Pesquisas eleitorais ganham eleições?
Nada é mais assustador para o candidato que busca um mandato
eletivo, ou para aquele político que é detentor de cargo e que deseja se manter
no poder, quando se confronta com os resultados das pesquisas eleitorais.
Considerando a margem de erro e as ressalvas costumeiras, parece que tudo
continua como antes. Mas não é bem assim. Devagar com o andor.
Se
as pesquisas fossem irrelevantes para auxiliar – ou influenciar – a decisão do
eleitor, faria muito pouco sentido divulgá-las. Se esses números não atraem a
atenção de grande parte do eleitorado, por que eles estampam manchetes de
jornais e ganham destaque na imprensa e nas redes sociais?
As
pesquisas eleitorais erram pouco e são instrumentos importantes de balizamento
de candidatos e eleitores, nada havendo que prove sua influência na decisão do
voto e que justifique proibir sua divulgação, mesmo às vésperas de eleições.
Pelo contrário, elas são um instrumento importante para orientar o eleitor, na
medida em que, explicitamente, refletem a opinião e a imagem que a sociedade
tem sobre os candidatos, bem como a aceitação de seus planos de governo ou o
julgamento de seus defeitos e suas virtudes.
É
fundamental, porém, deixar bastante claro que a pesquisa é uma espécie de urna
fotográfica, uma radiografia do momento, e revela tendências, não resultados. O
quadro político é dinâmico, e as preferências do eleitorado podem sofrer
alterações radicais ao longo do tempo.
“Se eu quero comprar peixe, eu vou à
peixaria; se eu quero comprar pesquisa, eu vou ao Ibope”. A frase é de
autoria do senador Roberto Requião, do estado do Paraná, que, em 2002, quando
as sondagens o colocavam fora do segundo turno, e foi citada por ele em três
ocasiões. Hoje, quando se fala em pesquisa no meio político, difícil é não
lembrar do tal instituto, e todos esperam ansiosamente a liberação da pesquisa.
Estes
institutos não fazem pesquisa somente em época de eleições. Ao contrário do que
muitos pensam, eles passam o tempo todo fazendo pesquisas por amostragem para
grandes empresas. Se esse método não desse certo, ninguém gastaria dinheiro com
elas. A diferença é que no período eleitoral as pessoas ficam sabendo das
pesquisas, já que a divulgação de seus resultados interessa a grande parte da
população. É justamente nessa época que as empresas que fazem pesquisa não
podem cometer falhas, pois haverá uma confrontação dos resultados encontrados
com os números divulgados após a apuração dos votos.
O
Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais estão sempre
atentos às pesquisas realizadas por esses institutos e a divulgação só é
permitida após observarem a metodologia da pesquisa, já que trata-se de uma
pesquisa amostral, sendo preciso analisar os números com muito critério e
cuidado.
Há
muitas pessoas que se utilizam das pesquisas eleitorais para escolher os
candidatos que estão na frente. Não querem perder o voto em candidaturas sem
chance de vitória. Isto distorce a qualidade das eleições. Muitas vezes estes
eleitores até reconhecem melhores qualidades em outros postulantes aos cargos
públicos em disputa, mas acabam optando por nomes já tradicionais e que,
conforme apontam as pesquisas, devem vencer as eleições. É o chamado voto útil.
Isto torna a eleição desigual, já que a virtude é deixada de lado, e o poder
econômico dos candidatos diante da necessidade dos eleitores continua fazendo a
diferença.
As
pesquisas deveriam ser percebidas apenas como um indicativo de tendências, um
termômetro que mostra a temperatura eleitoral, demonstrando as preferências
dominantes num certo contexto (tempo/espaço). A princípio, é esta a intenção
dos institutos e órgãos noticiosos responsáveis por estes levantamentos. Mas a
forma como se divulgam as pesquisas, apregoadas pelos quatro cantos e por
diferentes mídias, a anunciar vitórias e derrotas antes mesmo da realização do
voto, mais do que orientar, acabam sugestionando a ação de muitos eleitores,
especialmente daqueles considerados massa de manobra, menos esclarecidos ou sem
informação.
Temos
que por a mão na consciência! O voto deve ser livre, sempre isento de qualquer
influência. Sua vontade e responsabilidade devem prevalecer. Queremos bons
candidatos, mas também devemos ser bons eleitores. Acompanhe os debates, a
propaganda eleitoral, avalie as promessas de quem quer se eleger e a trajetória
política daqueles que tentam a reeleição, pensando sempre no bem-estar da
maioria.
O
eleitor deve lembrar que o dinheiro utilizado pelos políticos é do povo e
qualquer benefício recebido representa, tão somente, uma forma de administrar o
dinheiro público. O dinheiro não é deles! Não se deixe levar por vantagens
pessoais, que sempre representam, na verdade, benefícios maiores para quem lhe
ofereceu tais ganhos. O voto é um exercício de cidadania que deve ser praticado
com sabedoria. Portanto, é preciso compreender a responsabilidade e o
compromisso que você, como cidadão, tem pela frente. As eleições definem os
rumos das nossas vidas pelos próximos quatro anos, e o tempo não volta jamais.
Adrimauro Gemaque (adrimaurosg@gmail)

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