Bandidagem
amapaense recebe armas de fora do Estado
Reinaldo Coelho
Um terço das cidades brasileiras com maior índice de
homicídios está na Amazônia, que tem o menor e menos equipado efetivo policial
do país. Pela sua peculiaridade os estados amazônicos possuem milhares de
igarapés, riachos e rios o que facilita o acesso dos traficantes de drogas e
armamentos. As mortes por armas de fogo no Amapá têm crescido assustadoramente
e esses armamentos estão chegando com facilidade nas mãos da bandidagem. O
problema está na falta de controle sobre o mercado das armas e seu contrabando
para o Amapá.
O aumento dos homicídios pode ser relevante, mas
também pode ser ínfimo, diante do universo de armas ilegais que circulam no
Estado. E esse é o grande gargalo da ação de inteligência da Polícia. O mercado
do contrabando está longe de ficar sob o controle do Estado. A população está
se morta, sem condições de defesa, pois desconhece o arsenal que o Estado
possui. O uso de arma deixou de ser exclusividade do sistema de segurança e
daqueles que têm porte de arma. Ele está disseminado na sociedade.
Do Pará aonde os cartéis de traficantes tem seus
domínios, chegam ao Amapá às drogas e armamentos e entram pelos portos de
Santana, Pedrinhas e Igarapé da Fortaleza. Também chegam pelas regiões de
fronteiras, como do Suriname de onde vêm às embarcações com
droga, o contrabando de armas, bebidas, cigarros e animais silvestres.
Essa comprovação acontece com os dados fornecidos
pelo Mapa da Violência de 2014, o Amapá em 2010 teve 106 homicídios por armas
de fogo e em 2014 até esta semana já tivemos o mesmo numero, ou seja, esse tipo
de crime vem crescendo assustadoramente.
O aparato policial estadual não está totalmente
aparelhado para combater o contrabando de armamentos na fronteira amapaense. De
acordo com informações dos órgãos de segurança pública as armas usadas por
bandidos no Amapá são trazidas por criminosos do estado do Pará e da Guiana
Francesa, pelas vias terrestre e fluvial, através de pequenas embarcações que
aportam nas áreas de fronteira.
A base dessa afirmação acontece pela identificação
que passam
por perícia na Polícia Técnico-Científica do Amapá (Politec). Elas possuem um
registro que identifica suas origens. Com base nas últimas apreensões,
geralmente as mais recebidas são a pistola e o revólver calibre 38.
O número de mortes por arma de fogo no Amapá
aumentou no primeiro semestre de 2014, na comparação com o mesmo período de
2013, segundo a Polícia Militar (PM). De janeiro a junho, foram registrados 69
óbitos, seis a mais em relação ao ano anterior. Deste número, 42 homicídios
ocorreram em Macapá.
Porém esses números já cresceram, 106 homicídios ( 2
culposos ) sendo que 65 em Macapá. No
mesmo período do ano passado foram 86 homicídios, 51 em Macapá. Sendo que deste
total foram 103 do sexo masculino 3 do sexo feminino.
O comando da PM informou que nos dados divulgados
pela corporação estão incluídos vítimas de assaltos seguidos de morte (latrocínio)
e assassinatos, além de mortes em confronto com a polícia.
Apreensões
O comércio das armas também é determinante no
crescimento de crimes como ataques a banco. Por este motivo, o crescimento das
apreensões é importante. Esse mercado de venda clandestina de armas é um dos
mais rentáveis que existe. É motivador para ações como assaltos a banco, já que
eles buscam levantar recursos para financiamento e aquisição de novas armas.
Este ano a Polícia Militar do Amapá já apreendeu 255
armas, entre caseiras, industriais e simulacros (armas de brinquedo). Boa parte
dessas armas foi encontrada com infratores menores de idade. Mas segundo a PM,
a maioria dos assaltos é cometida por menores portando armas de verdade. Apenas
10% se arriscam a assaltar com armas de brinquedo.
De acordo com a assessoria de comunicação da PM. As
armas apreendidas ficam sob responsabilidade da Justiça e depois são
encaminhadas ao Exército para serem destruídas.
Geralmente as armas são apreendidas durante
abordagem e revistas em suspeitos. No ano passado335 armas saíram das ruas.
Segundo a PM, o infrator que for pego com arma de brinquedo dificilmente será
responsabilizado. “O infrator é responsabilizado pelo dano psicológico. Claro
que o juiz é quem vai decidir o caso com base nas provas, mas dificilmente o
infrator é preso. Mesmo porque não existe legislação pra isso”, ressaltou o
tenente da Divisão de Comunicação da PM, Emerson Real.
Para a PM, o alto índice de apreensão de armas
significa mais segurança para a população, já que os criminosos dificilmente
agem desarmados.
O crescimento da apreensão indica que há um maior
número de armas de fogo circulando na cidade, embora seja ainda uma avaliação
preliminar. “O que se pode dizer, com certeza, é que há um crescimento das
operações policiais focadas na repressão, que resultam em apreensões de armas”,
explica. Segundo ele, até blitz de trânsito gera apreensão de armamentos, pois
o policial é orientado a verificar a documentação, a situação do condutor
principalmente em relação ao consumo de álcool e as condições do veículo.
