolerância, informação e conhecimento. Tal esforço, dentro e fora do período eleitoral pode ser significativo em produzir um mundo melhor, seja virtual ou real.

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