sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Escombros



Escombros
Perda histórica da memória arquitetônica de Macapá


 










“Esse é o único jeito que o governo sabe tombar nosso patrimônio, colocando ele abaixo! Inacreditável!!!” - manifestações nas Redes Sociais.



Reinaldo Coelho

Infelizmente o Estado do Amapá, mais precisamente sua capital, Macapá, está perdendo seu patrimônio material e imaterial lentamente, pois o progresso e destruição há muito caminham juntos na consciência dos gestores amapaenses, que se preocupam com o imediatismo. Neste primeiro semestre assistimos com tristeza mais ações de derrubadas do pouco que resta do nosso patrimônio material. 

A primeira foi a demolição do prédio da Pioneira Assembleia de Deus, que além de sua arquitetura, contava a história da implantação e da luta dos evangélicos para se estabeleceram em Macapá e as lembranças da  histórica desavença entre os católicos comandados vigário da cidade, então padre Júlio Maria de Lombaerde, a queimar os livros em praça pública, com a ajuda da polícia e convocação da população. Mas Clímaco não desanimou e persistiu.  e evangélicos liderados pelo pastor Clímaco Bueno Aza, chegou em 26 de junho de 1916, com malas cheias de bíblias, folhetos e evangelhos. Hoje se tornou um estacionamento.
O segundo foi da sede do Grêmio Literário Rui Barbosa, localizada na Rua Odilardo Silva esquina com a Avenida Ernestino Borges, que foi construída pelos próprios estudantes do Colégio Amapaense, que fizeram a famosa “campanha do tijolo” para arrecadar material de construção.
Em 1964, o Grêmio foi fechado pela ditadura. Nos anos 70 o prédio abrigou um campus avançado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Depois que UFRRJ não teve mais interesse em ficar no Amapá o prédio ficou abandonado e foi deteriorando.
O que restou dele, semana passada,  foi demolido pelo governo do Estado que vai construir ali um alojamento para estudantes vindos do interior. Poderia ao menos manter a fachada. Isso é preservar as características históricas 

Congestionamento de praças


Outra demolição recente foi a do antigo prédio que ficava ao lado da OAB, e que foi sede da Central de Merenda Escolar (CEME), para a construção de uma praça no local e que dava fundos para a Central do Abastecimento do Território, na Rua Candido Mendes.
Mas uma praça onde em um quilometro quadrados temos: Praça do Barão do Rio Branco, com dois logradouros; Praça Veiga Cabral; Alameda Serrano, onde existi prédios da época colonial;  Alameda Serrano; Praça do Coco e Orla da Cidade é muita praça para um local já congestionado de alamedas.
E as casas da CEA e  a do Conjunto Banco do Brasil, no Laguinho, estão sendo descaracterizadas através de reformas.
Essas ações foram feitas sem  consulta popular e por decisão das autoridades municipais e estaduais pois não temos um órgão local que catalogue e registre os nossos bens históricos. Um Museu da Imagem e do Som seria um meio de preservação das memorias locais.


Lentamente vai sumindo 





A parte antiga da cidade de Macapá, ao longo dos anos vem sendo descaracterizada, vem perdendo seu traçado colonial. Isso ocorreu por conta do processo de “modernização” que a cidade passou após a instalação do Território Federal do Amapá, este processo consistia na abertura de novas vias largas e construção de edifícios modernos em detrimento das antigas casas e casarões do antigo centro histórico de Macapá, inteiramente destruído pela falta de leis e de órgãos de proteção do patrimônio histórico na época.
Hoje continua o mesmo processo, as residências construídas pelo primeiro governo territorial amapaense na Praça do Barão do Rio Branco estão totalmente descaracterizadas ou demolidas. Restando somente uma com arquitetura original. 
O prédio onde funcionava o primeiro Fórum de Macapá e que depois sediou a Escola Técnica do Amapá, foi demolido e construído a Biblioteca Publica Elcy Araujo.
O prédio da Radio Difusora de Macapá, a antiga sede da Prefeitura de Macapá, onde hoje funciona uma Escola de Jovens e Adultos, o Posto de Puericultura, hoje SEMAT, todos estão perdendo suas características originais.
As Vilas Residenciais da Avenida Mendonça Furtado estão quase todas descaracterizadas. No formigueiro, o pensionato está reformado, restam no local os pedaços da casa dos Tavares na esquina da Tiradentes com a Mendonça Furtado. O espaço que era da antiga Rádio Educadora e Gráfica São José tornou-se apenas um buraco na Leopoldo Machado.   

