Arley Costa
Eleições
como nunca se viu!
Os
candidatos são todos iguais, são todos “farinha do mesmo saco”! Essa sensação
se instaura a cada eleição e ficamos com a impressão de que não adianta
escolher, pois é apenas trocar seis por meia dúzia. Isso acontece pelo fato dos
candidatos não apenas parecerem iguais, mas serem iguais. É possível realmente
alegar que os candidatos são todos iguais? Claro que é! Quem conhece
minimamente os bastidores do processo eleitoral sabe que as equipes de
marketing dos candidatos, que dá apoio à coordenação de campanha, começam o
processo eleitoral avaliando o interesse preponderante na população, ou seja,
buscam conhecer o cidadão médio ou o eleitor médio, se você assim preferir. As
ações da campanha, e do político após eleito, são todas pensadas para angariar
o voto e a simpatia dessa maioria representada pela figura imagética do cidadão
médio. Assim, na busca por agradar a esse eleitor ideal, os políticos ficam
todos iguais, dizem e fazem as mesmas coisas, não se distinguem. Todos são
católicos, heterossexuais, defensores da moral e dos bons costumes (embora isso
possa significar tantas coisas diferentes e muitas vezes contraditórias!),
contrários ao aborto, racismo, relações homoafetivas, machismo e favoráveis às
melhorias em educação, saúde, segurança e transporte.
Os
candidatos muitas vezes escondem a forma como pensam o mundo ou como se
comportam. Alguns escondem sua vertente religiosa ou sexual enquanto outros
negam ser favoráveis ao aborto ou a liberação do uso de drogas na tentativa de
não desagradar ao eleitorado. Outros fazem alegações de que pretendem lutar por
mais direitos sociais, mas se recusam a informar como farão para que essas
melhorias aconteçam. E escusam-se de explicitar os mecanismos necessários, pois
discutir isso, significa começar a falar algo que de repente pode não ser
acatado pelo cidadão médio. Se afirmar que tais ações serão efetivadas com
recursos oriundos da taxação das grandes fortunas, perde apoio entre os
financiadores da campanha, se disser que aumentará os impostos de forma genérica,
perde o cidadão médio que está a reclamar da alta carga de impostos. Então,
entre a cruz e a espada, todos os candidatos escondem-se na abordagem genérica
e falam sem dizer nada, sem se comprometer, sem correr o risco de desagradar o
cidadão médio.
E
é exatamente por fugir um pouco desse padrão que as eleições presidenciais de
2014 estão ficando, embora muitos não acreditem ou percebam,
interessantíssimas! Pela primeira vez os debates distanciaram-se da indigesta
monotonia de eleições anteriores e começaram a tratar de temas e verdades que
sempre passaram ao largo do processo eleitoral. Entre os assuntos que visitam a
boca dos candidatos nessa eleição estão racismo, relações homoafetivas, drogas,
maioridade penal, pena de morte, financiamento privado de campanha e aborto.
Alguns dos candidatos sentem-se muito mais confortáveis com os novos assuntos
do que outros. Via de regra, os candidatos da esquerda com amplo histórico de
luta por direitos sociais são aqueles mais aptos a transitarem com tranquilidade
e lastro sobre tão relevantes questões.
É
bom enfatizar que os novos temas não surgiram do nada como um passe de mágica,
mas ao contrário, são fruto direto dos contextos peculiares que têm se
apresentado recentemente. Grande parte dessas questões foram pautadas nas
manifestações de junho de 2013 junto com reivindicações por direitos sociais
básicos como transporte, saúde, educação e segurança. Portanto, a efervescência
que tomou conta do país, em razão das pessoas estarem indignadas por não terem
seus direitos atendidos, reverberou na campanha eleitoral para a presidência
deste ano. As discussões atuais e quaisquer impactos derivados são frutos dos
movimentos de rua que sempre ocorreram graças aos sindicatos, partidos de
esquerda e movimentos sociais, mas que se avolumaram em 2013 pautando a
necessidade de mudança. Portanto, mesmo com suas contradições e deficiências:
Viva as manifestações de junho de 2013!
Há
conflitos se estabelecendo e isso é bom! Mas por quê o conflito é bom? Por que
significa que vivemos um momento em que mudanças podem ocorrer. E isso é
importantíssimo. As minorias sempre estiveram relegadas ao segundo plano, mas
agora estão emergindo, expressando seus desejos, reivindicando direitos e isso
traz consternação em quem sempre esteve de posse das benesses. Quando direitos
e certezas são sacudidos, é preciso o enfrentamento, é preciso que venha o
debate e, a partir desse momento, a relação dialética estabelecida pode revelar
as contradições, gerar o embate e fazer surgir o novo.
É claro que esse processo de contraponto entre
posições distintas não se esgotará nessa eleição nem será rápido, ele haverá de
se estender por algum período. Confrontos hão de ocorrer com maior frequência,
atritos e discussões (nem sempre polidas e educadas) acontecerão, mas, por fim,
uma nova conformação há de emergir. Mesmo que as posições sejam as mesmas, elas
estarão assentadas em outras bases, mais elaboradas e conhecedoras de suas
contradições. É, portanto, possível afirmar que graça aos atuais embates
um novo Brasil está por vir. Que venha e que seja melhor, muito melhor, mais
democrático, mais plural, mais diverso, mais tolerante, mais inclusivo, mais
respeitoso, mais, mais, mais… É isso, que o Brasil seja mais!
Arley J.
S. da Costa
Professor
de Psicologia
UFF -
Universidade Federal Fluminense
PUVR -
Pólo Universitário de Volta Redonda
(21) 980256523
Nenhum comentário:
Postar um comentário