AOS PEDAÇOS
CIOSP DO CONGÓS
Adepol volta a denunciar sucateamento de delegacias. Delegado geral
prefere politizar o ato
DA EDITORIA
A reação do Governo do Amapá ao ato de 67 delegados da Polícia Civil em
denunciar a precariedade da instituição foi fazer pouco caso e partir para a
desqualificação. O delegado geral Tito Guimarães, que segundo se diz nos
corredores da segurança pública, não tem o reconhecimento da classe, tratou de
classificar o movimento como estratégia política. Disse também que o único
prejuízo será para os 20 delegados que ficarão sem os cargos que ocupavam.
Rapidamente o GEA calculou a economia que terá com as exonerações e
chegou à cifra de R$ 33 mil ao mês. Eles continuarão trabalhando normalmente,
de acordo com a Delegacia Geral de Polícia Civil. Apenas deixarão de ter certas
gratificações que chegavam a R$ 1,6 mil para cada profissional. Os outros 47
que formaram a comissão para o protocolo da entrega de cargos disseram que se
negarão a ocupar as vagas deixadas. O número representa 80% da categoria que se
diz insatisfeita com o tratamento recebido pela atual gestão estadual.
O ato ocorrido na manhã de terça-feira, 23, teve apoio da Associação dos
Delegados de Polícia Civil do Amapá. Para a Adepol, o ato foi a maneira
encontrada de denunciar mais uma vez o sucateamento da PC que pode ser visto
pela população nas condições precárias das delegacias. Em sua defesa, a
Delegacia Geral de Polícia disse ter R$ 90 milhões disponíveis para serem
usados em reformas e construção de novas delegacias e que ainda teria investido
R$ 5,2 milhões a partir de 2011 comprando equipamentos para a Polícia Civil. O
dinheiro seria do Estado e do Fundo Nacional de Reequipamento Policial. Em mais
uma alegação, Tito Guimarães disse que o movimento não passa de uma maneira de reivindicar
aumento salarial, que estaria sendo pleiteado há algum tempo, motivado pelo
reajuste dos procuradores estaduais, que estariam recebendo o valor do teto
constitucional e foram desvinculados da classe dos servidores da Justiça e da
Segurança Pública. A intenção dos delegados, segundo Tito, é chegar ao nível
dos procuradores.
Já para os delegados, o ato de entrega dos cargos foi mais uma forma de
mostrar para a sociedade e para o governo, que a Polícia Civil está desequipada
e desestruturada e que só ainda não parou, devido ao empenho dos profissionais.
As denúncias passam pela falta de material de expediente como papel e tinta nas
impressoras até gasolina e manutenção de viaturas. Em outras delegacias não
existe sequer cadeiras na recepção e até mesmo nos gabinetes.
No começo de agosto passado os plantões nos centros integrados dos
bairros Congós e Novo Horizonte, que funcionavam 24 horas tiveram que ser
suspensos por essa mesma falta de estrutura. Nessa mesma época, a Associação
dos Delegados de Polícia divulgou uma carta enumerando os problemas enfrentados
no dia a dia pelos profissionais. O documento caiu como uma bomba nas redes
sociais e começou a despertar a fúria da gestão, que já dava mostras de que
trataria as denúncias com descaso. Enquanto isso, a população que procurava os
Ciosps tinha que voltar para casa sem atendimento. Agentes que concordaram
falar dos problemas com a condição de não serem identificados informaram que as
duas estruturas não têm qualquer condição de funcionamento. Nos banheiros não
existem pias, os alojamentos estão em péssimo estado e chegam a ser perigosos
para a saúde por conta dos fungos nas paredes, além das mesas quebradas. “Não
existe como trabalhar dessa forma. É sub humano”, disseram.
Uma Ação Civil Pública com denúncias e cobrando soluções do Estado foi
protocolada e está em andamento, mas, considerando o tratamento recebido pelas
outras investidas da associação, dificilmente alguma coisa será feita. Por
enquanto, o Ciosp do bairro Pacoval, na zona Norte de Macapá, é o único que
ainda está em funcionamento e hoje trabalha em regime de sobrecarga atendendo
as ocorrências que antes eram feitas no Congós e Novo Horizonte. A estrutura
não é diferente da encontrada nos outros dois centros para atender a todos os
bairros da capital em uma demanda interminável de homicídios, latrocínios,
roubos, furtos e crimes mais brandos. Em resumo, tudo que acontece de
ocorrências policiais em Macapá é encaminhado para o Ciosp do Pacoval.
