sexta-feira, 5 de setembro de 2014

ENTRELINHAS



O PT e a Medusa

ARLEY COSTA



Nesta eleição, a estratégia de PT e PSDB era apontar a política brasileira como uma polarização entre eles e considerar os demais partidos como nanicos insignificantes cujo único papel é fornecer tempo a um lado ou outro como coadjuvantes do processo eleitoral. Assim, os partidários de ambos, entravam nas redes sociais resumindo toda e qualquer tópico ao seguinte questionamento: quem foi melhor o PT ou o PSDB? E a pergunta se faz pertinente, uma vez que ambos defendem a mesma política, com pequenas variações no modus operandi. Tanto é assim que Dilma se agarra em mostrar que seu governo é a continuação de Lula e que fizeram mais e melhor que o PSDB, enquanto Aécio se arvora em defender que Lula deu sequência às conquistas de FHC, mas que Dilma estragou o processo. Ou seja, ambos dizem: Somos iguais, mas nós somos gerentes melhores, mais eficientes e competentes do que ele são. Votem em nós e não neles!
Com a morte de Eduardo Campos, o cenário muda e Marina entra no processo eleitoral como um furacão. Reposicionado em terceiro lugar e perdendo para a atual presidente em um eventual segundo turno, Aécio provavelmente seguirá atacando Dilma e o PT, pois de nada adianta bater em Marina, entrar no 2° turno muitos votos abaixo de Dilma e ser massacrado. Então, o tucano tentará crescer enquanto as duas atacam-se e desgastam-se mutuamente na disputa pelo Palácio do Planalto. A única exceção para essa linha de atuação virá se o PSDB decidir permanecer no 2° turno a qualquer custo. Nesse caso, atacará Marina e jogará todas as fichas em uma conquista da presidência a partir de uma rivalidade direta com Dilma e da igualdade do tempo de exposição de campanha midiática do 2º turno. Por outro lado, Marina, estando em segundo, vai apresentar-se como uma alternativa à polarização PT e PSDB, atacando o governo Dilma e valorizando as ações de Lula.
Ainda que se mantenha em primeiro, o PT, assim como o PSDB, vê implodida a estratégia traçada inicialmente. Sob a nova configuração dos percentuais de intenção de voto, com Marina suplantando Aécio, aproximando-se de Dilma perigosamente no 1º turno e com percentuais para vencê-la no embate direto do 2º turno, torna-se inócua a comparação entre PT e PSDB, dado o pragmatismo eleitoral. O risco de ver destruído seu projeto de perpetuação no poder faz com que o PT veja em Aécio e seu partido um perigo menor que Marina e o PSB/REDE e redirecione sua artilharia para a autodenominada terceira via.
Ao debruçar-se sobre o novo cenário eleitoral, o PT percebe que encara um espelho, pois enxerga o que ocorreu em 2002, mas com os papéis invertidos. Ele, o PT, agora é situação e precisa enfrentar um partido menor, com discurso à esquerda e apresentando-se como baluarte da moral e alternativa real de mudança.  Em 2002 o partido menor ganhou e mexeu no tabuleiro dos grandes partidos.  Encastelou-se no poder, onde está há 12 anos, e expandiu seus tentáculos em todas as direções possíveis, assim como o fizeram os outros partidos antes dele. Ao olhar-se no espelho, e ver no reflexo a imagem do PSDB de 2002, a pergunta que sobressalta os partidários da estrela é: E em 2014, como será?
Na tentativa de não deixar repetir o que ocorreu em 2002 com a eleição de um partido menor, a ação do PT nas redes já é outra.  Criticam Marina, apontam-lhe os defeitos e contradições na tentativa de desgastá-la e aumentar sua rejeição. Marina terá pouco tempo no período eleitoral para dizer a que veio. Dilma, por sua vez, terá muito tempo de propaganda para mostrar o que fez em seu governo e destruir a imagem de Marina. Mesmo que isso não seja feito no programa eleitoral, tal ação já está em curso nas redes sociais. Independente do que venha a ocorrer e de quem ganhe a eleição, a entrada de Marina na forma como aconteceu já teve pelo menos um mérito: mostrar que a política brasileira não se resume a apenas dois partidos como querem fazer crer PT e PSDB.  Que o diga a participação de Eduardo Jorge do PV no debate da Band que, com suas propostas conseguiu chamar a atenção sobre si. Pena que estiveram ausentes partidos que podem apresentar propostas divergentes daquelas que tivemos nas últimas décadas, como PCB (Mauro Iasi) e PSTU (Zé Maria).
A bela e encantadora Medusa, após deitar-se com Poseidon, foi transformada em um monstro de pele esverdeada, olhos saltados da órbita e cabelos de serpentes capaz de atemorizar e petrificar qualquer um que a visse. O PT na busca por chegar ao poder, mas principalmente após deitar-se com ele, abandonou seus princípios e transformou-se na antítese do que sempre defendera, o PSDB, atemorizando e deixando sem ação muitos daqueles que sempre lutaram ao seu lado. Com a mudança na configuração eleitoral causada pelo súbito aparecimento da candidatura de Marina, pela primeira vez, o PT é obrigado a olhar no espelho, reconhecer que não é a antítese do PSDB, e ver no que se transformou. E agora, conseguirá o PT enfrentar seu próprio reflexo ou quedará petrificado como ocorria com quem vislumbrasse Medusa?

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