É utopia pensar em aplicar o Planejamento Urbano?
Autor: José Alberto Tostes
Recebi inúmeros e-mails a
respeito das condições atuais da cidade de Macapá, entre tantas perguntas, havia
uma que indagava o seguinte: E utopia pensar em aplicar o planejamento urbano?
Respondi a todos, dizendo que a utopia sempre fez parte de projetos arrojados
de desenvolvimento em várias cidades do mundo ao longo da história. Sobre a
cidade de Macapá, é preciso avaliar mais criteriosamente as causas para tantos
problemas urbanos. Os problemas das cidades não estão somente relacionados à
falta de recursos, mas principalmente na maneira como as políticas de
desenvolvimento urbano com metas definidas foram substituídas por ações
paliativas e circunstanciais, isso tem sido grave, não é caso especifico de
Macapá, mas de todas as cidades amapaenses.
Há uma série de entraves e adversidades para
os gestores que assumem as prefeituras em todo país, servidores desmotivados,
vícios adquiridos ao longo dos anos, formas rudimentares no trato de diversos
problemas, reduzida qualificação técnica, ausência de modernização tecnológica,
inchaço do quadro de pessoal, grupos políticos internos divergentes. Macapá
padece de um problema básico, nos últimos 30 anos, abandonou-se a perspectiva
do planejamento urbano por uma estratégia de administrar o espaço urbano de
forma cotidiana. Anteriormente, havia a
crítica de que o planejamento era excessivamente tecnocrático, mas apresentava
proposições técnicas importantes.
Deixou-se
de lado a técnica por um pseudo “discurso social”, inicialmente analisado como
algo bom, abriria as possibilidades de maior participação dos diversos segmentos
da população, não obteve êxito, faltava qualificar a participação. Nesta época,
discutir interesses coletivos era visto como algo subversivo. Neste período, se
intensificou a formação de um bom número de instituições, associações e
organizações criadas para ocuparem um espaço deixado pela inércia do setor
técnico. Na década de 1990, trocou-se definitivamente a perspectiva de um
planejamento técnico por uma visão motivada muito pela pressão de social.
As
diversas administrações municipais deixaram de realizar de forma consistente o
que era feito anteriormente, controle e monitoramento das áreas urbanas,
evitando invasões, ocupações clandestinas, ocupações de espaços calçadas, especulação
imobiliária. As consequências foram o aparecimento de diversos bairros em
Macapá, até hoje, muitos não são regularizados. A estrutura do poder público
municipal cresceu em número de pessoal, sem ter modernizado tal estrutura. A
falta de modernização tecnológica e a inexistência do cadastro técnico
multifinalitário (banco de dados completo sobre a realidade de todos os problemas
existentes no município) resultaram no travamento da máquina pública municipal.
A
perda da qualidade de vida urbana foi inevitável, um dos fatores que tem
atingido a todos tem sido a situação da pavimentação urbana, apesar de muitos
problemas urbanos, a pavimentação é algo que corresponde a uma boa parcela da
área urbana, a deterioração do pavimento, implica em inúmeros outros entraves
que prejudicam a população e também a paisagem da cidade.
Não se pode colocar tudo na
conta e responsabilidade da administração municipal, mas, é inaceitável continuar
legitimando a lógica perversa do “fazejamento” urbano. A cidade de Macapá, é
uma capital estratégica, é a única banhada pelo Rio Amazonas, cortada pela
Linha do Equador, possui o fenômeno do Equinócio, tem um traçado urbano que
privilegia o conforto urbano, uma orla expressiva do Bairro do Perpetuo Socorro
ao Araxá, portanto, tem atrativos no âmbito da região amazônica. Creio que não
seja mais possível discutir os problemas urbanos de Macapá unicamente pelo viés
das questões cotidianas.
Os buracos são apenas os resultados de
políticas equivocadas historicamente, as causas estão nas fragilidades de como
a cidade foi tratada ao longo dos últimos anos, o que era para ser eminentemente
provisório, ficou definitivo. É correto é tapar buracos, mas também é preciso investir
em estruturas definitivas e duradouras que possam aos poucos ir se adequando a
realidade da cidade.
Para isso é vital investir em pavimentações
alternativas, drenagem urbana, calçadas, meio fio, arborização e sinalização. Macapá
apresenta um processo de desestruturação urbana muito grave, a pressão é enorme
sobre os gestores municipais na tentativa de ver equacionados múltiplos
problemas. É inegável que as várias mudanças constitucionais deram mais responsabilidades
aos prefeitos, com isso mais problemas para serem resolvidos. A União e o
Estado têm a obrigação constitucional de auxiliar as políticas de desenvolvimento
urbano para Macapá. Os prefeitos eleitos não podem alegar desconhecimento dos
problemas urbanos, para isso foram legitimados pelo voto popular, por
defenderem alternativas de mudanças.
É
urgente a necessidade de colocar em prática os instrumentos de planejamento
urbano, definir novas áreas para investimento de geração de emprego e renda,
cumprir com todo rigor a legislação, preservar áreas protegidas (ressacas), gerar
investimentos em pavimentações sustentáveis. Desenvolver projetos arrojados
para avançar no setor do turismo. E no quadro interno, modernizar com eficiência
tecnológica a chamada gestão eficaz com a implantação do Cadastro Técnico
Multifinalitário, ninguém governa sozinho e nem tem soluções mágicas.
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