sexta-feira, 31 de outubro de 2014

AGORA É TARDE


 AGORA É TARDE



Depois de reconhecer que governou isolado do povo, Camilo vê seu “reinado” desmoronar



José Marques Jardim
Da Redação

 Camilo  Capiberibe,  assumiu o governo do Amapá em 2010, se despede da forma mais decadente. Ele foi o único gestor que não conseguiu ser reeleito na esfera estadual, desde que a escolha do governador passou a ser pelo voto direto da população.


Camilo foi derrotado tendo a seu lado a máquina administrativa e todo seu poderio de fogo. Também teve o apoio natural de outra máquina, a do município, disponibilizada pelo prefeito Clécio Luís aliado de longa data. Na retaguarda teve os senadores Randolfe Rodrigues, sensação de votos em 2010, por conta da “operação Mãos Limpas” e o pai, João Capiberibe, que apesar da cassação por compra de votos, tenta posar de “pai da moralidade”. A mãe, Janete, que também carrega no currículo a cassação conseguiu se reeleger deputada federal, mas não mais com a estrondosa porcentagem de votação de antes. Ela perdeu o posto para Roberto Góes, do PDT.

Na disputa estadual, Camilo foi derrotado pelo pedetista Waldez Góes, que em 2006 liquidou João Capiberibe ainda no primeiro turno da disputa ao Setentrião. Passados oito anos, Camilo experimenta o mesmo nocaute do pai, perdendo as eleições com uma gigantesca diferença de votos.

Ele foi derrotado em 15, dos dezesseis municípios do Amapá em um processo que confirmou sua rejeição desde o primeiro turno de acordo com as pesquisas tabuladas principalmente pelo Ibope. Os resultados, no entanto, sempre foram rechaçados pelo governador que buscava a reeleição, quanto por sua coordenação de campanha e militância. Chegou a ter atribuída a ele uma postagem nas redes sociais incentivando a desqualificação do instituto.

Apostou também na desqualificação do principal opositor adotando uma estratégia de ataques ininterruptos onde o mote foi a duvidosa operação da Polícia Federal deflagrada em 2010 e que lhe colocou de presente as rédeas do Amapá nas mãos. Nas inserções do horário político, as propostas sempre foram segundo plano.  
Por outro lado, a população deixava claro seu posicionamento de repulsa a ataques, o que foi ignorado. O resultado do que ocorreria nas urnas foi se definindo a cada dia e também deixado de lado pelo socialista que ignorou as massas.

Minutos após a derrota maçante, o próprio Camilo reconheceu que governou afastado do povo, mas já era tarde demais. O despertar para um contato com a realidade veio atrasado. Cercado dos aliados naturais e da família reconheceu que estava na população, a verdadeira força para recoloca-lo no poder, e não no poder que tinha.
O reconhecimento de um dos principais motivos que o levaram à derrota faltou na hora do diálogo, por exemplo, com três das principais categorias profissionais que fazem funcionar a máquina pública; educadores, médicos e policiais. Com todos ele agiu com mãos de ferro. Ignorou reivindicações dos professores judicializando as discussões e aplicando multa ao sindicato da categoria. Ainda cortou o ponto de quem insistia em participar do movimento. Muitos profissionais acabaram ficando sem salário por conta da represália. Ano passado veio o pior. A regência de classe garantida por lei foi incorporada ao salário no que os professores batizaram de golpe e manobra para poder chegar ao piso da classe.

Ao protestarem na Assembleia Legislativa foram retirados à força e espancados. O governador, a partir de então, se negou a conversar sobre o assunto. Chegou a retirar R$ 4 milhões da Universidade Estadual para serem usados em propaganda com a qual gastou nada menos que R$ 28 milhões.