Portes de arma de fogo por
estado
O gráfico ao lado demonstra
como estão distribuídas as autorizações de porte de arma de fogo em cada
estado. Curioso constatar que o Distrito Federal possui
uma taxa de autorizações de porte de arma de fogo muito superior a taxa
nacional de 1,85 portes a cada 100 mil habitantes. Isso representa 7,2 vezes a
taxa nacional, e é mais de 25% superior a taxa do segundo colocado, Mato
Grosso.
Apenas para deixar claro:
PORTE de arma é a autorização que uma pessoa possui para ANDAR ARMADA, ou seja,
ter a arma de fogo pronta para uso imediato em qualquer lugar (nas ruas, em sua
casa, sítio, fazenda, no shopping e em qualquer outro local).
Diferente da POSSE de
arma, que significa apenas a propriedade da mesma, sem o direito de andar com
ela.
A POSSE dá direito ao
proprietário da arma usa-la apenas em sua casa ou seu local de trabalho. Já o
PORTE dá direito ao proprietário a usar a mesma em qualquer local.
Amapá é o
5° mais violento do país
Os dados são do estudo "Mapa da Violência 2012
- Os Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil", coordenado pelo
sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, de São Paulo. O estudo
mostra que em 2010 o Amapá foi o 5º estado mais violento do país, com uma taxa
de assassinatos de 38,7 por 100 mil habitantes.
Enquanto Macapá é a 36ª cidade mais violenta do
planeta, Porto Grande, Laranjal do Jari e Santana já ostentam taxas de
homicídios superiores à média nacional, de 26,2 por 100 mil habitantes.
Em três décadas, a taxa de assassinatos no interior
do Amapá cresceu 950%. Passou de 2,4 homicídios por 100 mil habitantes, em
1980, para 25,2 em 2010. Além da capital, Macapá, considerada a 36ª cidade mais
violenta do planeta, pelo menos outros três municípios do estado já ostentam
taxas de homicídios superiores à da média nacional, de 26,2 por 100 mil
habitantes: Porto Grande, Laranjal do Jari e Santana.
De acordo com a pesquisa, a epidemia da violência
consolidou-se não apenas na capital, que concentra 60% da população. Mas
alastrou-se por Santana, com cerca de 100 mil habitantes, e chegou a pequenos
municípios onde há dez anos não havia registro de nenhum homicídio.
Santana, a segunda maior cidade do estado, com
101.262 habitantes, já era violenta com os 21 assassinatos de 2000 e registrou
30 mortes em 2010 - a taxa de homicídios, que era de 26,1 em 2000, pulou para
29,6 em 2010.
A epidemia da violência também chegou a Laranjal do
Jari, com população 39.942 pessoas, que não havia registrado nenhum homicídio
em 2000. Mas os 14 assassinatos ocorridos em 2010 elevaram a taxa para 35,1.
O mesmo fenômeno ocorreu em Porto Grande, com 16.809
habitantes, onde o número de homicídios saltou de zero, em 2000, para sete em
2010. Com isso, a taxa chegou a 41,6 assassinatos por 100 mil habitantes, atrás
apenas da capital, Macapá, que registrou 195 homicídios em 2010 contra 131 em
2000, com uma taxa de 49,0.
No Brasil - nos últimos 30 anos, a violência
praticamente dizimou uma cidade inteira de grande porte. Cerca de 1,1 milhão de
pessoas foram vítimas de homicídio. A média das últimas três décadas é de
quatro brasileiros assassinados por hora. Só em 2010, foram mortas 50 mil
pessoas, numa contabilidade mórbida de 137 assassinatos por dia.
"Para se ter uma ideia da tragédia, só 13
cidades brasileiras têm população que ultrapassa 1 milhão. Se matou no Brasil
muito mais gente do que em países onde há conflito armado", disse Júlio
Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência 2012.
Pequenas
cidades subvertem lógica da morte
Laranjal do Jari |
O dado mais preocupante do Mapa da Violência 2012
revela que em 2000 o Amapá tinha apenas cinco de seus 16 municípios com
registros de homicídios: Macapá, Santana, Oiapoque, Mazagão e Serra do Navio.
Em 2010, a situação se inverteu e somente cinco municípios não registraram
nenhum homicídio: Serra do Navio, Pedra Branca do Amapari, Pracuúba, Itaubal e
Vitória do Jari.
De acordo com as tabelas do Instituto Sangari, além
de Macapá, Porto Grande, Laranjal do Jari e Santana, pelo menos outros seis
municípios do Amapá saíram do índice zero e já apresentam dois dígitos em suas
taxas de assassinatos: Calçoene (22,2); Cutias do Araguari (21,3); Oiapoque
(19,5); Mazagão (17,6); Ferreira Gomes (17,2); e Amapá (12,4). Tartarugalzinho
aparece na lanterna do rangking, com taxa de 8,0 de homicídios por grupo de 100
mil habitantes.
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