Falta de zelo com a história da cidade
O que se vê em outras cidades e países é a valorização da cultura do lugar, das praças, coretos, igrejas, monumentos e adornos, conjunto que define muitas vezes o enredo econômico deste lugar.
Para o urbanista José Tostes o turismo sobrevive disso, ele reforça que  as principais atrações de Paris, não são as obras atuais e inovadoras plasticamente, há muitas décadas a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, Museu do Louvre e casas que abrigam os cafés do século XIX, dá o caráter peculiar que faz de Paris à cidade mais atrativa do mundo.
 Porém em Macapá a identidade com lugar parece cada vez mais distanciada, nos últimos trinta anos, tudo mudou destaca. O trapiche Eliezer Levi foi modificado, o Igarapé das Mulheres não é mais das mulheres, o Mercado Central não exerce mais o papel de mercado, não existe mais o cine Macapá, cine João XXIII e até a Igreja de São José não é mais a mesma. Qual é a história que vamos contar no futuro? Se a história da nossa gente vai sendo demolida de forma impiedosa: sede do Amapá Clube, Macapá Esporte Clube, do Conservatório de Música virou parte da especulação imobiliária.
E daí, como ninguém estava prestando atenção ainda, resolveram derrubar o prédio da antiga Cruz Vermelha (que desengonçado!). Foram destruindo, vendendo, enriquecendo. E daí, um do grupo — talvez o mais espertinho, ou o mais ousado — viu que o prédio do Trem Desportivo Clube era útil para mais um empreendimento imobiliário, estava numa “área privilegiada,” e já que os sócios “não estavam utilizando,” e “nem sequer tinham renda comprovada,” e que afinal não podiam dizer nada. Salvou-se por pouco.
E o povo? Todo mundo calados! Do mesmo jeito que haviam feito no ano do governo Ivanhoe Gonçalves Martins que derrubou as casas na Rua São José esquina com a Avenida Presidente Vargas, foi-se a antiga Cadeia Pública, prédio histórico, surgiu as Lojas Pernambucanas.
Ou seja, os gestores assumem e mantem a destruição do patrimônio histórico da cidade, pois olham para o imediatismo e a historia é esquecida.


Olhar técnico 
O resultado dessa política de modernização é visto atualmente em Macapá onde a cidade apesar de ter 256 anos possui poucos vestígios de seu passado exceto pelas três únicas edificações sobreviventes a Fortaleza de São José de Macapá, a Igreja de São José e o Prédio da Intendência de Macapá, edificações estas que sobreviveram graças a suas atribuições militar, religiosa e administrativa respectivamente.
 Hoje Macapá uma capital com 446.757 habitantes e com uma região metropolitana com mais de meio milhão de habitantes tornou-se uma cidade moderna, mas sem memória daquela Macapá de outrora.
Essa situação foi analisada pelo urbanista José Alberto Tostes em um dos seus artigos:  Qual a relação destes relatos para a iconografia urbana da cidade de Macapá? 
A primeira percepção é a mudança de vínculos culturais e de identidade de cada um dos lugares em relação ao meio social; segundo aspecto é a perda de valores e a memória. De todos os relatos citados, o único que ainda cumpre a mesma função é o Estádio Glicério Marques, entretanto sem o mesmo elo com as gerações passadas. Há um fato interessante em nossa iconografia, a fragmentação, isso é algo para ser pensado. Os bons projetos são aqueles que legitimam e fortalecem os laços culturais e a identidade da população com a realidade do lugar.


O que resta 
INTENDENCIA
IGREJA DE SÃO JOSÉ


FORTALEZA DE SÃO JOSÉ
Infelizmente o poder público estadual e municipal ainda são os maiores destruidores do patrimônio amapaense. Quem deveria proteger é quem mais destrói.
A Igreja Matriz de São José de Macapá foi ameaçada de demolição e sua reconstrução seria onde hoje está o Teatro das Bacabeiras, mas escapou. Agora enfrenta outro risco, a indiferença, rachadura, infiltrações, erva daninha comprometem e estão por dentro e por fora da grande nave, cuja situação agravou-se com o inverno mais rigoroso dos últimos anos. A edificação mais antiga da nossa cidade é patrimônio da história e do povo amapaense. So nos resta a Fortaleza de São de Macapá, ser a guardiã do nosso patrimônio histórico material e imaterial. (Fontes de consulta: Blog do Tostes e verdadessurbanas.blogspot.com.br)




Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...