Com os médicos não foi diferente. A perseguição começou pelos plantões que foram cortados. Alguns profissionais chegaram a ser levados a depor na polícia política criada na gestão de Camilo, camuflada como Delegacia de Combate a Crimes de Corrupção, mas que só perseguiu desafetos do governador. Em nível nacional, o caos na saúde foi mostrado várias vezes em telejornais de repercussão, assim como os escândalos da falta de licitação para aquisição de medicamentos e equipamentos.

A gestão de Camilo optou pelos contratos emergenciais ignorando a Lei das Licitações e concentrando as compras nas mãos de empresas “amigas”. A situação foi denunciada várias vezes pelo Tribuna Amapaense. Com o passar do tempo, a rotatividade de secretários foi acentuando outra crise paralela à educação. Pelo menos seis secretários passaram pela Secretaria de Estado da Saúde. Maioria acabou investigada.

Além dos secretários investigados por condutas duvidosas na gestão da SESA, Camilo Capiberibe optou por colocar condenados para ocupar os cargos, contrariando mais uma lei, a Ficha Limpa. Na situação de condenados estão Lineu Facundes, Olinda Consuelo e Jardel Nunes. Enquanto isso pacientes sofriam com a falta de exames nos hospitais públicos e equipamentos quebrados que aumentavam o tempo de espera nas filas. Também não encontravam medicações básicas.

O Tribunal de Contas da União elaborou um relatório onde expôs um panorama da situação. Nele, tornou público irregularidades como o superfaturamento. Em um dos casos, uma medicação que custava R$ 48 era comprada pelo governo por R$ 1.900. 
No trato com a polícia, a gestão de Camilo não foi diferente. Investigações interrompidas por falta de veículos, peças de reposição e combustível. Delegacias sem condições de trabalho dificultava a ação de agentes e delegados. Dois Centros Integrados de Operações em Segurança Pública (Ciospes) foram fechados. O único que permaneceu em funcionamento foi o do bairro Pacoval. Mesmo assim, muitas ocorrências deixaram de ser registradas por falta de papel.

O sindicato da categoria redigiu e divulgou carta aberta detalhando a precariedade com farto material fotográfico. Pouco tempo depois, delegados entregaram cargos que tinham na gestão, em sinal de protesto.

Mas a rejeição do governador foi acentua já a partir do segundo ano chegando a 80%. Ele foi vaiado em vários eventos públicos e passou a evita-los mandando representantes. Em meio a tanta turbulência inaugurou o asfaltamento de um ramal praticamente sem movimentação de veículos e protagonizou aquela pode se transformaria em uma das maiores gafes de seu governo, um busto dourado colocado no acesso do Bacabinha foi a peça chave do evento e até hoje serve de piada em rodadas populares. Para analistas políticos, Camilo foi um gestor mal assessorado que teria preferido se cercar de bajuladores em vez de profissionais capacitados. Isto explicaria a razão de tantas falhas.

A crise continuou ainda mais agravada com as denúncias contra a esposa Cláuda Capiberibe, apontada por assessores como mentora de um esquema de propina existente na gestão. Seria ela que mantinha empresas prestadoras de serviços em troca de altas quantias. Tudo denunciado em gravações de vídeo divulgadas em nível nacional. Frente a tantos escândalos, a rejeição de Camilo se manteve até a eleição. Ele foi para o segundo com uma desaprovação de 51%.


Depois da derrota de domingo, 26 de outubro, Carlos Camilo Góes Capiberibe entra para a história política do Amapá como o governador que não se reelegeu e ainda teve a maior rejeição já enfrentada em uma gestão. O pai, João Alberto Capiberibe também conseguiu um lugar na história como o primeiro senador do Brasil cassado por compra de votos, ao lado da esposa Janete, que ainda tem satisfações a dar ao Tribunal de Contas do Estado por irregularidades cometidas em 2001, segundo auditoria do TCE. Os Capiberibe deixam mais uma vez sua digital na trajetória do Amapá em uma página que o povo fez questão de virar para passar à frente. 

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