Para o delegado Sávio Pinto, presidente da Associação de Delegados de
Polícia, depois da desativação dos plantões no Congós e Novo Horizonte, o que
se percebeu foi um enorme problema surgir para piorar o que já estava além de
ruim. Na opinião da população que precisa todos os dias da delegacia que hoje é
a única ainda em condições de atendimento ainda que precário, a segurança vem
sendo tratada pela atual gestão como brincadeira. “Como pode deixar fechar dois
centros de segurança? Isso é um absurdo”, disseram pessoas na fila de
ocorrências.
A carta denúncia da Adepol assinada pelo delegado Sávio Pinto e
endereçada à sociedade do Amapá diz que “A Associação vem a público declarar
que é tão vergonhosa e indigna a atenção dispensada pelo governo do Amapá à
Polícia Judiciária, e por conseguinte a você, que diária e cotidianamente
precisa da Polícia Civil, de uma delegacia, que chegamos ao ponto de ter um
orçamento anual menor do que o que se gasta no Gabinete do Governador (R$ 5.963
milhões em 2013), para publicidade (R$ 28 milhões), segurança das escolas
públicas (R$ 63 milhões), fora outras atividades priorizadas como eventos
culturais diversos (R$ 6.641 milhões), festas juninas (Ligajap R$ 4.151 milhões
em 4 anos), Secom (R$ 15.480 milhões) enquanto que o da Polícia Civil é de R$
3.103 milhões (cinco vezes menor que o da Secom”. Os números deixam claro que
Segurança Pública no Amapá está bem abaixo do terceiro plano, revelando também
que as prioridades são outras.
dELEGACIA DE CRIMES CONTRA A MULHER |
O delegado denuncia ainda que as Delegacias de Crimes Contra a Mulher e
a Delegacia de Atos Infracionais não fogem à realidade das outras, apesar de terem
respaldo de pactos internacionais. As estruturas dos prédios chegam a
representar risco para a saúde de agentes, delegados e escrivães. Sávio Pinto
vai ainda mais longe e traz à tona um outro problema que implica no andamento
de inquéritos e investigações, a falta de combustível nas viaturas. Para os
carros saírem das delegacias, disse o delegado, muitas das vezes é preciso
fazer coleta entre os agentes e delegados para comprar gasolina ou óleo
díesel.
Delegado-geral de Polícia Civil do Amapá Tito |
Mas, para Tito Guimarães, nada do que está sendo denunciado pela Adepol
condiz com a realidade. Nas várias declarações que deu à imprensa, o delegado
geral falou que a atual gestão tem colocado em prática vários estudos e ações
de planejamento para a política de gestão de segurança pública, que tem o
objetivo de aproximar o cidadão, da polícia. A prova disso seriam as Unidades
de Policiamento Comunitário (UPC). Ele disse ainda que a Polícia Civil avançou
muito nessa gestão principalmente em equipamentos e estrutura. Na declaração
mais recente durante uma entrevista coletiva realizada na terça-feira, 23,
horas após a entrega da carta pedindo o desligamento dos delegados, Tito
disparou: “Ação da Adepol tem cunho político”. Disse também que a ação não muda
em nada a rotina dos delegados. As declarações carregadas de arrogância soaram
mal junto à categoria. O delegado geral acusou o presidente da Adepol, Sávio
Pinto de colocar em prática uma manobra obscura para fazer oposição ao governo.
Enquanto Tito Guimarães defende com unhas e dentes a gestão da qual faz
parte, o dia a dia da população se depara com a violência traduzida
principalmente em assaltos e homicídios duplicados ou triplicados aos fins de
semana. O detalhe, é que geralmente, tais fatos ocorriam quase que
exclusivamente nas periferias, agora, chegou aos bairros de classe média e
média alta sendo praticados à luz do dia.
Para reforçar a precariedade denunciada pelos delegados e sentida pela
população, estruturas que eram para atender, sequer saíram dos alicerces ou
paredes inacabadas. É o caso da Delegacia da Mulher, abandonada há 3 anos no
bairro Novo Horizonte, zona Norte da cidade. O atual governo, a exemplo de
tantas outras acusações, culpa a gestão passada, além de não resolver o
problema. Os moradores se ressentem de não ter a estrutura funcionando e já
enfrentam a paralisação dos plantões no Ciosp.
Diante do quadro, Macapá se apresenta hoje proporcionalmente como uma
das capitais mais violentas do País, segundo pesquisas de nível nacional, muito
embora os dados sejam ignorados pela atual gestão, que insiste em falar de
redução da violência. Os programas policiais diários apresentam dezenas de
casos que mostram o engessamento do sistema de segurança. Nas ruas, além dos
problemas da Polícia Civil, a Polícia Militar, que lida diretamente com as
ocorrências também tem experimentado o sucateamento e a falta de investimento.
Prova disso são as viaturas locadas que fazem as rondas e que por falta de
pagamento do aluguel, estão sendo recolhidas. O pergunta do cidadão é de onde
virá a providência.
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